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Petrobras (PETR4) no 2T24: números mais fracos e dividendos de até R$ 17 bilhões; saiba o que esperar

No primeiro balanço financeiro sob gestão de Magda Chambriard, expectativa é de que dividendos cheguem a R$ 17 bi

Petrobras (PETR4) no 2T24: números mais fracos e dividendos de até R$ 17 bilhões; saiba o que esperar
Petrobras. (Foto: Wilton Junior/Estadão)
  • Especialistas apontam que estatal tem superado as estimativas de produção, com alavancagens mais rápidas nas plataformas mais recentes
  • Cotação do petróleo, alta do dólar, produção do pré-sal e fluxo de caixa são pontos favoráveis à companhia; acordo fiscal sobre remessas ao exterior entre 2008 e 2013 vai impactar lucro
  • Projeções sobre os dividendos da Petrobras variam entre R$ 11,8 bilhões e R$ 17,2 bilhões

A Petrobras (PETR4) vai revelar o saldo financeiro do segundo trimestre de 2024 na noite desta quinta-feira (8). No consenso dos analistas, apesar da queda trimestral em alguns números operacionais, na comparação com o ano passado, houve avanços. Neste que é o primeiro balanço da nova gestão, presidida por Magda Chambriard, a expectativa é de que a estatal anuncie a distribuição de dividendos robustos aos seus acionistas.

Na semana passada, o relatório da Petrobras apontou produção média de 2,69 milhões de barris diários (boed) de óleo equivalente (petróleo e gás natural) no 2T24. Em relação ao resultado dos três primeiros meses deste ano, a retração foi de 2,8%, mas, na comparação com o mesmo período de 2023, o ganho foi de 2,4%. Já a produção comercial de óleo e gás foi de 2,35 milhões de boed, alta de 1,9% ante o ano passado e queda de 3% frente ao trimestre anterior.

Ainda no documento, a estatal explica que o crescimento anual da sua produção foi favorecido pelo ramp-up (aceleração ou alavancagem) dos navios-plataforma (FPSOs) Almirante Barroso, P-71, Anna Nery, Anita Garibaldi e Sepetiba, além da entrada em produção de 12 novos poços de projetos complementares. No entanto, frente ao trimestre passado, houve um maior volume de perdas por paradas para manutenções — mas a Petrobras garantiu estar “dentro do previsto no Plano Estratégico 2024-2028”, além do declínio natural de campos maduros.

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Para Anderson Santos, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital, a expectativa é de que o balanço da Petrobras no 2T24 seja positivo. Ele destaca que a estatal tem superado as estimativas de produção, com ramp-ups mais rápidos nas plataformas mais recentes, como o Almirante Barroso no campo de Búzios.

“O desempenho elevado contribui para uma maior geração de receita e dilui os custos fixos, resultando em menores custos unitários de produção. E a combinação de produção superior e custos unitários reduzidos deve refletir positivamente no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) e no fluxo de caixa livre (FCF)”, afirma. Santos ainda lembra que a curva de preços do petróleo Brent manteve-se alta (entre US$ 90 e US$ 85 por barril no trimestre) e que o mercado da commodity continua resiliente. “O que é favorável para a receita da Petrobras”, diz.

O que vai impactar o balanço da Petrobras no 2T24?

Em maio, quando Magda Chambriard assumiu a presidência da Petrobras no lugar de Jean Paul Prates, o BB Investimentos alterou sua recomendação de compra para neutra das ações PETR4. Na ocasião, o analista Daniel Cobucci citou que as “incertezas sugeriam cautela para minoritários”. Quase três meses depois — e de olho no balanço do segundo trimestre — o banco voltou atrás, já que os riscos levantados não se concretizaram, e agora recomenda a compra dos papéis.

Entre os números reportados no relatório de produção e vendas da companhia, Cobucci destaca as vendas de diesel. Apesar da queda anual de 0,6%, a estatal cresceu 3,8% na comparação com o trimestre anterior. O analista atribui o resultado ao “sucesso da política comercial” da petrolífera, que há mais de um ano abandonou a política de Preço de Paridade de Importação (PPI). “A nossa percepção é de que, caso o PPI estivesse vigente, a Petrobras estaria nesse momento perdendo market share para importadores”, diz.

Enquanto isso, Monique Greco, à frente do time de analistas de Óleo e Gás do Itaú BBA, aponta que em relação ao volume de vendas de derivados de petróleo, a companhia contabilizou 1,74 milhão de barris por dia no 2T24, alta trimestral de 3,2% e queda de 1,3% frente ao ano passado. “Houve uma redução trimestral nas importações, principalmente de gasolina e diesel, devido aos altos volumes do último trimestre para recompor os estoques diante das paradas programadas”, afirma.

Além disso, Greco salienta que o pré-sal garantiu que o diesel, a gasolina e o combustível de aviação representassem 69% da produção total da Petrobras, ganho de dois pontos porcentuais (p.p.) no trimestre. “Segundo a companhia, a melhora demonstra os esforços contínuos do sistema de refino para aumentar a eficiência e a versatilidade das plantas de processo.”

Para Santos, da Matriz Capital, a produção da companhia como um todo foi superior às expectativas, especialmente com o contabilizado nos campos de pré-sal, que devem contribuir para uma maior geração de receita. “A revisão para cima na produção reduziu as previsões de lifting costs [custo de extração de petróleo], melhorando a margem operacional e, consequentemente, o fluxo de caixa”, explica.

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Só que não são apenas os números operacionais da companhia que devem fazer preço em seu balanço financeiro. O Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) avalia que o lucro da Petrobras deve ter uma redução por conta do acordo tributário referente à incidência de impostos sobre remessas ao exterior entre 2008 e 2013 (Edital de Transação PGFN-RFB 6/2024), com impacto de aproximadamente R$ 11,9 bilhões. Na avaliação do instituto, a companhia deve registrar lucro líquido 79% menor que no trimestre passado e 82% inferior ao ano passado.

O que esperar dos dividendos da Petrobras?

Apesar de números mistos no trimestre, a avaliação dos especialistas consultados pelo E-Investidor é de que a Petrobras anuncie o pagamento de dividendos robustos. Para o Ineep, a expectativa é de que o montante a ser repartido entre os acionistas seja de R$ 17,2 bilhões (aproximadamente US$ 3 bilhões). A projeção é superior ao que os analistas do mercado financeiro esperam e ao que foi reportado no trimestre passado e há um ano — na ordem de R$ 14,6 bilhões e R$ 14,9 bilhões, respectivamente.

O Itaú BBA, por exemplo, acredita que com o resultado da produção e vendas da companhia no segundo trimestre vai garantir um provento na ordem de US$ 2,1 bilhões (cerca de R$ 11,8 bilhões). O Bank of America (BofA) é um pouco mais otimista, e aponta para US$ 2,8 bilhões em dividendos (R$ 15,7 bilhões). “Nossa previsão considera um capex (despesas de capital) de aproximadamente US$ 3,25 bilhões, alta trimestral de 7%, mas ainda abaixo do Plano Estratégico”, dizem os analistas.

O BTG Pactual (BPAC11) segue a mesma linha e projeta dividendos na ordem de R$ 16,3 bilhões (US$ 2,9 bilhões). Os analistas reforçam sua tese com o fato de que o capex da Petrobras foi 30% inferior ao previsto no PE. “Nossa visão é de que a geração de FCF possa ser maior do que o esperado em 2024”, afirmam os analistas do banco.

Sem entrar no campo das projeções, Anderson Santos, da Matriz Capital, frisa que a Petrobras tem demonstrado “eficiência na alocação de capital”, focando em projetos de alta rentabilidade e otimizando seus investimentos. Ele afirma que mesmo com a alta recente do dólar, impactando em parte dos custos da companhia, poderá ser um ponto favorável. “Já que suas receitas de exportação de petróleo e derivados são denominadas em dólares”, completa.

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