- O valor de mercado dos ativos de longo prazo dos bancos americanos caiu US$ 620 bilhões em 2022
- O SVB tinha mais de 78 por cento dos ativos financiados por depósitos não segurados, enquanto o banco médio americano tem cerca de apenas 25%
Cerca de 190 bancos norte-americanos podem correr o mesmo risco de falência que o Silicon Valley Bank (SVB), segundo conclusão de um estudo realizado pelas faculdades de Columbia, Stanford, Kellogg School e Chicago Booth, entre as mais renomadas dos Estados Unidos. A quebra do SVB foi um alerta para a crise do setor bancário no país.
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O estudo afirmou que, como resultado do aumento das taxas de juros praticada pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) o valor de mercado dos ativos de um banco médio no país se tornou cerca de 9% menor do que seu valor no papel. O sistema bancário dos EUA acumulou US$ 2,2 trilhões em perdas não realizadas somente no ano passado.
A pesquisa analisou mais de 4.800 bancos norte-americanos para avaliar sua exposição aos riscos que causaram a falência do SVB – saiba tudo sobre o caso aqui. Estudo publicado na Social Science Research Network chegou a conclusões similares a este das universidades dos EUA.
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Um exemplo de clara preocupação do risco que os bancos norte-americanos correm, e também outras instituições financeiras do mundo, ocorreu durante um discurso feito poucos dias antes da quebra do SVB pelo presidente da Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC, órgão equivalente ao Fundo Garantidor de Créditos brasileiro), Martin Gruenberg. Na ocasião, ele disse que o valor de mercado dos ativos de longo prazo dos bancos dos EUA recuou US$ 620 bilhões em 2022.
Como o SVB quebrou
De acordo com o estudo, o que levou o SVB à falência foi uma quantidade imensa de perdas não realizadas junto com um ambiente de juros altos e, principalmente, uma grande base de depositantes não segurados.
Os clientes cujos depósitos são segurados pela FDIC tendem a não retirar seu dinheiro, porque sabem que o órgão serve como garantia mesmo se o banco falir. O SVB, no entanto, tinha uma parcela extraordinária de clientes que não eram cobertos pelo órgão, que garante depósitos de até US$ 250 mil. O SVB tinha mais de 78% dos ativos financiados por depósitos não segurados, enquanto um banco médio norte-americano tem, geralmente, cerca de 25%.
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Isso fez com que os clientes do SVB, a partir do momento que o banco declarou prejuízo na venda de Treasuries (títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano) e títulos lastreados em hipotecas do governo dos EUA, retirassem US$ 42 bilhões em um único dia. O SVB faliu um dia depois do acontecimento.
Como os demais bancos podem falir
De acordo com o estudo, as perdas não realizadas dos bancos não são refletidas nos balanços, mas podem ser calculadas marcando os investimentos pelo seu valor atual de mercado. No caso do SVB, entre o início de março de 2022 e o início de março de 2023, o valor de mercado dos ativos caiu quase 16%, ou US$ 34 bilhões.
Dessa forma, o estudo deflacionou os investimentos de longo prazo mantidos nas carteiras dos bancos e chegou ao resultado de que os ativos de um banco médio dos EUA perderam cerca de 10% de seu valor no ano passado. Além disso, cerca de 11% dos bancos norte-americanos tinham perdas não realizadas piores do que o SVB. “Se o SVB falisse apenas por causa das perdas, mais de 500 outros bancos também deveriam ter falido”, disse o estudo.
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No pior cenário, se todos os clientes bancários não segurados sacassem todo o seu dinheiro dos bancos do país, mais de 1.600 instituições financeiras ficariam sem fundos suficientes para cobrir seus depósitos segurados, atingindo US$ 2,6 trilhões em depósitos totais, e exigiria que o FDIC pagasse US$ 300 bilhões, disse o estudo.
Em um cenário mais condizente com a realidade, caso metade dos clientes decidissem sacar seu dinheiro, isso forçaria o FDIC a gastar US$ 10 bilhões para proteger depósitos em quase 190 bancos, que estariam suscetíveis à mesma situação do SVB.