Os mercados temem que as tarifas de Trump causem uma recessão econômica global (Foto: Adobe Adobe)
O caos se instalou nos mercados globais desde que Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, anunciou as novas tarifas de importação para todos os países no dia 2 de abril. O Ibovespa, principal índice da B3, cai 1,5%, aos 125.515,93 pontos, no início da tarde desta segunda-feira (7). O índice VIX, que mede a volatilidade do mercado e é conhecido como “termômetro do medo” em Wall Street, avançava 6,11%, a 48,08 pontos. Mais cedo, o indicador chegou a superar os 60 pontos, renovando seu maior nível desde agosto de 2024.
Segundo o Wall Street Journal, só houve duas ocasiões na história em que o VIX encerrou pregões acima de 50 pontos: na crise financeira de 2008 e no início da pandemia de covid-19, em 2020. Já as bolsas asiáticas desabaram nesta segunda-feira (7), com a de Hong Kong sofrendo a maior queda em um único pregão desde 1997, em meio a temores de que a guerra comercial deflagrada pelo tarifaço de Trump desencadeie uma recessão global.
Na sexta-feira (4), a China anunciou taxas de 34% sobre todos os bens importados vindos dos EUA em resposta às alíquotas de 34% para importações chinesas, que se somam às tarifas anteriores de 20% que já estão em vigor. Separadamente, o Ministério do Comércio da China disse que adicionou 11 empresas americanas à sua lista de “entidades não confiáveis”, impedindo-as de fazer negócios na China ou com empresas chinesas.
A situação, contudo, pode ficar ainda pior se outros parceiros comerciais, além da China, retaliarem as tarifas americanas. A União Europeia (UE), por exemplo, tem priorizado uma negociação com o governo americano sobre as alíquotas de 20% para os bens europeus antes de qualquer ação. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou em coletiva de imprensa, nesta segunda-feira, que UE está pronta para negociar, mas não descartou a possibilidade de retaliações caso as conversas não avancem.
“Preferimos uma solução negociada, mas estamos preparando retaliação, se preciso”, disse ao mencionar que diferentes instrumentos de retaliação “estão na mesa”. Se o bloco europeu não conseguir um acordo com os EUA e escolha adotar a mesma tática do gigante asiático, Rafael Meyer, Gestor do Solutions MFO do grupo SWM, acredita que o caos nas bolsas pode chegar a um nível extremo.
Segundo ele, os efeitos dessa decisão empurrariam a economia global para uma desaceleração mais acentuada e obrigariam os investidores a migrar os seus investimentos para ativos de menor risco, como ouro e títulos públicos do governo americano. “Teríamos uma desvalorização do real com pressão nos juros e inflação. Teríamos uma aceleração dos juros para atrair o capital estrangeiro e também para conter uma alta da inflação por causa da valorização dólar”, diz Meyer.
No entanto, o cenário mais provável, na ótica dos analistas, é de que haja um avanço nas negociações entre os países mais afetados pelas tarifas que poderia resultar em alíquotas de importação mais baixas. William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, diz que as consequências de uma retaliação são piores para a Europa. “Não dá para substituir os EUA pela China. A China é uma exportadora líquida e os chineses poupam mais do que os americanos. Para a Europa, o ideal seria a negociação”, afirma Castro Alves.
Além disso, o mercado já espera uma queda na taxa de juros americana neste semestre para evitar uma recessão econômica nos EUA. O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, disse na última semana que a maioria das medidas de inflação de longo prazo “permanecem bem ancoradas”. Contudo, ainda é incerto entender qual será a magnitude dessa possível queda das taxas de juros.
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Isso porque, segundo Danielle Lopes, sócia e analista da Nord Investimentos, a postura protecionista de Donald Trump deve elevar a inflação do país, independente de haver uma negociação entre os países atingidos ou não. “Trump quis endurecer primeiro suas medidas para depois negociar. Então, o cenário mais provável é de uma alta da inflação. A dúvida é saber de quanto”, diz Lopes ao citar também a União Europeia.