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Mercado

Saída de Moro faz Bolsa desabar; entenda efeitos para o mercado

Especialistas veem risco de piora de indicadores econômicos e até fim de ajuste fiscal

Saída de Moro faz Bolsa desabar; entenda efeitos para o mercado
Sergio Moro, ex-ministro da Justiça (Foto: Adriano Machado/Reuters)
  • Com anúncio oficial de saída de Moro, Ibovespa caiu mais de 6%, chegando a 74.681 pontos às 11h23
  • Segundo analistas, mudança no cargo traz instabilidade: juros futuros e dólar devem subir
  • Investidores devem ser ainda mais cautelosos neste momento, na visão de especialistas

O mercado financeiro vive mais um dia de caos com o anúncio da saída do ministro da Justiça Sergio Moro do governo.

Nesta sexta-feira (24), o ex-juiz da Lava Jato confirmou seu pedido de demissão em pronunciamento depois da decisão do presidente Jair Bolsonaro de exonerar Maurício Valeixo do posto de diretor-geral da Polícia Federal. Ele havia sido indicado por Moro.

O anúncio faz o Ibovespa cair mais de 6%, chegando a 74.681 pontos às 11h23, e o dólar atingir o patamar de R$ 5,60, em novo recorde. Na quinta-feira, com os rumores da saída de Moro, a Bolsa já encerrou o dia em queda de 1,26%, aos 79.673 pontos. E o dólar já havia pulado de R$ 5,42 para R$ 5,53.

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A demissão é o último capítulo da passagem do outrora “superministro” de Bolsonaro pelo governo, com um longo histórico de rusgas. Agora, a ruptura com Moro é muito mais danosa ao presidente do que era antes da crise do coronavírus.

“Bolsonaro aparece isolado, sem (o ex-ministro da Saúde José Henrique) Mandetta, com recessão e desemprego à vista. Sergio Moro é a figura-símbolo da Operação Lava-Jato e sua saída vai derrubar ainda mais a popularidade do presidente”, prevê Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos.

‘Guedes provavelmente será o próximo a cair’

A economista teme que a crescente impopularidade leve Bolsonaro a abandonar de vez a política econômica que vinha sendo desenhada. “Se esse plano emergencial for levado adiante, vai acabar com o teto de gastos e toda a estrutura fiscal construída na gestão de Michel Temer”, alerta. “Ele foi lançado sem a participação da equipe econômica. Paulo Guedes desapareceu e provavelmente será o próximo a cair.”

O economista Rodrigo Moliterno, sócio da Veedha Investimentos, diz que Moro e Guedes são peças-chave do governo Bolsonaro. Para ele, a saída de Moro produz efeitos muito negativos para o mercado.

“Quando a briga de Bolsonaro era com (o presidente da Câmara) Rodrigo Maia, tudo bem, era uma disputa entre poderes. Mas, quando há uma ruptura dessa magnitude dentro da própria estrutura do governo, a falta de credibilidade é muito grande. Isso passa um desconforto enorme para o investidor”, afirma.

Aumento dos juros futuros e disparada do dólar

O economista enumera como consequências imediatas o aumento dos juros futuros e uma acentuada desvalorização do real, com o dólar podendo romper a barreira dos R$ 6 e até dos R$ 7.

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A moeda norte-americana, ele lembra, já vem sendo pressionada com mais força desde que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, passou a flertar abertamente com um cenário de taxa Selic a 3%. Isso deixaria o mercado brasileiro ainda menos atrativo para o investidor estrangeiro, intensificando a fuga de dólares.

De acordo com a economista-chefe da ARX Investimentos, a Bolsa de Valores tende a ser ainda mais impactada com a saída de Sergio Moro se vier acompanhada de um afrouxamento da política econômica.

“Os ativos de risco já vinham performando muito mal, com o aumento do prêmio de risco fiscal. (A saída de Moro) atrapalha a curva de juros e a Bolsa, e o dólar sobe”, explica Solange. “Isso dificulta ou até impede a retomada da economia, mesmo com uma política de estímulos. O empresário perde a confiança, não sabe se o governo termina ou não, se embarca em um populismo econômico.”

Eleições e impeachment

Na opinião de Conrado Magalhães, analista político da Guide Investimentos, ainda que o pedido de demissão tenha provocado ruídos imediatos na Bolsa e no dólar, o investidor já está acostumado à estratégia de Bolsonaro de buscar o confronto para manter sua base eleitoral engajada.

Ele pondera, no entanto, que a ausência de Moro pode ter desdobramentos mais complicados para o governo no médio e longo prazo.

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“Sem Moro no governo, será que Bolsonaro conseguiria se reeleger, ou isso abriria espaço para candidaturas de esquerda?”, ele indagou antes do anúncio de Moro sobre sua saída. “Além disso, os inimigos políticos dele se sentiriam fortalecidos para continuar buscando o seu impeachment.”

Investidor deve ser ainda mais cauteloso

Solange Srour diz que o risco do cenário permaneceria até mesmo com a continuidade de Moro no governo. “O Brasil vai carregar esse prêmio alto por algum tempo, porque não tem um governo organizado e não sabe se o ajuste fiscal vai perdurar.”

Em meio a esse turbilhão de volatilidade, o investidor deve ser extremamente cauteloso em seus próximos passos, tanto ao entrar como ao sair do mercado.

“Se você não precisa de liquidez imediata, respire fundo e fique onde está”, recomenda a economista. “A disparada do dólar vai mostrar a Bolsonaro que suas atitudes estão sendo precificadas pelo mercado e afetando sua popularidade”, completa.

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