Negócios

Crise climática: como estas companhias da Bolsa reduzem as suas emissões de CO2

Os eventos climáticos aumentam a cobrança das empresas por iniciativas e soluções mais sustentáveis

Crise climática: como estas companhias da Bolsa reduzem as suas emissões de CO2
A crise climática exige das empresas listadas na bolsa mudanças nos seus processos de produção (Foto: Stock Adobe)
  • A multinacional brasileira Gerdau (GGBR4), por exemplo, tem uma meta ambiciosa de se tornar neutra em carbono até 2050
  • A Aeris (AERI3), fabricante de pás eólicas, busca transformar a sua linha de produção mais sustentável, apesar de atuar no processo de transição energética
  • No Ceará, o Complexo do Porto do Pecém atraiu a atenção das companhias de vários países por se posicionar como um hub estratégico para a produção de hidrogênio verde (H2V) em larga escala

A crise climática se intensificou nos últimos anos. Apenas em 2024, os brasileiros presenciaram chuvas torrenciais no estado do Rio Grande do Sul (RS), seca na Amazônia, ondas de calor extremo e queimadas em vários estados do País. Dado a essa urgência, as companhias brasileiras listadas na bolsa de valores buscam há alguns anos mecanismos para adaptar as suas operações à nova realidade, por meio de investimentos em novas tecnologias, à medida que os investidores e consumidores passam a cobrar mais por iniciativas menos poluentes.

A multinacional brasileira Gerdau (GGBR4), por exemplo, tem uma meta ambiciosa de se tornar neutra em carbono – quando as emissões de CO2 são compensadas por medidas de compensação, como a compra de crédito de carbono – até 2050. Para alcançar esse status, a companhia pretende ampliar o uso de sucata ferrosa, como matéria-prima, para a produção de aço. Atualmente, 11 milhões de toneladas desse material são reaproveitados pela companhia, um volume que responde por 70% da matéria-prima necessária para as suas produções. Com essa iniciativa, a produtora de aço consegue evitar a emissão de 16,5 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera, principal gás responsável pelo efeito estufa.

Mas a ação sozinha não será suficiente para transformar os meios de produção da empresa alinhados às suas metas ambientais. A multinacional pretende também aumentar a sua área florestal, responsável pela produção de carvão vegetal, e ampliar o consumo de energias por fontes renováveis. Além disso, a Gerdau participa de um projeto nos Estados Unidos (EUA) voltado para a pesquisa de uso de hidrogênio – combustível que pode ser produzido por fontes de energia renovável com baixa emissão de gases poluentes – em escala industrial na produção de aço.

O projeto recebeu um investimento de US$ 10 milhões, o maior valor destinado pelo governo norte-americano como incentivo para estudos de descarbonização. A Aeris (AERI3), fabricante de pás eólicas, também busca transformar a sua linha de produção mais sustentável, mesmo atuando como um player importante no processo de transição energética. Segundo Vitor Santos, diretor de Tecnologia e Inovações da Aeris, toda a energia consumida pela companhia vem de fontes renováveis e a preocupação também se estende aos fornecedores contratados pela empresa.

Publicidade

Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos

“Fazemos questão de contratar empresas logísticas (para o envio de matéria-prima) que tenham o controle de suas emissões de carbono. As empresas precisam comprovar que os caminhões estão regulados e não poluindo acima da média”, afirma Santos. Assim como a Gerdau, a fabricante também busca aprimorar o seu programa de reciclagem. De acordo com Santos, 33% dos resíduos gerados pela empresa foram reciclados em 2023. Já neste ano, esse porcentual subiu para 36%. “Hoje, a receita gerada pela reciclagem é maior do que os custos relacionados ao tratamento dos resíduos para serem reciclados”, frisa Santos.

O interesse das empresas pelo Complexo do Porto do Pecém

A fábrica da Aeris fica localizada no Complexo do Porto do Pecém, no município de São Gonçalo do Amarante, na Grande Fortaleza (CE). A escolha pela região se deve às vantagens geográficas para o escoamento das pás eólicas para outros estados brasileiros, especialmente na região Nordeste, e para outros países devido à parceria do Porto do Pecém com o Porto de Roterdã, principal porta de entrada para o continente europeu.

Mas em 2024 a companhia está de “olho” em uma nova oportunidade de negócio que caminha para se tornar realidade nos próximos anos: a produção em larga escala de hidrogênio verde (H2V) no Complexo do Porto do Pecém. Segundo Santos, a produção do H2V na proporção como os projetos iniciais almejam demanda de um alto consumo de energia e a Aeris pretende atender essa necessidade por meio da fabricação de novas pás para a construção de parques eólicos.

Há ainda a possibilidade de a companhia diversificar a sua fonte de receita por meio da produção de cilindros para o armazenamento de hidrogênio verde. “Estamos estudando a possibilidade de produzir cilindros do tipo 4 que resistem a altíssimas pressões. São produtos feitos de fibra de carbono similar ao que utilizamos nas pás eólicas”, explica Santos.

O hidrogênio verde, também chamado como “combustível do futuro”, tem sido visto como uma das apostas de soluções de baixo carbono encontradas pelo mercado devido a sua aplicabilidade em indústrias com alto consumo energético. Quando o assunto é energia limpa, o H2V ganha relevância e as projeções apontam para uma demanda expressiva ao longo dos próximos anos.

Na ótica dos investidores, a temática pode representar retornos financeiros atrativos à medida em que as projeções das companhias produtoras desse combustível apontam para um crescimento de receita no longo prazo. De acordo com uma pesquisa da McKinsey & Company, consultoria empresarial norte-americana, o H2V deve criar uma oportunidade de investimento de US$ 200 bilhões no mercado brasileiro em 20 anos (2020 – 2040).

O Complexo do Porto do Pecém busca ser protagonista neste novo mercado com a criação de um hub de produção de hidrogênio verde na sua Zona de Processamento de Exportação (ZPE). A iniciativa despertou o interesse de várias companhias para produzir H2V em larga escala. Até o momento, seis pré-contratos foram assinados pelas seguintes empresas: AES Brasil (AESB3), Casa dos Ventos, da gigante francesa Total (TTE), Fortescue (FMG), Cactus Energia Verde, Voltalia (VLTSA) e FRV.

Publicidade

“O custo da geração de energia elétrica no Brasil é extremamente competitivo e temos a vantagem de termos o Porto de Roterdã como acionista (responsável por 30% da participação do complexo). A Europa é o principal mercado para a compra desses produtos verdes”, afirma Fábio Grandchamp, vice-presidente de Operações do Complexo do Pecém, sobre as atratividades do Hub do Pecém para o mercado internacional.

O início da produção em larga escala deve ocorrer em 2028 por meio de duas propostas que já se encontram em estágios avançados. “Estamos falando de um investimento inicial de US$ 50 milhões a US$ 100 milhões”, enfatiza Grandchamp. Os recursos são destinados para o desenvolvimento projeto responsável pela viabilidade do negócio. Após essa etapa, as empresas irão construir as usinas de hidrogênio verde que devem demandar cada iniciativa aportes de até US$ 5 bilhões. A expectativa é que seja produzido 1 milhão de toneladas por ano em 2030 de H2V. O volume será o suficiente para atender 25% da demanda de importação do Porto de Roterdã.

Informe seu e-mail

Faça com que esse conteúdo ajude mais investidores. Compartilhe com os seus contatos