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- Entre janeiro de 2019 e julho de 2020, os papéis da Sea (SE, NYSE) saltaram 979%, passando de US$ 11,12 para US$ 122,20
- O desempenho rendeu ao conglomerado asiático sediado em Cingapura o título de player de grande capitalização (com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão) mais valorizado do mundo, segundo a Bloomberg
- O conglomerado é dono de um marketplace que desembarcou no Brasil há pouco mais de dois anos e já virou queridinho: a Shopee. Paralelamente, a empresa também é responsável pelo jogo Freefire
Os papéis da Sea Ltd. (SE, NYSE) saltaram 979%, passando de US$ 11,12 para US$ 122,20 entre janeiro de 2019 e julho de 2020. O desempenho rendeu ao conglomerado asiático sediado em Cingapura o título de player de grande capitalização (com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão) com as ações mais valorizadas do mundo no período, segundo a Bloomberg.
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Tamanha valorização levantou a dúvida no mercado se a companhia não seria a principal representante de uma eventual ‘bolha’ que estaria se formando no segmento de tecnologia. Por ora, a tendência de alta continua, apesar do ritmo mais lento.
De julho de 2020 até a última segunda-feira (26), a ação SE registra apreciação de 170,16%, aos R$ 289,72. Desde o IPO, no final de 2017, o ganho vai para 1681,8%. Mas o que é a Sea Limited, que deixou para trás papéis de ‘big techs’ e empresas consideradas ‘disruptivas’ como a Tesla?
Shopee e FreeFire
O conglomerado é dono de um marketplace que desembarcou no Brasil há pouco mais de dois anos e já virou queridinho: a Shopee. De acordo com levantamento do Relatório E-commerce no Brasil, da agência Conversion, o braço varejista da Sea cresceu 1954% na pandemia, entre março de 2020 e março de 2021 – o maior crescimento registrado no segmento de ‘importados’.
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Paralelamente, o grupo também foi responsável pela criação de um game para telefone celular de muito sucesso, FreeFire, que alcançou 1 bilhão de downloads no Google Play. “A Sea tem três grandes divisões: a de entretenimento, que é extremamente robusta, a de e-commerce, cuja principal marca é a Shopee, e a de meio de pagamentos, com a SeaMoney”, explica Luiz Claudio Dias Melo, sócio-diretor da consultoria 360 Varejo.
Com um valuation de US$ 143 bilhões, a empresa alcançou no 1º trimestre de 2021 uma receita de US$ 1,8 bilhão, um aumento de 146% em relação ao mesmo período do ano passado. O lucro bruto total foi de US$ 645,4 milhões, um salto de 212% em comparação a 2020.
No segmento de e-commerce, cujo principal representante é a Shopee, houve um crescimento de 250% na receita, de US$ 263 milhões no 1º trimestre de 2020 para US$ 922,3 milhões no 1º trimestre de 2021. O GMV (Volume Bruto de Mercadorias), métrica importante para o varejo, cresceu 103,2% em 12 meses e atingiu US$ 12,6 bilhões.
“É uma empresa de alta expansão, um crescimento estrondoso, com caixa robusto, um lucro bruto fantástico apresentado nesse último trimestre”, afirma Melo. “Mas quando olhamos o cenário brasileiro, vemos características que podem acirrar a competição com a Shopee.”
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Mesmo com o crescimento do setor varejista, o braço de entretenimento digital é o grande motor para a companhia. O EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado desse segmento foi de US$ 717,3 milhões, a única divisão com essa métrica positiva, e os usuários pagantes dos games cresceram 123,5%, chegando a 79,8 milhões.
“Apesar de exposta ao setor de e-commerce graças à sua posição na Shopee, as ações da Sea Group negociam mais próximas às do setor de games. Essa combinação vem funcionando bem, o que fez com que as ações superassem a performance tanto de varejistas quanto de companhias de games em 2021, além de terem sido menos penalizadas no auge da pandemia”, afirma Rodrigo Lima, Analista de Investimentos e Editor de Conteúdo da Stake.
Mas cadê o lucro líquido?
Por incrível que pareça, apesar dos números robustos, a Sea Limited ainda não teve um centavo de lucro líquido nos últimos anos. O EBITDA do e-commerce também está negativo.
“Olhando especificamente para a Shopee, a margem bruta ainda está negativa. Quando comparamos com Amazon e Mercado Livre lá nos anos 2000, quando iniciaram, as empresas já geravam margem bruta consistentemente positiva”, afirma Ana Paula Tozzi, CEO da AGR, ressaltando que a Shopee começou em meados de 2015.
Outra característica é que a maior parte dos custos da Shopee são variáveis sobre a receita – o que, segundo Tozzi, restringiria o ganho de escalabilidade, quando o volume de pedidos e faturamento crescem e os custos da operação diminuem.
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“A operação logística da Shopee é totalmente terceirizada. A Amazon, por exemplo, opera com frota própria, os próprios centros de distribuição etc. Essa questão é uma passo que a varejista da Sea ainda não deu”, explica a especialista. “Mesmo melhorando a infraestrutura nos últimos anos, ainda há um custo operacional e uma eficiência que não é comparável a outros países.”
Diferentemente do mercado americano e chinês, em que existe a predominância de um grande player no setor de e-commerce, no Brasil o mercado é mais fragmentado, afirma Luiz Claudio Dias Melo. Magazine Luiza, Via e B2W, por exemplo, disputam o marketshare do varejo eletrônico. “Vivemos uma obsessão por entregas rápidas, o que acirra a competição. O portfólio também está muito ‘commoditizado’, ou seja, não há muita diferença entre os produtos oferecidos por uma ou outra varejista. A Shopee tem portfólio parecido com uma AliExpress, isto é, produtos notoriamente sem marcas, com tickets mais baixos, o que em um cenário de competição pode gerar dificuldades, atrair público um pouco menos qualificado.”
Ainda assim, as perspectivas para a empresa são positivas. “O grande motor é a área de entretenimento. Os números comprovam a tendência de crescimento, com a presença robusta no mercado asiático e acredito que a empresa vá conseguir pegar uma fatia do mercado brasileiro (com o e-commerce), mas de forma mais lenta”, afirma Melo.
Essa também é a visão de Ana Paula Tozzi. “Acreditamos que a Shopee está no caminho de busca de lucratividade e temos convicção de que esse é um modelo que veio para ficar. Claro que é mais fácil ser cético por conta do salto nos papéis, mas a aposta é que o valor da varejista será positivo”, afirma. “Não é uma ação óbvia, é uma ação de longo prazo.”
BDR não captura valorização
Enquanto as ações da Sea Limited (SE, NYSE) disparam em Nova York, os recibos do grupo negociados no Brasil (BDRs) sobem aproximadamente 8% nos últimos 12 meses. O motivo é a falta de liquidez, além do efeito do câmbio sobre o título. Os BDRs não têm proteção cambial, isso quer dizer que o preço desses ativos caem quando o dólar se deprecia frente ao real.
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“Caso o investidor deseje se expor à companhia, é importante notar que o BDR negociado na B3 tem baixo volume de negociações, sendo mais recomendável que acesse direto as ações da companhia através de uma corretora internacional para obter maior liquidez”, avalia Lima.