- Os resultados do 4º trimestre de 2023 da fabricante de chips Nvidia (NVDC34), divulgados na última quarta-feira (21), encantaram analistas e investidores
- Tamanha euforia fez alguns participantes do mercado relembrarem velhos traumas, como a bolha financeira “Ponto Com”, que estourou nos anos 2000 e quebrou centenas de empresas
- De acordo com Caio Fasanella, head de investimentos da Nomad, fora a questão de a Nvidia atualmente oferecer os melhores chips do mercado e ter surpreendido com resultados muito acima do esperado, há diferenciais comportamentais importantes em relação à bolha Ponto Com
Nos últimos dias, não se falava de outra coisa pelos corredores dos prédios da “Faria Lima” – avenida em São Paulo que concentra empresas vinculadas ao mercado financeiro. Os resultados do quarto trimestre de 2023 da fabricante de chips Nvidia (NVDA), divulgados na última quarta-feira (21), encantaram analistas e investidores.
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A receita no ano passado chegou a US$ 60,9 bilhões, um aumento de 126% em relação a 2022. Já o lucro líquido disparou 769% no período, para US$ 12,8 bilhões. Após a divulgação dos dados financeiros robustos, a empresa ganhou, somente na última quinta (22), US$ 277 bilhões em valor de mercado.
Atualmente, a Nvidia está avaliada em US$ 1,9 trilhão. Isto significa que a empresa é mais valiosa do que a soma de todas as listadas na B3. Também ultrapassou o valor de mercado de big techs como Alphabet, dona da Google (GOGL34).
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Tamanha euforia fez alguns participantes do mercado relembrarem velhos traumas, como a bolha financeira “Ponto Com”, que estourou nos anos 2000 e quebrou centenas de empresas. Uma “bolha financeira” acontece quando há um otimismo exagerado em relação a determinados ativos, que veem seus preços subirem estratosfericamente por um período, mas sem fundamentos reais que justifiquem a alta.
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No caso da bolha “Ponto Com”, ações de empresas ligadas à internet acumularam expressivas valorizações entre 1995 e 2000. Quando os resultados dessas companhias não vieram como esperado, o forte reajuste nos preços fez investidores amargarem profundos prejuízos pela década seguinte.
Listada desde os anos 90, na época da Bolha da Internet, os papéis da Nvidia dispararam a partir do ano passado, quando acumularam uma valorização de 238%. Este ano, a alta chegou a 63% até a última terça-feira (27). Seria a fabricante de chips, a nova bolha de tecnologia?
Inteligência artificial no crescimento da Nvidia
Os resultados robustos de Nvidia acontecem porque a empresa foi vanguardista em relação a equipamentos para desenvolvimento de produtos fundamentados por inteligência artificial (IA). Antes focada em processadores para games, em meados de 2022 a companhia lançou um tipo de unidade de processamento gráfico (GPU) chamado H100, um chip de alto desempenho para trabalhar com IAs e considerado o mais poderoso do mundo.
A Meta (META), dona do Facebook, já anunciou que este ano comprará 350 mil processadores NVIDIA H100 para desenvolvimento de IAs. Considerando o preço de cerca de US$ 30 mil por processador, será um investimento de cerca de US$ 10 bilhões. E a Meta não é a única interessada nesta tecnologia – a atual corrida pelo desenvolvimento de IAs faz com que a fabricante não consiga suprir a demanda pelos GPUs.
Para os analistas consultados pelo E-Investidor, ainda é difícil tachar a euforia em torno de Nvidia como uma bolha em formação. Isto porque, para os especialistas, a alta dos papéis e a explosão do valor de mercado da Nvidia se justificam em função da companhia estar atrelada a uma tecnologia disruptiva e atualmente escassa.
Apesar de existirem outras grandes empresas de chips, como Intel, por ora nenhuma delas conseguiu apresentar um processador tão poderoso quanto o H100.
“Essa onda de IA foi toda construída em cima dos chips da Nvidia, porque os desenvolvedores descobriram que o processor fabricado pela empresa tinha um processamento melhor do que as outras”, afirma Thiago Guedes, analista e diretor de negócios da Bridgewise, que tem recomendação de compra para Nvidia. “E é uma tecnologia proprietária, não é código aberto. Ou seja, é uma tecnologia somente da Nvidia. Logo, a dificuldade de criar uma tecnologia compatível com IA é a primeira barreira de entrada no setor.”
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Essa também é a visão de Enzo Pacheco, analista da Empiricus Research. “Além de estar há muito tempo desenvolvendo esse tipo de tecnologia, a Nvidia tem construído também um ecossistema em torno de seus produtos. Um exemplo é o sistema CUDA, que permite aos desenvolvedores acelerarem o processamento de suas aplicações por meio das GPUs”, diz.
Situação da Nvidia é diferente de uma bolha?
De acordo com Caio Fasanella, head de investimentos da Nomad, fora a questão da Nvidia atualmente oferecer os melhores chips e ter surpreendido o mercado com resultados muito acima do esperado, há diferenciais comportamentais importantes na situação atual em relação à bolha Ponto Com do final do passado.
Mesmo que empresas altamente vinculadas ao desenvolvimento de IAs tenham despertado a atenção dos investidores, o fluxo de capitais está indo majoritariamente para companhias consolidadas, diferentemente do que ocorreu nos anos 2000, quando mesmo projetos iniciais relacionados à internet já vislumbravam uma capitalização expressiva.
“Podemos falar que aqui vemos que os preços estão sendo impulsionados pelos resultados e que por enquanto o maior fluxo tem ido para empresas bem estabelecidas”, diz Fasanella.
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Artur Oliveira, analista de mercado internacional da Faz Capital, vê sentido em ter ações da Nvidia na carteira. Para ele, mesmo face ao valor trilionário de mercado, a precificação dos papéis não estaria exagerada, como em uma bolha. O especialista calcula que os ativos estão negociando a “32 vezes o lucro”, ou seja, com base no preço atual, os investidores teriam o investimento de volta 32 anos após o aporte em Nvidia.
Apesar do número assustar, Oliveira relembra que as demais “big techs”, como Apple e Microsoft, negociam a 27 e 24 vezes o lucro delas. “Esse patamar de múltiplo está muito em linha com as outras empresas de tecnologia americanas. Não vemos ainda um extrapolação de preço tão grande”, afirma o analista da Faz Capital.
Competição no horizonte, risco alto para as ações
Sendo ou não uma bolha, o risco do investimento nas ações da Nvidia é considerado alto. O consenso diz que, mais cedo ou mais tarde, a tendência é de que a concorrência cresça no segmento de chips de alto desempenho para IAs. Em um cenário de aumento da competitividade, o crescimento da Nvidia estará ameaçado e o resultado pode ser uma correção no preço das ações.
“Até o momento, a Nvidia surfou praticamente sozinha a onda da IA, mas há outros players entrando nesse segmento para tomar parte da fatia desse mercado”, diz Andre Fernandes, head de Renda Variável e sócio da A7 Capital. “A grande questão dos investidores que olham hoje para a Nvidia é se a empresa vai conseguir manter esse crescimento com a concorrência que está se formando agora.”
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Já Pacheco, da Empiricus Research, vê o cenário de aumento de competitividade concentrado no longo prazo. Ainda assim, não recomenda os papéis, de olho em possíveis realizações.
“Entendo que ao menor deslize da empresa – o que não significa que seria o fim da tese de investimento, apenas que a Nvidia não entregou o que o mercado esperava – pode ser o suficiente para que investidores aproveitem a alta recente para embolsar parte dos lucros”, afirma o especialista.