O descolamento das expectativas de inflação em relação à meta tem sido apontado como o principal fator para o aumento da taxa, já que até os porta-vozes do BC têm dito que estão desconfortáveis com esse movimento – que não retrocede.
Para piorar, os agentes têm se mostrado ainda mais desconfiados em relação à questão fiscal, que, se por um lado pode ter ajudado o crescimento surpreendente do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre – veja aqui -, de outro é visto como um redutor da eficiência da política monetária.
Na segunda-feira (16), a pesquisa Focus revelou que a mediana das estimativas para a Selic no fim do ano seguiu em 11,25% aa, mas que subiu de 10,25% para 10,50% aa no encerramento de 2025.
O mesmo relatório mostrou que a projeção suavizada para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 12 meses à frente ultrapassou a marca dos 4,00% e que a relação entre déficit primário e PIB seguiu em 0,6% para o fim de 2024 e em 0,75% em dezembro do ano que vem.
As previsões para a alta do juro em setembro chegaram a ser maiores, lambendo, inclusive, aumentos de 0,75 pp, depois que o Copom escreveu em sua ata que tudo estaria em aberto até a reunião desta terça-feira e quarta-feira (18), inclusive uma elevação da taxa.
Com as falas intensas dos diretores e do presidente da instituição, Roberto Campos Neto, as estimativas foram aparadas. Vale ressaltar que, além de se dizer altamente dependente dos dados macroeconômicos recentes para tomar a decisão, a cúpula do BC fez questão de frisar a importância do que apontam os resultados de seus modelos em relação à inflação e à meta.
Decisão de juros com dois presidentes
Além da grande expectativa pela confirmação do início de um novo ciclo de aperto, a reunião que se encerra nesta quarta-feira (18) contará com “dois presidentes” do BC.
Além do oficial, vem ganhando cada vez mais lupa a comunicação feita pelo atual diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, que foi indicado no fim de agosto pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como o novo comandante do BC a partir de 2025.
Galípolo tomará posse do cargo em janeiro se for aprovado em sabatina da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, marcada para 8 de outubro. Nas últimas semanas, o postulante percorreu gabinetes da Casa para se reapresentar aos parlamentares. Ele contou também com a ajuda de Campos Neto. Esta é a primeira vez que ocorre uma transição deste tipo por causa da lei de autonomia operacional do BC, de 2021, e deve entrar em destaque na decisão da Selic.