Após intensas negociações, o UBS anunciou a compra do Credit Suisse por 3 bilhões de francos suíços, US$ 3,25 bilhões, no dia 19 de março. A combinação dos dois arquirrivais suíços vai resultar em um banco com mais de US$ 5 trilhões em ativos totais espalhados pelo mundo.
Todos esses eventos aconteceram logo após a falência de dois bancos nos Estados Unidos, provocando um temor no mercado sobre a possibilidade de uma crise no sistema financeiro global. E para te ajudar a entender melhor o caso do Credit Suisse, o E-Investidor selecionou os principais pontos que ancoram essa história até aqui. Confira!
O que aconteceu?
A situação financeira do Credit Suisse segue delicada e, desde 2021, o banco entrega resultados nada animadores aos investidores. No balanço referente ao quuarto trimestre do ano passado, por exemplo, a empresa entregou um prejuízo líquido de 1,39 bilhão de francos suíços (US$ 1,5 bilhão). O resultado corresponde ao quinto prejuízo consecutivo trimestral da companhia. As perdas estão relacionadas, principalmente, aos custos multibilionários de despesas jurídicas que ameaçam o seu planejamento de recuperação.
A instituição financeira acumula cerca de US$ 4 bilhões em provisões de litígio desde 2020, contribuindo para os prejuízos líquidos de 2021 e 2022. As acusações legais do Credit Suisse superaram as de outros bancos por causa de má conduta e de táticas adotadas anteriormente para atrasar alguns casos.
Mesmo diante desse problema, o maior acionista do banco, o Saudi National Bank (SNB), recusou oferecer ajuda. Em entrevista à Bloomberg TV, na quarta-feira (15), o presidente do SNB, Ammar Al Khudairy, disse que o banco saudita não dará assistência financeira adicional ao Credit Suisse. “A resposta é absolutamente não, por muitas razões além da razão mais simples, que é regulatória e estatutária”, disse Al Khudairy, ao ser perguntado se o SNB estaria aberto a um novo pedido de liquidez.
De onde veio a ajuda?
Sem a ajuda do principal acionista, o Banco Central da Suíça concedeu uma linha de crédito no valor de até 50 bilhões de francos suíços para ajudar na recuperação financeira da instituição financeira. Segundo o Credit Suisse, em comunicado ao mercado, o empréstimo vai reforçar a liquidez e dará suporte aos principais negócios e clientes do banco, enquanto a instituição adota medidas necessárias para criar um “banco mais simples e focado nas necessidades do cliente”.
“Essas medidas demonstram uma ação decisiva para fortalecer o Credit Suisse à medida que continuamos nossa transformação estratégica para agregar valor aos nossos clientes e outras partes interessadas. Agradecemos ao SNB e à FINMA principal autoridade de supervisão financeira do país enquanto executamos nossa transformação estratégica”, escreveu o CEO do Credit, Ulrich Koerner.
O Credit informou ainda que vai comprar de detentores uma parcela de sua dívidao. Uma parte será composta de títulos emitidos em dólar, no valor de até US$ 2,5 bilhões, e outra, de papéis emitidos em euros, no montante de até 500 milhões de euros. Com a notícia, as ações do banco dispararam.
Crise no sistema bancário?
A repercussão sobre o quadro financeiro do Credit Suisse acontece logo após a falência de dois bancos norte-americanos, o Silicon Valley Bank e o Signatude Bank. O temor sobre uma possível crise no sistema financeiro global aumentou entre os investidores. No entanto, até o momento, a situação ainda se mantém limitada aos casos particulares que o mercado tem acompanhado.
Autoridades do Banco Central Europeu (BCE) até entraram em contato com bancos que a instituição supervisiona para questioná-los sobre sua exposição financeira ao Credit Suisse, segundo informações do Dow Jones Newswires. A medida é uma formar das autoridades avaliaram o risco que a crise do Credit Suisse pode causar para o sistema financeiro.
Vale lembra que o banco suíço é classificado como instituição financeira “sistemicamente importante”, segundo regras bancárias internacionais criadas após a falência do Lehman Brothers. Essa designação exige que o banco detenha quantidades maiores de capital e mantenha planos para uma liquidação ordenada de suas operações caso venha a ter problemas.
Compra do Credit Suisse
Ja no dia 19 de março, o caso ganhou um novo capítulo. O UBS anunciou a compra do Credit Suisse por 3 bilhões de francos suíços, US$ 3,25 bilhões, resultando em um banco com mais de US$ 5 trilhões em ativos totais espalhados pelo mundo. O histórico negócio foi costurado às pressas para estancar a crise.
O Banco Nacional da Suíça (SNB, o banco central do país), a FINMA, principal autoridade de supervisão financeira do país, e o Departamento Federal Suíço de Finanças foram os agentes quem iniciaram as conversas e apoiam a transação, conforme comunicado. “Esta aquisição é atraente para os acionistas do UBS, mas, sejamos claros, no que diz respeito ao Credit Suisse, este é um resgate de emergência”, disse o presidente do conselho de administração do UBS, Colm Kelleher, em comunicado à imprensa sobre a aquisição.
De acordo com ele, a transação estruturada vai preservar o valor deixado do Credit Suisse, mas limitará a “exposição negativa” do UBS após as crises enfrentadas pelo banco adquirido. Os negócios de banco de investimento combinados representam aproximadamente 25% dos ativos ponderados pelo risco do grupo, uma das áreas questionadas por investidores pela parte do banco adquirido. Veja mais detalhes sobre a negociação.
A venda do Credit Suisse ao UBS deve ser concluída até o fim do ano. O SNB irá liberar um empréstimo de 100 bilhões de francos suíços, ou US$ 108 bilhões, apoiados por uma garantia de inadimplência federal para apoiar a venda do Credit Suisse ao UBS.
Com informações do Dow Jones Newswires