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Entenda se vale a pena comprar Oi (OIBR4) agora

Rebaixada pela S&P, empresa prepara mudança no plano de reorganização

Entenda se vale a pena comprar Oi (OIBR4) agora
Fachada de loja da empresa de telefonia móvel Oi, em São Paulo (Foto: Itaci Batista/Estadão Conteúdo)
  • Com forte endividamento em moedas estrangeiras, Oi teve queima de caixa relevante no último semestre. Mas as ações já recuperaram as perdas sofridas na pandemia
  • Novo plano estratégico da empresa inclui o fatiamento e a venda dos ativos para viabilizar investimentos em infraestrutura de fibra ótica
  • Ações podem dar bom retorno no médio prazo, mas recuperação da empresa está atrelada a eventos que podem não se concretizar

Desde que apresentou pedido de recuperação judicial, em 2016, a Oi vem atravessando um período delicado, se esforçando para reorganizar suas operações e quitar suas dívidas. Em maio deste ano, a agência Standard & Poor’s reduziu a classificação de risco da empresa de telefonia, que teve sua nota rebaixada de A- para BBB em escala nacional, e de B para B- em nível global.

Não é para menos. A cada ano, a Oi consome mais caixa e tem receita menor. A telefonia fixa, que há cinco anos representava um terço de sua receita, hoje tem peso muito baixo. Para complicar, a empresa apresenta um endividamento forte em dólar e euro, moedas nas quais não gera receita. Nos últimos resultados, relativos ao primeiro trimestre deste ano, a companhia teve uma queima de caixa relevante, da ordem de R$ 300 milhões.

Por outro lado, as ações da empresa (OIBR4) vêm recuperando preço nos últimos meses. Depois de chegar a R$ 0,46 com o pânico generalizado de março, o papel já devolveu todas as perdas e opera na faixa de R$ 1,20, valor superior ao do início da pandemia. Seria o momento de comprar uma empresa ainda barata e apostar em sua valorização?

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O E-Investidor conversou com especialistas para saber se vale a pena comprar os papéis neste momento. O tom geral não é de desconfiança, mas de expectativa. A avaliação unânime é que os próximos passos da companhia serão decisivos para definir a sustentação do negócio e a própria continuidade da empresa.

Uma nova guinada para se capitalizar

A principal aposta é em uma mudança em seu plano de reorganização, que terá de ser aprovada em uma assembleia de credores prevista para agosto deste ano. De acordo com o aditamento, os ativos da empresa serão divididos em quatro unidades produtivas (UPIs) diferentes: o segmento móvel (de telefonia celular), as torres de transmissão, o data center e a infraestrutura de fibra ótica.

“Isso dará a ela a flexibilidade para reorganizar suas linhas de negócio, vender os ativos não essenciais e, com isso, dar sustentação ao negócio”, explica o analista Lucas Carvalho, da Toro Investimentos.

A ideia da Oi é passar a centralizar sua atuação na parte de infraestrutura e vender as demais unidades produtivas. TIM e Vivo já manifestaram interesse em adquirir a operação do segmento móvel, que ambas exploram no País. Estima-se que a venda desse ativo possa render algo entre R$ 15 bilhões e R$ 19 bilhões.

Para o analista Henrique Esteter, da Guide, esse negócio representará um primeiro passo muito importante na recuperação da Oi, tanto do ponto de vista financeiro como do operacional.

“A venda será um respiro, irá reduzir muito a dívida da empresa. A operação ficará menos refém da questão financeira”, afirma.

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Além do segmento móvel, a Oi também se mobiliza para se desfazer de outros ativos, como imóveis (vários foram vendidos nos últimos meses), as torres e o data center.  No final do ano passado, a operadora já vendeu a sua participação acionária em uma empresa de comunicações em Angola.

Fibra ótica: 300 mil quilômetros de esperança

Não é apenas para pagar os credores que a Oi precisa de dinheiro. A entrada de caixa é crucial para que a empresa possa executar seu plano estratégico. E esse plano depende de investimentos estruturais na rede de fibra ótica, tão dispendiosos como necessários.

Glauco Negat, analista-chefe da Necton Investimentos, diz que a escolha dessa unidade produtiva como o novo core business da empresa não se deu por acaso.

“A empresa tem que focar naquilo em que tem vantagem comparativa. E a Oi tem mais de 300 mil km de rede de fibra ótica”, explica.

A exploração dessa rede poderá se dar em duas frentes: na operação Fiber To The Home (FTTH), diretamente aos usuários pessoa física, e na cessão de infraestrutura para que outras empresas possam fornecer internet 5G.

“A rede da Oi é a única com presença nas regiões Norte e Nordeste. É muito difícil imaginar que ela não venha a ser a fornecedora de infraestrutura das outras operadoras”, pondera Negat.

O impasse do mercado: o plano sairá do papel?

As expectativas em jogo são enormes, e o mercado financeiro acompanha com interesse os próximos passos. A própria venda da operação de telefonia celular depende do aval dos credores, já que essa possibilidade não estava prevista nos termos do acordo de recuperação judicial firmado em 2017. Para que isso aconteça, a negociação é forte nos bastidores.

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“A venda do segmento móvel faz sentido, não é algo fora da realidade. Mas existe um risco embutido de ela não se materializar”, diz o analista-chefe da Necton.

Ele ressalta que o sucesso do plano estratégico da Oi é inteiro baseado em eventos que podem ou não se concretizar. “Vender ativos, levantar o dinheiro, começar a investir, é um caminho complexo. Se o plano não der certo, a própria solvência da empresa estará ameaçada”, diz.

Papel tem boa dose de volatilidade

Diante dos desafios que se põem à frente da empresa, não é tão simples prever o futuro de seus papéis. Os especialistas ouvidos pelo E-Investidor recomendam cautela e alocações comedidas.

Para Henrique Esteter, da Guide, OIBR4 pode ser uma opção para quem busca retorno no médio prazo, desde que esteja preparado para a volatilidade.

“Com a venda da operação móvel, o investidor ficará mais tranquilo e poderemos olhar para a ação da empresa com mais carinho”, afirma.

Lucas Carvalho conta que a ação da Oi faz parte das recomendações da Toro desde agosto de 2019. Ele diz que o rebaixamento da empresa pela S&P não fez preço, tanto é que o papel subiu 60% em junho. Mesmo assim, ele aconselha uma alocação de apenas 5% da carteira.

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“Como o perfil de muitos investidores não tolera muita volatilidade, indicamos uma exposição em percentual mais conservador. Mas acreditamos na valorização no longo prazo. A venda da operação móvel vai gerar uma receita considerável”, diz.

Glauco Negat, da Necton, também acha que o investidor não deve ir com muita sede ao pote. “Se você achar que o papel faz sentido, pode comprar. Mas todos os eventos positivos podem não acontecer e, nesse caso, o investimento cai a zero. Não é um papel para todo mundo, e a alocação deve ser pequena”, alerta.

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