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Fiagros são bons pagadores de dividendos, mas há riscos. Veja

Levantamento mostra que a maioria dos ativos do segmento remunera os investidores na casa dos dois dígitos

Fiagros são bons pagadores de dividendos, mas há riscos. Veja
Fiagros investem no setor que é motor da economia brasileira: o agronegócio. (Foto: Envato)
  • Atualmente, o IFIX, índice que mede o desempenho dos FIIs – incluindo os Fiagros –, operam perto da estabilidade no acumulado do ano. Ibovespa, por outro lado, recua mais de 4% até aqui
  • Por serem em sua maioria ativos de crédito agrícola, a rentabilidade dos Fiagros são indexados ao CDI ou ao IPCA. Por causa disso, em um cenário de alta dos juros e da inflação, conseguem ser beneficiados
  • Mesmo pagando dividendos na casa de dois dígitos, os investidores precisam levar em consideração os riscos de se investir em um segmento ainda em desenvolvimento

Quem investe ou pretende investir em Fiagros, os Fundos de Investimentos nas Cadeias Produtivas Agroindustriais, viu na semana passada uma desvalorização forte acontecer em um dos ativos geridos e administrados pelo BTG Pactual . Na quarta-feira (22) e na quinta-feira (23), o BTG Pactual Terras Agrícolas (BRTA11) caiu 19,59% no acumulado dos dois pregões. Mas a desvalorização do BRTA11 não precisa preocupar tanto os investidores de Fiagro: trata-se apenas de um movimento pontual do ativo, e não de uma maré negativa nos Fundos Imobiliários (FIIs) de agro, explicam especialistas ouvidos pelo E-Investidor.

Por meio de um fato relevante, o BTG comunicou ao mercado que a Fazenda Vianmancel, que representa uma fatia de cerca de 23% do BRTA11, entrou com um pedido de recuperação judicial. O FII em questão compra as propriedades dos próprios operadores das terras, que passam a pagar um aluguel para utilizá-las, como é o caso da fazenda, que fica no município de Nova Maringá (MT), uma região conhecida por possuir alto nível de produtividade de soja e milho por hectare.

O anúncio pegou o mercado de surpresa, não só pela questão judicial, mas pela possibilidade de queda dos aluguéis mensais recebidos pelo BRTA11 até que o BTG conseguisse resolver a questão com o inquilino. Para Felipe Paletta, sócio e analista da Monett, a queda de quase 20% no preço do ativo é uma reação até exagerada por parte do mercado, “Hoje essa fazenda representa basicamente 23% da receita mensal do fundo em termos de aluguel, mas o fundo basicamente caiu esse mesmo percentual. Tem um movimento exagerado, porque os investidores colocam na conta o pior dos cenários, que seria uma perda patrimonial definitiva”, explica.

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Paletta afirma que o BTG tem formas de resolver a questão e que isso não deve afetar o BRTA11 no longo prazo, tampouco prejudicar o cenário para os FIIs de agro. Atualmente, o IFIX, índice que mede o desempenho dos fundos de investimentos imobiliários – incluindo os Fiagros –, operam perto da estabilidade no acumulado do ano. Um resultado de certa forma positivo frente à queda de mais de 4% do Ibovespa até aqui.

“É curioso esse movimento dos fundos imobiliários se segurando frente a uma queda do Ibovespa. O movimento coincide com o próprio movimento da taxa de juros, que os FIIs seguem bem de perto em termos de desempenho”, diz o analista da Monett.

Por serem em sua maioria ativos de crédito agrícola, a rentabilidade dos Fiagros são indexados ao CDI ou ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Por causa disso, em um cenário de alta dos juros e da inflação, conseguem ser beneficiados. “Por causa da indexação, eles conseguem repassar de forma quase imediata essa correção monetária nos contratos. Isso tem favorecido dividendos dos Fiagros”, destaca Caio Araújo, analista da Empiricus.

Atrativos pelos dividendos

Desde que as primeiras opções de Fiagros foram lançadas, os ativos têm atraído cada vez mais investidores por causa da remuneração de dividendos. Além de possuírem as mesmas vantagens dos FIIs, como a isenção do Imposto de Renda (IR) sobre os rendimentos para pessoas físicas, essa classe de ativos está atrelada ao setor do agronegócio, muito forte no País e considerado resistente às volatilidade do mercado.

“É uma ótima maneira de rentabilizar a carteira dos clientes que precisam de renda mensal, porque os Fiagros pagam o recurso na conta do cliente de maneira isenta e ainda têm uma rentabilidade superior aos produtos médios dos FIIs, já que são, na sua grande maioria, pós-fixados somados a um spread”, explica Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos.

Um levantamento feito pela Vectis Gestão com os 14 Fiagros disponíveis na B3 mostra que a maioria pagou dividendos na casa dos dois dígitos em maio de 2022. Como muitos fundos ainda estão em fase de capitalização, o levantamento da gestora acompanha não só o dividend yield (índice que mede a rentabilidade dos dividendos) no acumulado do ano, mas também a anualização do último dividendo pago para evitar distorções na análise do valor acumulado desde janeiro.

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O sócio e head de crédito da Vectis, Mucio Mattos, destaca que para além da boa rentabilidade oferecida o investimento em FIIs de agro pode ser uma boa alternativa por causa da diversificação e exposição a um setor que representa quase 30% do Produto Interno Bruto (PIB) da economia brasileira. “Apesar da volatilidade na bolsa, o setor agro tende a ser mais defensivo e menos volátil que outros segmentos da economia. É um setor bastante exposto à economia global e que possui boa parte da receita dolarizada podendo, inclusive, ser beneficiado mesmo em um ambiente local menos estável”, diz.

Na hora de escolher em qual ativo investir, é preciso olhar além da remuneração de proventos: “É importante que o investidor analise a equipe de gestão por trás do produto e a sua capacidade de selecionar as melhores oportunidades dentro de um setor tão vasto. É desejável uma carteira relativamente diversificada, tanto em termos setoriais dentro do agro como regionalmente, a fim de mitigar impactos inerentes ao setor, como clima ou preço de commodities”, destaca Mattos.

Apesar de serem uma boa alternativa para compor a carteira do investidor, os Fiagros não devem representar uma parcela muito grande do portfólio, aconselham os especialistas. É um segmento ainda em consolidação e, por isso, arriscado.

“Para o investidor, é preciso tomar um certo cuidado em termos de tamanho de exposição a essa indústria, que ainda é muito nova e pode sofrer com problemas como esse no BTRA11. É um setor relativamente mais arriscado do que os segmentos mais consolidados na indústria de FIIs, mas, por outro lado, a tendência é que a gente veja resultados acima da média no longo prazo”, diz Felipe Paletta, da Monett.

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Na Empiricus, os FIIs do agro são tratados como investimentos alternativos e não o ativo principal da carteira. Caio Araújo, analista da casa, explica que a remuneração dos Fiagros vem junto com um nível de risco elevado, a que os investidores precisam estar atentos.

“Isso envolve a capacidade de pagamentos do devedor, as garantias, a transparência que a gestão está entregando ao explicar para o investidor como funciona aquela operação, além de qual o segmento agrícola em que está inserido. O mercado agrícola é cíclico, tem momentos que é bom investir em grãos, tem outros que não. Ter isso em mente é importante”, orienta Araújo.

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