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Gigantes da educação com desconto de 60% na Bolsa. Oportunidade ou risco?

Yduqs (YDUQ3) e Cogna (COGN3) lideram perdas no IBOV, com incertezas sobre juros, EAD e cursos de medicina

Gigantes da educação com desconto de 60% na Bolsa. Oportunidade ou risco?
Alta de juros, mudanças no EAD e alta oferta de cursos de medicina preocupam analistas. (Foto: Envato Elements)
  • Com exceção da Azul (AZUL4), que enfrenta problemas financeiros, os dois piores desempenhos do Ibovespa até o fechamento desta quarta-feira (25) pertenciam a Yduqs (YDUQ3) e Cogna (COGN3)
  • Para especialistas, o desempenho reflete uma conjunção de fatores, que passa por desafios do próprio setor, mas também pela reviravolta recente do cenário macroeconômico
  • Em meio às incertezas, as quedas de mais de 60% na Bolsa representam um risco ou uma oportunidade? As duas coisas. Entenda

As gigantes do setor de educação estão “de recuperação” na Bolsa em 2024. Com exceção da companhia aérea Azul (AZUL4), que enfrenta problemas financeiros, os dois piores desempenhos do Ibovespa até o fechamento desta quarta-feira (25) pertenciam a Cogna (COGN3) e Yduqs (YDUQ3) – ações que subiram muito em 2023 e agora veem boa parte dos ganhos ir embora este ano.

A YDUQ3 acumula uma queda de 58,77% no ano, cotada a R$ 9,08. Já a COGN3 cai 64,47%, a R$ 1,24. Dentre os 86 papéis que compõem a carteira teórica do Ibovespa, os grandes players de educação só ficam atrás da desvalorização de 68,14% acumulada pela AZUL4.

Para especialistas, o desempenho reflete uma conjunção de fatores, que passa por desafios do próprio setor, mas também pela reviravolta recente do cenário macroeconômico. Em meio às incertezas, as quedas de mais de 60% na Bolsa representam um risco ou uma oportunidade? As duas coisas.

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Na primeira metade de 2023, as empresas de educação chegaram a liderar os ganhos do Ibovespa, impulsionadas por resultados expressivos e pelo sentimento mais positivo de investidores em relação à economia do País. À época, dados mais positivos de inflação deram espaço para o BC iniciar o ciclo de cortes na taxa Selic e a expectativa geral era de que 2024 traria a continuidade desse afrouxamento monetário.

Mas não foi o que aconteceu. A Selic caiu de 13,75% para 10,5% entre agosto de 2023 e maio de 2024. Em setembro, foi elevada para 10,75% ao ano. E as projeções do Boletim Focus indicam que ainda deve subir até 11,50% este ano.

“Deterioração do cenário fiscal, inflação, dólar se apreciando, tudo isso pesou na decisão do Banco Central de aumentar a taxa Selic. Mas esse cenário não é favorável para as empresas do setor de educação, que andam mais quando a trajetória é de queda de juros”, destaca Flávia Meireles, analista da Ágora Investimentos.

A abertura da curva de juros brasileira penaliza empresas ligadas à economia doméstica. No geral, o juro mais elevado impacta diretamente o resultado financeiro das companhias, mas este não é o único fator de pressão no caso do setor de educação. Rafael Barros, head de saúde e educação do research da XP, explica que a atividade econômica mais fraca, fruto da restrição de política monetária, também prejudica esses modelos de negócio.

“O juro permanecendo alto por mais tempo, a disponibilidade de renda dos alunos ou dos estudantes que podem vir a se matricular reduz. Isso limita a captação de alunos das empresas, que acabam obrigadas a serem um pouco mais agressivas em descontos e bolsas”, afirma Barros.

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Tudo isso em um momento em que os resultados trimestrais também têm decepcionado o mercado. No balanço referente ao 2º trimestre deste ano, a Yduqs informou lucro líquido de R$ 24,8 milhões, uma queda de 22,5% na comparação com o mesmo período do ano passado. Já a Cogna reportou um EBITDA 3% abaixo do esperado por analistas.

A surpresa negativa nos números fez os dois papéis estarem entre as maiores quedas do Ibovespa no mês passado, como mostramos aqui.

“O setor teve uma performance muito forte ano passado, à medida em que as empresas foram apresentando resultados com sinais de recuperação ao longo dos trimestres. Mas o ritmo dessa melhoria diminuiu esse ano”, explica Barros, da XP.

A expectativa, segundo ele, era de continuidade da melhora nas margens e geração de receita, que está acontecendo, mas em um ritmo mais lento do que o esperado. “O desempenho agora é quase que uma correção daquela performance muito positiva no ano passado.”

Dúvidas no setor de educação

O desempenho negativo em 2024 não é exclusividade de Yduqs e Cogna. Fora do Ibovespa, as outras ações do setor também amargam quedas: Ânima (ANIM3) cai 40,31%, Bahema (BAHI3), 19,29%; Cruzeiro do Sul (CSED3), 35,04%; e Ser Educação (SEER3), 22,52%.

Gustavo Akamine, analista da Constância Investimentos, explica que há certa decepção em relação a programas sociais pesando sobre o setor. No início do novo mandato de Lula como presidente, em 2023, o mercado esperava que a revisão de benefícios como Minha Casa, Minha Vida e o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) poderia impulsionar as empresas de construção civil e educação, respectivamente.

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“Ao longo desse terceiro governo de Lula, alguns programas sociais têm evoluído, como o Minha Casa e Minha Vida. Por outro lado, um outro caminho que talvez pudesse ter bastante espaço, dado o histórico de dos mandatos anteriores, seria justamente o de educação, em especial a educação superior com o Fies”, destaca.

E há ainda outras incertezas rondando o setor. Um relatório da Ágora Investimentos publicado no último dia 18 discute um outro ponto que tem preocupado o mercado: as mudanças regulatórias no ensino à distância (EAD) e as perspectivas para os cursos de Medicina em meio ao aumento contínuo da oferta.

O documento discorre sobre um impacto negativo em geral para empresas do setor de educação listadas na Bolsa. Uma regulamentação mais rígida do EAD pode impactar as matrículas e margens do segmento – a modalidade de ensino representa aproximadamente 45% do Ebitda da Cogna e cerca de 40% da Yduqs, por exemplo.

E o desequilíbrio entre a oferta e a demanda dos cursos particulares de medicina está começando a aparecer e deve ser agravado com a forte expansão de oferta à frente. A graduação é responsável por aproximadamente 45% do Ebitda da Ânima e 30% da Yduqs. “Estamos mais cautelosos em geral com o setor devido ao fraco impulso dos lucros, alta alavancagem financeira e riscos regulatórios”, diz o documento.

Oportunidade ou risco?

Apesar das incertezas que pensam sobre as ações de Yduqs e Cogna, as corretoras ainda mantêm algumas das recomendações de compra para os papéis. O entendimento é de que há oportunidade e risco; com cautela maior e foco no longo prazo, pode haver sim espaço para investimento.

O consenso do Broadcast tem 5 recomendações para YDUQ3, quatro de compra e uma neutro. As opiniões sobre COGN3 já são mais divididas: três analistas têm call de compra, enquanto três recomendam manutenção das posições.

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A Ágora é uma das casas que estão posicionadas assim. “Essa recomendação de compra para Yduqs é visando o longo prazo. No curto prazo, estamos mais cautelosos com o setor, não só por causa das questões de cenário macroeconômico, mas pelo momento de incertezas em relação ao ensino à distância, porque as mudanças ainda não foram anunciadas”, ressalta a analista Flávia Meireles.

A XP mantém a recomendação de compra para as duas empresas. O call positivo, no entanto, não tem tanto a ver com a queda acima de 50% a que os papéis são negociados atualmente na Bolsa. Ainda que o ritmo de recuperação esteja mais lento do que o esperado, a corretora entende que Cogna e Yduqs seguem entregando bons resultados na medida do possível, o que já justificaria uma precificação mais atrativa das ações.

“Gostamos muito do setor de educação, principalmente pelo valuation e pela atratividade dos níveis de preço, independentemente da queda. Mas entendemos que há alguns pontos de incerteza que acabam tirando muitos investidores desses papéis e limitando a alta das ações”, diz Rafael Barros.

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