- Além da pandemia da covid-19, a turbulência política do País, a forma como o presidente Jair Bolsonaro encara a pandemia e os cortes na Selic impulsionaram a desvalorização
- JPMorgan, Goldman Sachs e HSBC são menos otimistas que o Banco Central quanto à recuperação da moeda brasileira
- Investidores estrangeiros acreditavam no País no começo do ano e agora estão fugindo devido ao cenário conturbado
Desde o começo do ano, o real foi a moeda que mais se desvalorizou no mundo em relação do dólar. E este cenário deve chegar a um novo patamar já a partir de junho, segundo a projeção de três grandes bancos estrangeiros ouvidos pelo Financial Times: um dólar cotado a R$ 6.
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A projeção mais pessimista é do JPMorgan, que projeta a barreira dos R$ 6 superada já no próximo mês. Para o Goldman Sachs, em três meses a moeda americana já será negociada acima de R$ 6. Enquanto isso, os analistas do HSBC elevaram sua previsão para o dólar no final do ano de R$ 4,90 para R$ 6,20.
A previsão estrangeira contrasta com a corrente no mercado brasileiro. Segundo o último boletim Focus, divulgado na última segunda feira (18) pelo Banco Central, a expectativa é de que o dólar encerre o ano cotado a R$ 5,28.
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Vale ressaltar, no entanto, que apesar de alto valor nominal especulado pelas instituições, caso a cotação realmente suba a estes patamares, o dólar estará longe do seu valor máximo real. No dia 21 de outubro de 2002, por exemplo, a cotação nominal da moeda americana foi de R$ 3,96. Porém, com o poder de compra ajustado, o valor real hoje seria de R$ 7,64.
Alta do dólar já é superior a 40% em 2020
O dólar começou o ano cotado a R$ 4,02. Na terça feira (19) – depois de já ter atingido o pico de R$ 5,97 cinco dias antes -, a moeda já tinha acumulado alta superior a 40% no ano. O Financial Times vê uma conjunção de fatores por trás da desvalorização da moeda brasileira, mais acentuada que a vista em outros países emergentes devido a pandemia da covid-19.
A turbulência política interna, controle da inflação, a forma como o presidente Jair Bolsonaro encara a pandemia e a baixa atratividade recente no País devido aos sucessivos cortes na taxa básica de juros (Selic) engrossam a lista de motivos. “O Brasil tem altos riscos políticos e, enquanto isso, as taxas de juros são muito baixas”, disse Xueming Song, gerente de portfólio do DWS Group, ao FT.
Dessa forma, segundo a publicação, a desvalorização da moeda deve continuar. “É improvável que o ritmo de declínio que vimos continue, mas esperamos que o real enfraqueça um pouco mais”, afirma Song.
A reportagem destaca que antigamente os investidores aceitavam os conflitos políticos internos devido às altas taxas da Selic, que faziam suas aplicações renderem mais. No entanto, em um ambiente de baixa histórica e com mais cortes no radar, o enfraquecimento do real foi impulsionado.
Investidor estrangeiro perdeu a esperança no Brasil
O Financial Times ainda aponta que os investidores internacionais tinham citado o Brasil como uma de suas apostas favoritas para o ano de 2020. Isso aconteceu devido às boas críticas que o ministro Paulo Guedes recebeu ao longo de 2019 de gestores internacionais após a divulgação da sua agenda com reformas ambiciosas.
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Havia até um consenso de que a economia brasileira poderia crescer 2% até o fim do ano. Menos de seis meses depois, no entanto, a história mudou completamente. A reportagem elenca a queda do protagonismo de Guedes, o risco de Bolsonaro sofrer impeachment e o Brasil ser o terceiro país com mais casos de coronavírus confirmados como alguns dos motivos que contribuíram para o cenário previsto virar do avesso.
“A história do Brasil recebeu um grande chute nos dentes”, disse Luis Costa, estrategista do Citibank, ao FT. Como a projeção agora é que a economia brasileira recue ao menos 5,3% no ano, ainda há muito chão pela frente e, na visão do jornal, tudo pode piorar antes de melhorar.