Quem não estava posicionado no mercado de ações no final de 2023 perdeu a valorização do Ibovespa, evidenciando um “risco de não tomar risco”. Embora o ambiente ao longo do ano passado já desenhasse um caminho de volta à renda variável, muitos investidores tiveram receio em mudar o formato do portfólio, mas não faz sentido protelar muito mais: há uma janela de oportunidade para aproveitar. A avaliação é de Rodrigo Sgavioli, líder de alocação do research da XP.
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“Não vou dizer que é um ‘céu de brigadeiro’, mas temos uma janela e alguma convicção de que é possível ir tomando mais risco nos portfólios”, afirmou Sgavioli, em entrevista ao Broadcast Investimentos. “Estamos falando desde abril para o investidor ir gradativamente aumentando a parcela da carteira em Bolsa brasileira. Sempre há riscos no meio do caminho, mas às vezes os movimentos acontecem e, se você não está posicionado, você perde. O final do ano passado foi um exemplo bem clássico do risco de não tomar risco”, destaca.
A visão de Sgavioli parte da perspectiva de que, em breve, as economias desenvolvidas iniciarão seus ciclos de afrouxamento monetário. E ele observa que, embora a discussão sobre quanto os cortes começarão – especialmente pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) – seja um tema “quente” entre grandes gestores, para o investidor pessoa física o que interessa é a direção dos juros: para baixo. “Quando o juro cai, a expectativa para a bolsa é melhor”, afirma.
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Assim, se a perspectiva é de que o juro médio global dos próximos 12 ou 24 meses vai ser menor que o juro médio global dos últimos dois anos, os portfólios também ficarão diferentes. Para clientes de perfil mais arrojado, a exposição a small caps tem sido mais relevante, enquanto para os de perfil mais moderado, estratégias de dividendos são uma forma de elevar o peso da Bolsa.
Sgavioli destaca ainda a importância da diversificação. Conforme relatório da XP, em um recorte de janeiro de 2014 a janeiro de 2024, uma carteira de volatilidade média alocada apenas em renda fixa CDI teria valorização de 142%, enquanto uma diversificada (com renda fixa, renda variável e multimercados) ganharia 172,9%. Com exposição internacional então, a alta seria de 197,4%.
Alocação para o longo prazo
A atuação de Sgavioli na XP envolve construir “esqueletos” ou “matrizes” de alocação para diferentes perfis de risco, a partir dos quais os assessores de investimentos avaliam onde os clientes se encaixarão. “É esse asset allocation estrutural que vai, no longo prazo, trazer retorno”, diz o executivo.
Segundo ele, as carteiras estavam defensivas, focadas em títulos pós-fixados, mas desde 2023 a XP vem trabalhando em um movimento de “mix de indexadores” na renda fixa. “Viemos aumentando principalmente a parcela em títulos atrelados à inflação, diminuindo em pós-fixados e aumentando em prefixados”, conta o executivo, com a ressalva de que os papéis prefixados “andaram muito rápido” no ano passado e os prêmios agora estão “mais estreitos”. “Mas temos uma visão positiva e eles são interessantes para vencimentos curtos e médios neste momento de ciclo de cortes de juros.”
Mas ele revela que, atualmente, a posição estrutural mais relevante nos portfólios tem sido nos títulos atrelados à inflação. É uma exposição que protege contra possíveis choques inflacionários. No Brasil há questões que ainda podem trazer algum estresse, como eventos climáticos trazendo problemas para preços de insumos agrícolas ou o mercado de trabalho ainda apertado incomodando a inflação de serviços. “Não que a inflação vá ter um repique, mas pode não ceder”, afirma Sgavioli, reforçando se tratar de um mecanismo de proteção.
Principais riscos
O principal risco acompanhado pela XP atualmente é o “reinflacionário” em todo o mundo. “Ou pelo menos de uma inflação que insista em não cair por conta de componentes ‘grudentos’, como o de serviços”, diz Sgavioli. Assim, além dos títulos de renda fixa atrelados à inflação, o executivo destaca que as carteiras podem se proteger com ativos reais, como fundos de investimento imobiliário (FIIs).
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Outro risco acompanhado, mas que veio perdendo força ao longo do tempo, é a chance de recessão nos Estados Unidos, segundo o líder de alocação. Não se trata de um cenário-base da XP, mas como havia uma “probabilidade razoável”, algumas alocações táticas em juros americanos foram feitas para proteger a carteira de um ambiente recessivo. Sgavioli explica que, sem a recessão, o investidor já ganharia dinheiro “carregando” a posição, mas com a recessão, o juro “fecharia” mais rápido e haveria uma captura positiva da marcação a mercado.
Uma segunda camada de proteção foi a posição em ouro durante alguns meses. O metal precioso tende a se beneficiar do cenário de queda dos juros americanos, mas a XP acompanhava mais pela questão geopolítica.