- Entre as mais de 400 companhias listadas na Bolsa brasileira, uma vem surpreendendo a gestora Trígono Capital
- A casa, conhecida pela estratégia em empresas de baixa capitalização, acompanha desde 2018 a Schulz (SHUL4), líder no setor de compressores
- A trajetória da Schulz rima com a caminhada de outra empresa do ramo industrial na Bolsa, também criada nos anos 60 e em Santa Catarina: a Weg (WEGE3), gigante de motores elétricos
Entre as mais de 400 companhias listadas na Bolsa brasileira, uma vem surpreendendo a gestora Trígono Capital. A casa, conhecida pela estratégia em empresas de baixa capitalização e com R$ 3 bilhões sob gestão, acompanha desde 2018 a Schulz (SHUL4) – líder no setor de compressores que entrou recentemente no segmento automotivo, com o fornecimento de equipamentos para veículos pesados e máquinas agrícolas.
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A catarinense Schulz foi fundada há 60 anos e está listada na B3 há três décadas. Entretanto, nos últimos sete anos, o lucro líquido anual passou a crescer, saindo de R$ 40,1 milhões, em 2017, para R$ 277,9 milhões no fim do ano passado – um salto de 593%. Atualmente, o caixa chega a R$ 794 milhões, para um endividamento de R$ 621,2 milhões.
A trajetória da Schulz rima com a caminhada de outra empresa do ramo industrial na Bolsa, também criada nos anos de 1960 e em Santa Catarina: a Weg (WEGE3), gigante de motores elétricos. Guardadas as devidas proporções – uma vez que WEGE3 é avaliada em R$ 160,3 bilhões, enquanto SHUL4, em R$ 5,6 bilhões – as similaridades em termos de melhora de resultados fizeram com que a Trígono apelidasse a small cap de “Nova Weg”.
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Para quem não conhece, a Weg é considerada uma das “queridinhas” do mercado brasileiro e uma das companhias mais sólidas da B3. Nos últimos sete anos, a empresa viu o lucro líquido anual expandir mais de 400%. Em 2017, o montante era de R$ 1,1 bilhão. Já no final do ano passado, essa quantia havia subido para R$ 5,7 bilhões.
“Nosso gestor (Werner Roger) acompanha a empresa desde a década de 90 e a Schulz está presente em nossos fundos desde 2018”, afirma Pedro Carvalho, analista da Trígono. “Duas coisas brilharam nossos olhos em relação a Schulz: a primeira, é que somos bastante entusiastas do setor industrial brasileiro. A segunda, por ser uma empresa que tem investido muito em automação e tecnologia.”
Somente nos últimos cinco anos, a Schulz investiu R$ 712,6 milhões foram investidos em novos maquinários e na integração de tecnologias no processo industrial. O arcabouço tecnológico é um diferencial, que pode ter ajudado a empresa a atravessar, sem grandes impactos, um período difícil para o mercado de veículos pesados.
Superando adversidades
Em 2023, a produção de caminhões e ônibus encolheu 37,5%, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Já as vendas cederam 16,4%, de acordo com Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). O motivo para a retração está na mudança do padrão Euro 5, em que todos os caminhões eram obrigados a sair da fábrica com motores diesel capazes de tratar gases poluentes, para o Euro 6, que reduziu os limites de emissões de poluentes e tornou a fabricação e comercialização desses veículos mais cara.
Ainda assim, a Schulz conseguiu segurar os resultados. No ano passado, enquanto o mercado de caminhões encolhia quase 40%, a receita bruta da companhia caiu 8,5%, para R4 2,3 bilhões. O lucro líquido também cresceu 2,9% para R$ 277,9 milhões. Vale lembrar que, apesar de ter começado com compressores, hoje mais de 70% das receitas é advinda da divisão automotiva, segundo Carvalho.
“É uma empresa que continua investindo e ainda gerou muito caixa. Hoje é ‘dívida líquida’ negativa”, diz o analista da Trígono. “Isto significa que o caixa supera todas as obrigações, o passivo circulante da empresa.”
Apesar dos resultados considerados positivos, a SHUL4 cai 11% em 2024, aos R$ 6,26. A desvalorização é reflexo do aumento das incertezas no mercado, tanto no cenário externo, em relação à política monetária nos EUA e conflitos geopolíticos, quanto no cenário interno, com o aumento dos riscos fiscais. “Isso faz com que o mercado prefira liquidez e as ações de empresas menos acompanhadas pelo mercado, e que têm uma liquidez menor (como a SHUL4), tendem a ficar esquecidas”, afirma. De fato, a desvalorização dos papéis começou a se acentuar a partir de abril, quando um combo de notícias macroeconômicas negativas impactou os ativos de risco (entenda nesta reportagem).
Neste mês, a Schulz também divulgou os resultados do 1º trimestre de 2024. Apesar de fortes, ficaram aquém dos números obtidos no mesmo período do ano passado. Entre janeiro e março deste ano, a Schulz registrou lucro líquido de R$ 60,4 milhões, 20% menor do que os R$ 75,9 milhões alcançados entre janeiro e março de 2023.
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A companhia explicou que no 1º trimestre de 2023 o mercado de caminhões estava ainda surfando a antecipação de produções, iniciada em 2022. Agora, o cenário continua adverso, com a adoção do padrão Euro 6. A retração do lucro trimestral não preocupa a Trígono Capital, que tem perspectivas positivas para a companhia no longo prazo.
“É uma empresa que está crescendo, investindo e está sobrando dinheiro para o acionista”, diz Carvalho. “Nesse primeiro trimestre, tivemos um menor volume da linha de máquinas agrícolas, mas existe uma perspectiva de retomada gradual ao longo dos próximos trimestres.” Em 12 meses, a SHUL4 sobe 11,6%. Em dois anos, o retorno é de 43,6%.
O que diz o mercado
Os analistas consultados pelo E-Investidor também tem uma visão bastante construtiva para o case da Schulz. Hugo Queiroz, sócio-diretor da L4 Capital, tem recomendação de compra para os papéis SHUL4. “Com esses números impressionantes que a companhia entrega, dá para imaginarmos um potencial de alta de 30%. É uma indústria de crescimento, uma empresa de growth, é uma posição para se ter”, afirma.
O especialista da L4 Capital ressalta a estrutura de capital “confortável” da companhia, com 80% de capital próprio e 20% de terceiros. A diversificação regional, principalmente com a exposição ao mercado asiático, que é considerado de forte crescimento e baixo custo, gera vantagens competitivas.
“Com essa construção, ela consegue passar por ciclos positivos e negativos sem ter grandes desafios. Pares e concorrentes, no segmento da empresa, que sempre foram mais endividados, em um ciclo mais desafiador tiveram problemas e precisaram se reestruturar. É uma empresa bem organizada”, diz Queiroz.
Um exemplo de concorrente que teve dificuldades para enfrentar conjunturas mais desfavoráveis, segundo Queiroz, foi a Metalfrio (FRIO3). “Tinha uma estrutura capital totalmente desequilibrada e era um multinacional com presença na Europa, Turquia, Rússia e etc”, diz. “Um ciclo econômico mais desafiador, com desvalorização cambial, arrebentou com a companhia e os números dela na Europa. Tinha um endividamento pesado em euro.”
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Fábio Sobreira, analista CNPI-P da Rocha Opções de Investimentos, também tem recomendação de compra para SHUL4, com potencial de alta de 25%.“Acredito que a Schulz seja uma das boas empresas da bolsa, com Poder de Lucro, que é a capacidade da empresa pagar dividendos, acima de 11%. Além disso, com aumento progressivo do payout (percentual pago em proventos) e do crescimento constante dos lucros, a empresa pode vir a ser uma boa opção para quem busca dividendos no futuro”, diz Sobreira.
Sobreira afirma que, de fato, o crescimento da WEGE3 se equipara ao crescimento de SHUL4, tanto na cotação quanto em lucro. Já quando se trata de margens e retorno, a Weg se destaca. Por outro lado, o potencial de dividendos da Schulz é maior. Ainda assim, evita apelidos comparativos. “Não gosto dos termos “nova Weg”, nova “Magalu” ou nova qualquer outra empresa, pois cada empresa é única no mercado financeiro, mas a Schulz com certeza vem ocupando espaço”, afirma.