- Mesmo diante de um cenário adverso no Brasil devido ao aumento da inflação e riscos políticos, as empresas listadas na Bolsa brasileira conseguiram entregar bons resultados nos últimos dois anos
- É o que mostra um levantamento produzido pela Bravo Research enviado com exclusividade ao E-Investidor
- O estudo observou os indicadores das companhias de capital aberto que reportaram os seus resultados para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) entre os anos de 2009 e 2022
Em tempos de inflação alta e juros elevados, as empresas tendem a entregar um desempenho operacional menor em relação aos períodos de bull market (alta da Bolsa). O entendimento deve ao processo de desaceleração econômica que impacta no consumo e também no volume de investimentos em ativos de renda variável.
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No entanto, mesmo diante de um cenário adverso no Brasil devido ao aumento da inflação e riscos políticos, as empresas listadas na Bolsa brasileira conseguiram entregar bons resultados nos últimos dois anos. É o que mostra um levantamento produzido pela Bravo Research enviado com exclusividade ao E-Investidor.
O estudo observou os indicadores das companhias de capital aberto que reportaram os seus resultados para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) entre os anos de 2009 e 2022. Com os dados, a pesquisa relacionou a receita (faturamento das companhias que inclui os gastos com despesas operacionais) e o Ebit (lucro operacional) das companhias.
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A ideia era compreender o peso da piora do cenário macroeconômico no desempenho operacional. Na prática, a relação mostra que, quanto menor for a diferença entre os dois indicadores, maior será a rentabilidade das companhias.
Ao observar o histórico das empresas no intervalo de 2009 e 2022, é possível perceber que a relação atingiu o menor patamar nos dois primeiros anos da pandemia da covid-19. Desde 2020 até o fim do ano passado, o mercado acompanhou a elevação da taxa de juros que saiu de 2% para 13,75% ao ano com o objetivo de conter a alta dos preços. Na prática, esse cenário costuma reduzir as margens de lucro das companhias porque dificulta o acesso ao crédito e encarece as dívidas das empresas.
Para analistas, a entrega de bons resultados operacionais em um cenário adverso se deve ao ciclo de commodities, com demanda no mercado internacional, e o retorno das atividades presenciais no pós-pandemia.
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A retomada ajudou a elevar as margens de lucro de empresas como Petrobras e da Vale, que possuem peso significativo na Bolsa brasileira. Segundo a B3, as ações de ambas correspondem a quase 25% da composição do Ibovespa, principal índice da bolsa.
“As commodities ganharam valor, o que impactou no faturamento, e as empresas brasileiras tiveram uma evolução operacional bastante grande”, avalia Guilherme Paulo, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
A crise econômica de 2015, quando a taxa Selic estava em 14,25% ao ano, ajudou as companhias brasileiras a se tornarem mais eficientes em cenários desafiadores. Naquela época, a inflação no acumulado de 12 meses estava 10,7% e a receita era 15,9 vezes maior do que o lucro operacional das companhias. O período é apontado como o pior momento para o mercado brasileiro no intervalo dos últimos 13 anos.
“As empresas estão com despesas mais controladas e seguem operando mais “certinhas”. Acredito que a crise de 2015 forçou as companhias a enxugar os seus custos e aumentar o seu profissionalismo”, diz Vitorio Galindo, analista de investimentos CNPI e head de análise fundamentalista da Quantzed.
As recentes fusões e aquisições também ajudaram as empresas de bolsa a apresentarem resultados melhores.
Momento certo para investir?
A boa notícia é que o aumento do desempenho operacional das companhias de capital aberto vem acompanhado com uma queda no preço das ações, o que sinaliza ao investidor uma boa oportunidade de investimento. Em 2021, o Ibovespa encerrou o ano com uma queda acumulada nos meses de janeiro e dezembro de 11,9%. No ano seguinte, a performance do principal índice encerrou 2022 com uma alta de 4,69%. No entanto, a valorização não foi o suficiente para trazer recuperação aos ativos.
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Além disso, ao olhar para o preço sobre lucro (P/L) que mostra o tempo para o investidor ter o retorno em lucro do seu investimento, os múltiplos ainda seguem em patamares baixos em comparação aos outros anos.
Dados de Einar Rivero, head comercial do TradeMap e colunista do E-Investidor, mostram neste texto que a mediana do P/L de todas as empresas da bolsa encerrou o primeiro trimestre de 2023 a 6,8x. Ou seja, o lucro viria em torno de sete anos. Já no primeiro trimestre de 2010, o investidor só teria retorno do seu investimento em apenas 11 anos.
Os múltiplos baixos têm relação, principalmente, com o alto patamar da taxa de juros, que segue estável. No entanto, há expectativas para o início do corte da Selic ocorrer no segundo semestre. Com essa perspectiva no radar, alguns setores oferecem melhores oportunidades de investimentos do que outros.
“Olhando no curto prazo, vemos as empresas dos setores de commodities, utilities e materiais básicos são os setores que gostamos e que possuem tendência de valorização no curto prazo”, avalia Felipe Paletta, sócio e analista da Monett. As empresas com um bom potencial de crescimento e que consigam gerar caixa independente do cenário devem ser priorizadas neste momento para mudanças de portfólio. Confira algumas recomendações de investimento nesta reportagem.
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