- O mês de setembro deste ano foi marcado pelo registro de maior saque da poupança na série histórica, a justificativa é dada pela alta da inflação
- Para especialista, a saída da poupança acontece porque os preços estão mais caros e as famílias precisam sacar para ter um valor extra e, assim, conseguir pagar as contas
- Uma porcentagem na Bolsa, outra fatia em renda fixa atrelada à inflação e posição em uma moeda forte como o dólar pode dar uma segurança para o investidor em cenário de inflação alta, desde que atenda ao respectivo perfil de investidor
O mês de setembro foi marcado pelo registro de maior saque da caderneta de poupança na série histórica, a justificativa é dada pela alta da inflação. A rentabilidade da poupança descontada a inflação medida pelo IPCA em 12 meses no mês de setembro de 2021 é de -7,46%. Na contramão desse movimento, o Bitcoin teve valorização de 250,27%, descontada a inflação.
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Na sigla IPCA, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo no mês de setembro teve alta de 1,16%. Considerando o acumulado dos últimos 12 meses, o valor chegou a 10,25%, enquanto de janeiro a setembro de 2021, o acumulado foi de de 6,90%. Os dados foram levantados pela Economatica.
O levantamento também apontou o Ibovespa como a segunda classe com rentabilidade positiva em 12 meses, além da principal criptomoeda. “Nominalmente e entre as aplicações tradicionais, o Ibovespa é o único que tem rentabilidade positiva com 17,31%”, aponta relatório da plataforma.
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Esta é a 13ª vez consecutiva de perda do poder aquisitivo, segundo a Economatica. A maior sequência de meses em queda de poder aquisitivo aconteceu entre fevereiro de 2015 e setembro de 2016 com 20 meses de perda de poder aquisitivo em 12 meses.
“Não registramos queda de poder aquisitivo em níveis de -7,46% desde o mês de outubro de 1991, quando o poupador perdeu -9,72% em 12 meses”, diz o relatório.
Vale ressaltar que a rentabilidade da poupança é calculada em 70% da Selic + Taxa Referencial (TR). Na última atualização do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central do Brasil, a Selic (taxa básica de juros) marcou 6,25%. O projetado para o acumulado de 2021 é de 8,25%. O ganho real, retorno que o investidor deve buscar, é definido pelo prêmio entre a rentabilidade do ativo menos a dedução inflacionária.
Razões
Para o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, existem dois fatores que explicam esse movimento. O primeiro é a migração para a renda fixa, ou seja, uma parcela significativa de pessoas naturalmente passa a alocar em ativos de menor risco, mas que podem propiciar melhores prêmios.
“A poupança acaba sendo uma opção muito fácil, por ser pouco burocrática, ter um calendário de liquidez e, mesmo que ela não renda muito, é mais fácil entender, principalmente por não ter imposto”, explica. Entretanto, com o aumento da inflação, outros ativos tornam-se mais atrativos por cobrirem o crescimento.
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Outro fator, segundo ele, acontece quando os preços estão mais caros e as famílias precisam sacar para conseguir pagar as contas.
“A pessoa simplesmente tira da poupança e coloca na conta corrente ou gasta diretamente da poupança. Isso é, na verdade, uma consequência do movimento que estamos observando agora: uma inflação muito alta e a atividade econômica ainda se recuperando. Existem falhas que refletem nos investimento”, aponta Vieira.
Leonardo Milane, sócio e economista da VLG Investimentos, aponta ainda que a poupança sempre vai render menos que ativos conservadores, porém, ele atribui o movimento de saída da poupança à maior educação financeira dos investidores.
De acordo com Milane é justamente a maior conscientização aliada à diminuição do poder de compra. “Ativos atrelados à inflação como IPCA+ é um golaço que o investidor pode marcar porque, diferente da poupança, ele vai cobrir a perda da inflação e ainda vai ter um prêmio extra”, aponta.
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Segundo Alexandre Marques, especialista de investimentos da Ágora, houve uma mudança de comportamento do investidor. “Quando é visto o noticiário sobre o aumento da inflação, o brasileiro não fica mais parado como antes, ele mudou a cabeça. Com o mercado de investimentos mais desenvolvido, existem mais informações e existem ativos com ganhos reais com tickets acessíveis”, explica.
Onde ter segurança contra a alta da inflação?
Milane ressalta que, mesmo que o Ibovespa tenha marcado positivo, se deduzido a inflação, é necessário ‘ter estômago’. “Com um cenário político azedo, é essencial se preparar para o pior, desejando que isso não aconteça. Um escudo nos investimentos é a diversificação”, aponta.
Segundo o economista, uma porcentagem aplicada na Bolsa, outra fatia em renda fixa atrelada à inflação e posição em uma moeda forte como o dólar pode dar uma segurança para o investidor.
Para Marques, da Ágora, a proteção da carteira em busca do ganho real está em ativos atrelados ao IPCA, desde LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), que não são tributadas, até os Certificado de Depósito Bancário (CDB) ou mesmo Títulos Públicos.
Entretanto, segundo ele, é importante ter atenção às taxas cobradas e à liquidez dos investimentos.
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