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BV tem queda no lucro sob a sombra do caso Americanas

Banco encerrou o quarto trimestre de 2022 com lucro líquido recorrente de R$ 279 milhões

BV tem queda no lucro sob a sombra do caso Americanas
Fachada Americanas 2023. Crédito: Ueslei Marcelino/Reuters.

O banco BV (ex-Votorantim) encerrou o quarto trimestre de 2022 com lucro líquido recorrente de R$ 279 milhões, queda de 33,8% em relação ao mesmo intervalo de 2021, segundo balanço divulgado nesta quarta-feira. O banco atribui a redução aos maiores investimentos em tecnologia e também a uma provisão específica no segmento de atacado – movimento visto em outros bancos e que permite inferir que o cliente em questão é a Americanas.

O banco é um dos credores da companhia, que entrou em recuperação judicial em janeiro, com uma exposição de R$ 206 milhões que está sob disputa na Justiça. A provisão do caso específico, que não tem o nome do cliente citado, fez com que o banco apresentasse retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) de 9% no trimestre, queda de 5,5 pontos porcentuais em um ano.

Ao Broadcast, o CEO do BV, Gabriel Ferreira, não citou o nome do cliente, e também não informou quanto do crédito foi provisionado. Ele destacou, entretanto, que o BV estava garantido por depósitos, que utilizou para liquidar a dívida após a companhia informar, em fato relevante, um rombo contábil de R$ 20 bilhões.

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“Tínhamos um colateral bastante estabelecido. Portanto, na nossa visão, declarar o vencimento antecipado era o correto a ser feito, e é isso que estamos discutindo na Justiça”, afirmou ele.

O BV fez a liquidação e zerou a exposição à empresa antes de a Americanas obter na Justiça proteção contra execuções de dívida, como mostrou o Broadcast. Desde então, a defesa do banco tenta na Justiça obter a garantia de que não terá de desfazer a operação, o que implicaria em devolver o dinheiro à varejista e voltar a ser credor.

Para Ferreira, o primeiro impacto do caso foi sobre as emissões de dívida, com investidores e gestores tendo de digerir o impacto das perdas com os papéis da empresa. No crédito, ele vê efeitos mais localizados, e disse que não houve restrições de parte do banco às operações de risco sacado, que foram o epicentro do problema.

“Isso não quer dizer que não tenha acendido um alerta de monitoramento na cadeia de fornecimento ou em outras indústrias que fazem uso desse tipo de mecanismo (o risco sacado)”, afirmou. “Seja no BV, seja no mercado, vai haver um momento de maior conservadorismo.” Segundo ele, há efeitos colaterais positivos, como um possível impulso ao registro de duplicatas e às discussões de um novo marco legal de garantias.

Recuperação

Em 2022, o lucro do BV foi de R$ 1,47 bilhão, queda de 6,6% em relação ao ano anterior, mas ainda assim o segundo maior da história, com retorno de 12,2%. O banco atribui a retração ao cenário macroeconômico, que cobrou seu preço na inadimplência dos brasileiros e teve impacto em especial no financiamento de veículos, que responde pela mais importante carteira da instituição.

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O BV destaca que, no ano passado, houve uma queda de 12,2% na quantidade de veículos leves financiados na comparação com 2021, naquele que é o maior choque de demanda do setor nos últimos dez anos. A escalada da inflação elevou os preços dos automóveis usados em 50% nos últimos dois anos, o que, combinado com o aumento dos juros, reduziu a capacidade de financiamento das famílias.

O CEO do BV afirmou que a demanda por financiamentos começou a dar sinais mais positivos na virada do ano, e que janeiro de 2023 já foi mais positivo que o mesmo mês do ano passado. “Na inadimplência, imaginamos uma pressão no primeiro semestre, mas começando a convergir para patamares menores. A grande incerteza é a dinâmica macroeconômica, mas é difícil imaginar que 2023 será tão desafiador quanto 2022.” A inadimplência da carteira do banco foi de 4,9% no critério acima de 90 dias, alta de 0,1 ponto porcentual em um trimestre. No atacado, ficou estável em 0,2%, enquanto no varejo subiu 0,3 ponto, para 6,2%.

Diversificação

Ainda assim, o BV elevou a carteira de crédito em 8,6% em um ano, para R$ 82,9 bilhões. Os automóveis usados responderam por 49,5% do total, com R$ 41 bilhões (-2,2%); o atacado, por 30,4%; e o financiamento de painéis solares, os cartões de crédito e as pequenas e médias empresas, juntos, ficaram com 20,1% do total.

Esta terceira parte da carteira do banco é uma das apostas para os próximos anos. O BV quer diversificar a atuação no crédito, e no financiamento a painéis solares, já chegou à liderança, com R$ 4,6 bilhões em carteira, 85% a mais em um ano. Há ainda vertentes de serviços que trazem rentabilidade “na veia”, porque dispensam alocação de capital. São os casos da corretagem de seguros e também da cessão de infraestrutura bancária a terceiros, o chamado Bank as a service.

“Em Bank as a service, a operação está chegando a um patamar muito interessante, gera cerca de R$ 100 milhões de receita líquida de capital”, diz Ferreira. Ele destaca que com o Bankly, parte do pacote que o BV agregará na operação com o Méliuz anunciada em dezembro, essa frente será fortalecida. “Teremos a maior operação do Brasil, com uma receita que tende a duplicar ano contra ano.”

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