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Bônus de R$ 670 mi ao CEO: Nubank revela a remuneração dos executivos

O pagamento milionário à diretoria do banco gerou polêmica. O E-Investidor apurou como será feita a distribuição

Bônus de R$ 670 mi ao CEO: Nubank revela a remuneração dos executivos
David Vélez, CEO do Nubank, pode ficar com maior parte da remuneração por meta. Foto: REUTERS/Brendan McDermid
  • Nos últimos dias, o Nubank (NU) enviou à CVM um formulário em que estipula um pagamento potencial de R$ 804,4 milhões aos oito integrantes da diretoria executiva do banco
  • Mais de 85% de todo o valor separado para remunerar a diretoria executiva iria apenas para o CEO da fintech, David Vélez
  • Excluído o bônus em ações direcionado apenas ao fundador do Nubank, a compensação da diretoria estatutária da fintech em 2022 está prevista em cerca de R$ 125,5 milhões, uma média de R$ 15,5 milhões para cada integrante

O Nubank enviou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) um formulário em que estipula um pagamento potencial de R$ 804,4 milhões aos oito integrantes da diretoria executiva do banco para 2022. Deste montante, R$ 16,4 milhões serão provenientes de salário ou pró-labore, R$ 867,8 mil em benefícios diretos e indiretos e R$ 787,1 milhões em ações.

No Twitter, usuários fizeram a ‘conta de padaria’: em média, cada diretor receberia R$ 100 milhões entre ações, salários e benefícios. O valor causou indignação, principalmente porque a empresa reportou prejuízo líquido de R$ 890 milhões nos últimos 12 meses, segundo dados da ComDinheiro.

Ao contrário do que tem circulado nas redes sociais, as compensações não serão distribuídas de forma igualitária. Boa parte do pagamento é condicionado a metas agressivas. O E-Investidor  conversou com o Nubank e recebeu a distribuição da remuneração entre os principais executivos do banco com exclusividade.

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Mais de 85% do valor separado para remunerar a diretoria executiva iria apenas para o CEO da fintech, David Vélez. Caso alcance os objetivos estipulados em contrato, o fundador do roxinho pode receber, sozinho, cerca de R$ 670 milhões em ações.

De acordo com o banco, o valor total seria doado para a instituição The Giving Pledge, organização filantrópica fundada por Bill Gates, Melinda Gates e Warren Buffett nos Estados Unidos.

Os gatilhos para ‘autorizar’ pagamento em ações a Vélez acontecem nos seguintes termos:

  • O preço médio por ação ficar igual ou superior a US$ 18,69 por 60 dias consecutivos. O que representa um prêmio de 195,3% sobre o fechamento da última quinta-feira (28), de US$ 6,33;
  • O preço médio por ação ficar igual ou superior a US$ 35,50 por 60 dias consecutivos. O que representa um prêmio de 460% sobre o fechamento da última quinta-feira (28).

Excluído o bônus em ações direcionado apenas ao fundador do Nubank (chamado de ‘Contingent Share Agreement’ – CSA na sigla em inglês), a compensação da diretoria estatutária da fintech em 2022 está prevista em cerca de R$ 125,5 milhões, uma média de R$ 15,5 milhões para cada integrante.

Ainda assim, fica acima do visto pelos pares. Para efeito de comparação, o Itaú (ITUB4), maior banco da América Latina, distribuiu R$ 375 milhões aos 26 membros da diretoria em 2021, uma remuneração média de R$ 14,4 milhões. No mesmo ano, o Bradesco pagou R$ 818 milhões aos 88 diretores, o que corresponde a cerca de R$ 9,3 milhões para cada.

Stake: Os números do Nubank assustam a sociedade

Além de Vélez, são parte da diretoria executiva Cristina Junqueira (Co-fundadora), Guilherme Lago (diretor financeiro), Henrique Fragelli (diretor de risco), Jagpreet Duggal (diretor de produto), Matt Swann (diretor de tecnologia), Vitor Guarino Olivier (diretor de recursos humanos) e Youssef Lahrech (diretor de operações).

“Esse é um assunto muito importante. O investidor de qualquer empresa precisar ficar atento a essa remuneração, principalmente para companhias que ainda não dão lucro, como é o caso de Nubank”, afirma Larissa Quaresma, analista da Empiricus. “Isso significa que a empresa ainda não está remunerando o acionista, enquanto paga um pacote agressivo aos executivos. É complicado do ponto de vista de governança.”

Opiniões divididas

Para Rodrigo Lima, analista de investimentos e editor de conteúdo da Stake, seja qual for a configuração, esse nível de repasse é discrepante. O especialista ressalta que o CEO do gigante JP Morgan, por exemplo, recebeu U$ 34,5 milhões (R$ 170,4 milhões) em 2021 e foi criticado pela grandeza da cifra.

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“Os números do Nubank assustam a sociedade. Tratando-se de grandes organizações como companhias de capital aberto, a capacidade de execução dificilmente depende somente de uma pessoa. Portanto, essa disparidade entre a remuneração do chairman e o restante do board pode não ser saudável à companhia”, afirma Lima.

O especialista da Stake ainda vê que essa remuneração agressiva pode afetar os papéis do Nubank. “Cria-se uma pressão de que resultados extraordinários sejam entregues pelo board e a fintech já mostrou dificuldades para manter seu ritmo de crescimento e aumentar sua rentabilidade”, diz.

O pensamento é compartilhado por Quaresma, da Empiricus, que recomenda o ‘short’ (apostar na baixa) nos papéis. A analista ressalta que o Itaú e Bradesco, que geram bilhões de lucro por trimestre, estão longe de oferecer uma remuneração per capita parecida com a do Nubank.

“Todos esses pacotes significam uma diluição de 8% para os acionistas minoritários. Acho que a empresa tem que vir a público para deixar mais claro os gatilhos dessa remuneração estimada por ano, mas com certeza é algo negativo. Aguardamos esclarecimentos”, afirma Quaresma.

Apesar de todo o barulho majoritariamente negativo que a notícia trouxe, nem todo mundo vê excessos. Na visão de Dani Coninck, educadora financeira e especialista em investimentos, não é uma surpresa que o Nubank estipule esse nível de remuneração, uma vez que a companhia ainda é a segunda instituição financeira mais valiosa da América Latina.

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“Não está fora, até porque estão propondo isso com base no alcance de uma meta, que é bem audaciosa, de manter as ações acima de US$ 18,69 por dois meses”, diz Coninck. “Vão ter que trabalhar bastante para conseguir manter essa meta. E essa remuneração só vai vir se esse objetivo for alcançado. Tudo com base em resultado.”

Coninck vê a remuneração por ‘resultado’ e meritocracia como algo que pode trazer benefícios para o investidor, já que a diretoria fica motivada atingir os gatilhos para os pagamentos. A questão de o Nubank estar no ‘vermelho’ nos últimos meses também não seria uma grande preocupação.

“Não é que a empresa não lucre, mas todo o resultado bruto é reinvestido no negócio. Isso automaticamente faz crescer o valor de mercado da fintech, e se cresce o valor de mercado, a ação valoriza e o investidor tem mais dinheiro no bolso”, explica a educadora. “E é normal o CEO ganhar mais, justamente pela posição, ele trabalha full time no negócio. Aliás, até a remuneração do CEO é o conselho quem decide. Não é feito nada, sem que o conselho aprove.”

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