Roberto Fulcherberguer, CEO da Via Varejo (Foto: JF Dorio/Estadão)
A rotatividade de uma ação na Bolsa de Valores é um indicativo de que os investidores estão pensando em diferentes estratégias. Mas um único fator move toda essa movimentação: a especulação. Quanto mais um papel circula, maior é a chance de competição entre as pontas vendedoras e compradoras. No primeiro semestre de 2020, as três empresas que lideraram em turnover foram Via Varejo (VVAR3), Gafisa (GFSA3) e GOL (GOLL4), com 6,97 vezes, 6,49 vezes e 5,41 vezes, respectivamente, segundo levantamento da Economatica.
Para calcular o turnover, utiliza-se a quantidade de ações outstanding (quantidade total de ações disponíveis no mercado menos a quantidade de ações em tesouraria de cada papel) de cada papel no dia 30 de junho de 2020 comparada com a quantidade de ações negociadas na bolsa no ano. A Economatica realizou o levantamento e considerou as ações com pelo menos R$ 1 milhão negociados em média por dia em 2020 até 30 de junho.
Marcio Loréga, analista da Ativa Investimentos, comenta que essas empresas sofreram muito com a crise. Porém, os investidores apostam que elas vão voltar a subir e trazer grandes retornos. “A parte especulativa movimenta muito dinheiro”, diz ele.
A VVAR3, que teve o maior giro financeiro do semestre, tem 1.596.415 ações outstanding e elas foram negociadas 11.119.897 vezes. Ou seja, seus papéis tiveram o maior turnover do semestre com um giro de mercado que representa 6,97 vezes mais sua quantidade de ações disponíveis na bolsa. (Confira o ranking no final da reportagem)
No ranking, apenas o papel da Via Varejo está entre as 10 maiores valorizações do semestre. Já entre as 10 maiores desvalorizações do semestre, três ações presentes no ranking estão entre as mais negociadas no semestre. E duas ações conseguiam se manter positivas no ano. A desvalorização dos outros oito papéis varia de -23,55% a -71,76%.
Paloma Brum, economista da Toro Investimentos, diz que houve uma grande fuga dessas papéis no começo da crise, mas que as perspectivas melhoraram. “Apesar da grande desvalorização no ano, vimos várias delas entre as maiores altas do dia em vários pregões quando as coisas se acalmaram”, afirma ela.
Considerando o pior momento de cada papel na crise, as ações da Via Varejo, Gafisa e GOL acumulavam valorização de 273,41%, 114,29% e 231,25%, respectivamente.
O turnover não tem relação com o desempenho da ação
Essa rotatividade não é um indicativo de valorização ou desvalorização da ação. No primeiro semestre, o desempenho dos papéis de VVAR3 foi de 37,06%, enquanto que GFSA3 e GOLL4 acumularam queda de -30,80% e -49,59%, respectivamente.
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É normal que as ações com grande altas não sejam tão negociadas, pois os investidores enxergam nas ações mais descontadas o maior potencial de valorização. “É uma questão de percepção do momento”, diz Loréga, da Ativa.
Apesar disso, ele pontua que essa visão não necessariamente é correta. Como exemplo disso ele cita as ações da B2W (BTOW3), Magazine Luiza (MGLU3) e WEG (WEGE3) que não estão entre as de maior giro no semestre, mas tem grandes valorizações. “Todas elas não param de subir mesmo sem estar em baixa há algum tempo”, afirma Lórega.
Por que VVAR3 teve o maior turnover e uma valorização tão grande?
O papel da Via Varejo (VVAR3) teve o maior giro de mercado no primeiro semestre do ano e é o único do ranking presente entre as 10 maiores valorização do semestre, na 9ª colocação. Suas concorrentes diretas B2W (BTOW3) e Magazine Luiza (MGLU3) ocupam a 1ª e a 4ª posição das maiores valorizações do semestre, respectivamente.
Nesse contexto, por que as ações da Via Varejo foram mais negociadas do que a de suas concorrentes? Para os especialistas, isso aconteceu devido ao fato de a VVAR3 ter sido a ação do e-commerce que mais sofreu. Em 3 de abril, o papel fechou o dia cotado a R$ 4,10, uma desvalorização de 60,79% no ano.
Como a Via Varejo estava com as ações muito desvalorizadas e o setor demonstrava o com melhor desempenho na crise, os investidores viram no papel da empresa a melhor oportunidade de ganhos. “As ações estavam muito mais baratas que de suas concorrentes”, diz Loréga.
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Paloma concorda com essa visão e acrescenta que o papel sofreu tanto no começo da crise, principalmente porque a Via Varejo estava atrasada em relação aos seus concorrentes no processo de digitalização. “Seu papel ficou muito mais descontado por isso”, afirma ela.
No dia 30 de junho, os papéis da Via Varejo estavam cotados a R$ 15,31, uma valorização de 273,41% desde o dia 3 de abril.
