- Processo inclui as operações na Colômbia, no Chile, no Peru e no Equador e é um reflexo do impacto da crise do coronavírus no setor
- Para especialista, medida pode influenciar os ânimos dos investidores com relação às companhias brasileiras
- Veja o que dizem os especialistas sobre recomendação, ou não, dos papéis das companhias brasileiras após o anúncio de recuperação judicial da Latam
Na terça-feira (26), a companhia aérea Latam Airlines entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos. O processo inclui as operações na Colômbia, no Chile, no Peru e no Equador e é um reflexo do impacto da crise do coronavírus no setor. As afiliadas no Brasil, na Argentina e no Paraguai, no entanto, não entraram no pacote.
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O E-Investidor conversou com especialistas para entender a extensão dos efeitos da recuperação judicial de uma das maiores companhias aéreas da América Latina.
Um péssimo “primeiro passo” para o setor
Segundo Henrique Estéter, analista da Guide Investimentos, o pedido de recuperação judicial da Latam é um indicativo bastante negativo para o setor aéreo. Pouco mais de duas semanas atrás, a Avianca Holdings também entrou com o processo. “A Latam acaba se consolidando como o segundo grande grupo aéreo a pedir recuperação”, disse. “É uma clara demonstração de que a companhia está caminhando para graves problemas financeiros.”
Para o especialista, a medida pode até mesmo influenciar os ânimos dos investidores com relação às companhias brasileiras, que chegaram a receber ajuda financeira do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na última semana. “Por isso as operações da Latam no Brasil não foram incluídas no pedido de recuperação, mas as medidas não mudam as perspectivas para o setor como um todo”, explicou.
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Essa também é a opinião de Marcio Loréga, analista da Ativa Investimentos. “Após o anúncio do pacote do BNDES as ações da Gol e Azul dispararam, já que muitos investidores passaram a ver uma oportunidade nos papéis”, disse. “Mas esse pedido de recuperação judicial da Latam veio para mostrar que talvez não seja o suficiente”, afirmou o especialista.
Ações da Latam em queda: é hora de comprar?
No início de maio, Warren Buffett, CEO da Berkshire Hathaway e um dos investidores mais famosos do mundo, anunciou que zeraria suas posições em todas as companhias aéreas. Mas isso é realmente o recomendado?
Logo depois do anúncio de recuperação judicial, as ações da Latam caíram 40% em Nova York. Hoje, além de nos EUA, os papéis da empresa são negociados no Chile. “Todo mundo fica receoso e começa a vender as ações para salvar o capital”, disse Loréga. “Qualquer notícia negativa nesse momento de crise tem um peso muito maior.”
Para Hugo Luna, sócio líder de transação e reestruturação da Grant Thornton, o investidor precisa ter cautela antes de pensar em comprar ou vender as ações da companhia aérea. “O impacto no longo prazo vai depender de como o plano de recuperação será estruturado”, explicou.
Segundo os especialista, é preciso entender que recuperação judicial não quer dizer falência. “A Delta Airlines e a American Airlines entraram nesse processo no passado, por exemplo, e conseguiram sair recuperadas”, disse Luna.
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Já Leonardo Nascimento, sócio-fundador da Urca Capital Partners, vê um futuro mais claro à frente. “A empresa tem condições de reestruturar suas dívidas e manter suas operações e já recebeu sinalização positiva de seus principais acionistas com reforço de capital.”
Recomendações para Gol e Azul
Os especialistas divergem sobre a recomendar, ou não, os papéis das companhias brasileiras após o anúncio de recuperação judicial da Latam. Entenda as principais posições.
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Recomendam
“Nós já recomendávamos os papéis dessas companhias, pela questão das empresas terem uma perspectiva de crescimento no longo prazo, mas reconhecemos que o atual cenário está desfavorável. Em resumo, é uma oportunidade para o investidor que aceita um maior nível de risco e espera retorno em um prazo bastante longo.” (José Cataldo, estrategista de análise da Ágora)
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Não recomendam
“Não temos recomendação de compra para esses ativos, mas observamos que o mercado analisa a Gol como tendo maior potencial para se recuperar, pelo histórico de resiliência em outras outras crises. Nós vimos também que o aluguel de ações da Azul disparou, o que significa que os investidores avaliam que os papéis da empresa tem um grande potencial de queda.” (Marcio Loréga, analista da Ativa Investimentos)
“Desde quando começou o coronavírus a gente tem uma recomendação neutra para essas empresas. Acreditamos que existem vários outros papéis com perspectivas muito mais fáceis de serem projetadas ao longo do ano. Os próprios CEOs das companhias aéreas não sabem para onde vai o segmento, então é difícil dar recomendação de compra. As agências de risco estão toda semana rebaixando essas empresas, é imprevisível.” (Henrique Estéter, analista da Guide Investimentos)