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Como o mercado viu a sinalização de Lula sobre futuro ministro da Fazenda

Em coletiva de imprensa, Lula disse que nome da Fazenda deve seguir "sucesso" de seu primeiro mandato

Como o mercado viu a sinalização de Lula sobre futuro ministro da Fazenda
Lula concedeu coletiva no CCBB de Brasília, sede da transição do governo. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
  • O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou de uma coletiva de imprensa nesta sexta-feira (02), em Brasília, onde deu mais indícios sobre as negociações da transição entre governos e seu novo mandato
  • Entre as sinalizações, Lula disse que o futuro ministro da Fazenda vai ter um perfil que reflita o “sucesso” de seu primeiro governo entre 2003 e 2006
  • Na visão do mercado, que cobra a definição do nome, pronunciamento não traz nada de novo

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou de uma coletiva de imprensa nesta sexta-feira (02), em Brasília, onde deu mais indícios sobre as negociações da transição entre governos. Entre as sinalizações, Lula disse que o futuro ministro da Fazenda vai ter um perfil que reflita o “sucesso” de seu primeiro governo entre 2003 e 2006. Veja mais detalhes da coletiva. 

O nome que vai comandar a pasta pelos próximos quatro anos é uma das grandes incertezas do mercado. O receio, que vem penalizando a bolsa de valores desde que o tema entrou em pauta, é de que o indicado lidere políticas de maior gasto social, o que poderia agravar o endividamento do País e a saúde das contas públicas. Mostramos nesta reportagem quem são os nomes preferidos do mercado.

“O ministério tem autonomia, tem um monte de coisa, mas quem ganhou a eleição fui eu. Quero ter inserção nas decisões de economia neste país. Sei o que é bom para o povo, sei o que é bom para o mercado”, afirmou Lula.

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O presidente eleito disse ainda que a composição ministerial já está 80% “na cabeça”, mas que só será anunciada após a diplomação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), marcada para o próximo dia 12. Veja o que esperar do Ibovespa até lá. 

A fala frustrou as expectativas de quem está à espera da definição. “O discurso não esclareceu os pontos que o mercado vê com importância, como o perfil ou até mesmo o nome do ministro da Fazenda, o que acaba frustrando os investidores”, destaca a equipe de analistas da Terra Investimentos.

Mesmo que as atenções do mercado doméstico estivessem voltadas à coletiva do presidente eleito, as falas não causaram grande impacto na bolsa. Às 13h14, logo após o discurso, o Ibovespa registrava alta de 1,55%, aos 112.649,69 pontos.

Sem grandes novidades para o mercado, outros dois pontos também foram destaque na coletiva de Lula desta sexta, dizem as fontes ouvidas pelo E-Investidor. O primeiro, a fala de que a deputada federal e líder do PT Gleisi Hoffmann não será ministra. O segundo, a sinalização de que não haverá espaço no valor aprovado para a PEC de Transição para emendas do Orçamento Secreto, como parte do Congresso e Senado gostaria.

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Erich Decat, head do time de análise política da Warren Renascença, explica que, nos bastidores, vários setores do Congresso e em especial as lideranças do centro estão pressionando para que, dentro dos recursos a serem liberados pela PEC, estejam R$ 8 bilhões em emendas. “Lula disse hoje que na PEC não há espaço para isso. É um ponto sensível e que chama muita atenção, porque pode ser um atrito para as negociações avançarem”, afirma.

Veja a repercussão da fala de Lula no mercado:

Acilio Marinello, coordenador do MBA em Digital Banking da Trevisan Escola de Negócios

“Primeiramente, Lula formalizou que Gleisi Hoffman não fará parte do governo, mantendo-se à frente do Partido dos Trabalhadores. Em segundo lugar, o presidente eleito comentou que conversou com lideranças políticas, principalmente dos partidos que não foram apoiadores de sua campanha e não são da base de apoio do futuro governo. Isso é um sinal positivo, porque Lula pode estar buscando articulações para talvez oferecer cargos relevantes para estes partidos, para conquistar mais apoio e melhorar a governabilidade no primeiro ano, que é um ano muito desafiador para qualquer governo.

A terceira informação, e a mais relevante, é de que Lula não fará nenhum anúncio antes da diplomação pelo TSE, no dia 12. Então, nos próximos dias há a previsibilidade de que qualquer informação é pura especulação. O mercado deve se acomodar com esta previsibilidade, de não surgir nenhum nome neste período. Isso tende a acalmar os ânimos. No momento em que houve a fala, a Bolsa teve uma pequena queda, mas a tendência já está novamente em alta.”

André Luzbel, head de renda variável da SVN Investimentos

“A fala do presidente eleito não trouxe muitas novidades. Mas, se fosse para extrair alguma conclusão, eu diria que ele reiterou o que já se esperava do governo eleito, ou seja, a expectativa de que gaste mais do que se espera arrecadar, gerando déficits anuais.

Lula ainda reforçou que vai voltar a utilizar o BNDES como um banco de fomento e esse dinheiro precisa vir de algum lugar. Mais um ponto no qual ele reitera que não se apegará tanto às contas públicas. Falou também de Banco do Brasil e Petrobras, mas não trouxe nenhuma novidade, só reiterou aquilo que o mercado já espera: um governo mais intervencionista e mais gastador.

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Isso é negativo por si só, o mercado estava subindo mais do que está agora, o dólar também subiu bastante ao longo da fala dele. A percepção continua bem negativa em relação ao que ele pretende fazer.”

Bruno Monsanto, sócio e assessor de investimentos na RJ InvestimentosComo o mercado viu a

“A fala de Lula no CCBB foi vaga como a maior parte de suas falas durante a campanha. ‘Precisamos crescer, não podemos ter inflação, o Brasil vai voltar a sorrir…’ O mercado já está precificando essa falta de clareza sobre o ‘como’. E quanto mais adia o anúncio de nomes e planos claros, mais o mercado cobra.

A única afirmação clara, de que a presidente do PT Gleisi Hoffman não assumirá nenhum ministério pode ser positiva pois, do contrário, a resposta do mercado poderia ser ainda mais negativa do que a precificação de Haddad na Economia. A repercussão também pode ser atenuada pois, no País do futebol, bem ou mal, as atenções estão divididas com o jogo da seleção.”

Erich Decat, head do time de análise política da Warren Renascença

“Havia uma expectativa no mercado de novas informações a respeito da montagem ministerial e também em relação à PEC, principalmente depois de uma semana do Lula em Brasília avançando em algumas negociações. Isso não aconteceu, o que mostra que o presidente eleito precisa de mais tempo para encaixar as peças no tabuleiro, especialmente as que envolvem essas duas questões. A principal informação é essa: 80% está pronta, mas ele ainda precisa de tempo para fazer esse ajuste fino, o que é natural na política.

Em relação à PEC, ele manteve a jogada que é comum a algumas lideranças do PT: jogar alto para colher um meio termo, o que, pelas conversas que temos no Congresso, dialoga com um valor de R$ 125 bilhões, bastante abaixo do R$ 198 bi inicialmente proposto.

Tem um outro ponto muito importante na fala dele que é a questão das emendas. Nos bastidores, vários setores do Congresso e em especial as lideranças do centro estão pressionando pela liberação de R$ 8 bi em emendas. Querem um desenho em que parte do recurso liberado para o governo também os atenda. Mas o Lula disse hoje que na PEC não há espaço para isso – um ponto sensível e que chama muita atenção, porque pode ser um atrito para as negociações avançarem.”

Equipe de analistas da Terra Investimentos

“O discurso do presidente eleito Lula não esclarece os pontos que o mercado vê com importância, como o perfil ou até mesmo o nome do ministro da Fazenda, o que acaba frustrando os investidores. Lula voltou a dar foco sobre políticas sociais, considerando que é a pauta de mais relevante para sua base eleitoral. O mercado olha com receio essa questão, pois, invariavelmente, significa aumento de gastos.

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Por fim, o discurso apenas mexe um pouco com a expectativa de mercado, sem alterações concretas.”

Gustavo Cruz, estrategista da RB investimentos

“Entendo que as falas do Lula colocam uma pressão no Congresso para que seja aprovada a PEC da transição, que ele está entendendo como muito importante e urgente para que seja um governo que comece bem aos olhos dele.

O discurso trouxe talvez dois sinais: o primeiro é que a Gleisi não será ministra, o que é bem visto pelo mercado já que ela é tida como uma pessoa muito tempestuosa e de difícil negociação política. O segundo é que Haddad deve ser de fato o ministro da Economia, o que não é visto positivamente por quase ninguém do mercado financeiro.”

Juan Espinhel, especialista em investimentos da Ivest

“Sem muita novidade no discurso. Já estávamos esperando o anúncio dos ministros, que só deve sair na próxima semana. Isso está vinculado com a PEC, enquanto as negociações da proposta não destravarem, muito provavelmente a gente não vai ter um avanço no anúncio nos Ministérios.

Também fica claro que isso é um jogo político no sentido de não ter um motivo para divulgar quem vai ser o ministro da Economia agora, porque ele vai virar um alvo. Dentro do ministério, muito provavelmente não vai ser um um nome de mercado, uma pessoa mais técnica. Vai ser alguém de dentro do partido ou algum dos aliados.”

Mario Goulart, analista de investimentos e criador do perfil “O Analisto”

“A frase marcante de Lula foi dizer que o ministro da Economia terá o perfil de quem ocupou a cadeira nos primeiros governos dele, o que faria a gente imaginar que seria alguém mais ameno ao mercado. Continua ainda se falando em Haddad, mas eu não vejo como ele pode ser identificado como um perfil mais pró-mercado.

O Haddad é um especialista em economia soviética e materialismo histórico, pelas credenciais acadêmicas. Como ministro da Educação, foi uma lástima. E o governo dele foi desastroso em São Paulo. Como Lula quer alguém de mais perfil de sucesso, podemos imaginar pessoas com credenciais mais sólidas.”

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