(Por Aléxis Cerqueira Góis, especial para o E-Investidor) – Antes da pandemia, as ações do Banco do Brasil (BBAS3) estavam cotadas no patamar mais alto da sua história desde novembro de 2018, acima dos R$ 40. O mercado estava animado com a perspectiva de um governo federal mais favorável à privatização da instituição, o que valorizaria a empresa diante da redução do risco de falta de governança.
Mas o coronavírus chegou, em março de 2020, e derrubou as bolsas de valores de todo o mundo. Em menos de um mês, as ações do banco derreteram de quase R$ 50 para menos da metade do preço, acompanhando o movimento do Ibovespa, que saiu de 113 mil pontos para 67 mil pontos no mesmo período.
Com o avanço da retomada econômica, a Bolsa de Valores se recuperou e até superou o desempenho de antes da crise sanitária. No entanto, a cotação do BBAS3 descolou da tendência, realizando três “voos de galinha” no gráfico durante os últimos 18 meses e estacionando em um nível abaixo dos R$ 30.
Cenário do setor bancário
Setor bancário ainda não se recuperou totalmente da crise causada pela pandemia. (Fonte: Shutterstock/rafastockbr/Reprodução)
Esse histórico de dificuldade de recuperação das cotações ao nível anterior à pandemia não é exclusividade do Banco do Brasil. O valor das ações das maiores instituições bancárias, ainda que em menor grau, não conseguiu se recuperar da crise.
A cotação do BBAS3 está próxima dos 55% em relação ao patamar de antes da chegada da covid-19, enquanto o Itaú Unibanco (ITUB3; ITUB4) está com um valor próximo a 80%, o Santander (SANB11) está a 70% e o Bradesco (BBDC3; BBDC4) um pouco acima de 60%.
Depois de uma queda brusca no lucro das instituições em 2020, o setor já recuperou os resultados no primeiro semestre de 2021. No entanto, os analistas do mercado apontam que uma “tempestade perfeita” impede a retomada da valorização das ações em um curto prazo.
O setor tem enfrentado um cenário de competição com as fintechs, perda de atratividade dos dividendos dos ativos frente aos rendimentos do Tesouro Prefixado e a queda no auxílio emergencial.
O Banco do Brasil, entretanto, sofre uma influência negativa a mais. O risco de interferência do governo federal na instituição ainda preocupa os investidores.
Análise do Banco do Brasil
O Banco do Brasil aumentou e melhorou a qualidade de seus empréstimos, diminuindo a exposição à inadimplência e à interferência política. Além disso, a carteira de crédito alcançou R$ 766 bilhões no segundo trimestre de 2021, o que representa um crescimento de 6,11% nos 12 meses anteriores a junho.
Publicidade
O volume de empréstimos para grandes empresas foi reduzido, enquanto os financiamentos consignados, de menor risco, saltaram mais de 50% no período. Os dois setores respondem, cada um, a 15% do total de crédito concedido pelo BBAS3, um equilíbrio interessante para a instituição bancária.
Líder do setor rural, com 54% de participação do mercado, a companhia se beneficia de vantagens regulatórias. Isso é possível por conta de um custo de captação mais baixo a partir dos depósitos em poupança, uma grande capilaridade, um forte relacionamento com os produtores do agronegócio e a participação no ambiente digital.
Atualmente, 90% das transações dos clientes do Banco do Brasil são realizadas por meio do Internet Banking e de seu aplicativo. Essa migração possibilitou o aumento do número de negócios fechados integralmente via digital — que representam 46% do volume contratado de crédito pessoal, 41% no financiamento de veículos e 27% nos empréstimos imobiliários.
Isso é reflexo dos mais de R$ 22,3 bilhões aplicados em tecnologia desde 2015. Os investimentos visam melhorar a eficiência operacional, reduzir as perdas, além de expandir os negócios e melhorar o atendimento ao cliente.
Preço-alvo do BBAS3
A cotação das ações do Banco do Brasil está com um alto valor de desconto. (Fonte: Shutterstock/Sulastri Sulastri/Reprodução)
Depois da divulgação do resultado do segundo trimestre de 2021 e da turbulência causada pelo risco de ingerência política no final de agosto, a maioria das corretoras de investimentos estabeleceram um preço-alvo das ações do BBAS3 próximo dos R$ 50.
Publicidade
Apesar de uma avaliação de consenso, as recomendações dos analistas não são unânimes quanto à oportunidade de aquisição dos ativos.
O Safra reduziu o preço-alvo de R$ 50 para R$ 48, depois de uma revisão dos números que considerou novas premissas macroeconômica, a atualização de guidance da instituição e o aumento do custo de capital próprio do Banco do Brasil, que saiu de 14,1% para 14,6%. Ainda assim, manteve a recomendação de compra das ações.
O BTG Pactual concorda no valor ideal para a cotação do BBAS3, estimada em R$ 48. No entanto, prefere ficar neutro quanto a recomendar a aquisição dos papéis. A corretora aponta que o lucro da instituição bancária deverá ser um pouco inferior durante o segundo semestre. A Ativa Investimentos também prefere manter a sua recomendação neutra para a ação. Entretanto, avalia o preço-alvo em um nível bem mais abaixo, a R$ 35.
Em sentido contrário, a XP Investimentos destaca a melhoria dos custos e taxas operacionais no último balanço do banco. A corretora calcula o preço-alvo do BBAS3 em R$ 52, com upside de 70% e forte recomendação de compra.