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- Secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, pediu demissão do governo e deixará o posto em agosto
- Especialistas ouvidos pelo E-investidor ressaltam o papel importante de Mansueto no controle de gastos do governo e esperam que o novo nome à frente do cargo dê continuidade a esse trabalho
- A sucessão é algo que deve pesar na resposta do mercado à saída; pelo menos quatro integrantes do próprio Ministério da Economia estão entre os cotados
O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, pediu demissão do governo e irá para a iniciativa privada nas próximas semanas. Ele deixará em agosto o posto que ocupa desde abril de 2018, antes da eleição do presidente Jair Bolsonaro.
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Esta é a primeira perda importante na equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes. Responsável por controlar o caixa do governo, Mansueto ingressou na pasta em 2016, durante o governo Michel Temer.
O substituto é Bruno Funchal, atual diretor de Programas do ministério da Economia e ex-secretário da Fazenda do Espírito Santo. A decisão foi confirmada na tarde de segunda-feira (15). Essa informação foi antecipada pelo Estadão.
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Especialistas ouvidos pelo E-investidor ressaltam o papel importante de Mansueto no controle de gastos do governo e esperam que o novo nome à frente do cargo dê continuidade a esse trabalho.
Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos
“Encaramos com certa neutralidade a saída de Mansueto. Evidentemente, a hora não é a melhor, com a economia ainda ganhando tração e o governo precisando buscar o restabelecimento de conexões e não o término de vínculos. Mansueto era competente e seu nome agradava o mercado porém acreditamos que um substituto que dialogue as mesmas características do antecessor seja suficiente para mitigar qualquer ruído que sua saída tenha causado.
Para o investidor estrangeiro, que segue buscando mercados onde a relação risco x retorno é menos assimétrica, não acreditamos que a saída de Mansueto exercerá grandes mudanças, porém trata-se de mais um evento que corrobora que a atribuição de maior risco ao investir no nosso país tem sua dose de assertividade.”
Paloma Brum, economista da Toro Investimentos
“Mansueto é um nome forte na questão técnica, na sua experiência, na sua carreira, e é também um forte comunicador. Então, no governo, com certeza, a gente vai sentir falta da figura dele, mas não das funções, do papel. Isso o ajuste fiscal, propriamente, que é o que pode preocupar o mercado, já está na Constituição, que é o Teto dos Gastos, já garantindo que quem quer que esteja à frente do Tesouro, o ajuste terá que ser cumprido.
Um outro ponto também, inclusive o Mansueto deixou bem clara essa questão, é que o comprometimento com a continuidade do ajuste fiscal, que ainda precisa continuar neste governo e no próximo também, está com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e com o presidente da República, Jair Bolsonaro, que continuam comprometidos em fazer novas reformas e continuar o controle de gastos públicos no País. O mercado, neste aspecto, não deve repercutir negativamente.
Sobre investidor estrangeiro, principalmente de fundos, que são investidores institucionais, eles não costumam tomar decisões de uma forma não orientada. Como o anúncio dessa saída aconteceu no fim de semana, já tem tempo inclusive de eles terem consultado a equipe técnica deles, (de saber) que impacto que isso traz. A gente parte do princípio que a informação é para todos, então o investidor de fora também deve estar munido dessa informação e não deve reagir negativamente.”
Jefferson Laatus, Estrategista-Chefe do Grupo Laatus
“A saída do Mansueto é complicada por dois motivos: primeiro porque o mercado ficará na dúvida se ele saiu porque ele queria seguir carreira na vida privada ou se ele percebeu que não vai conseguir mais executar um bom trabalho dentro do Governo, que é o que preocupa. O Mansueto até anunciou que vai fazer a transição, mas o mercado não está preocupado com a data em que ele vai sair, mas porquê ele vai sair. E o mercado também vai ficar preocupado com qual vai ser o nome que vai ficar no lugar dele, porque precisa ser um nome técnico, não pode ser em hipótese alguma um cargo por indicação política, até porque a parte fiscal é uma área sensível.
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Apesar de ontem o Mansueto ter dito, em entrevista, que quem define as coisas é o Guedes, o mercado sabe que não. O mercado sabe que o dedo dele é muito importante em todas as decisões, é um cara que segura bem toda essa parte fiscal e não deixa o Governo se endividar mais do que deve, não deixa o Governo correr riscos. Agora é acompanhar, mas o mercado vai precificar, principalmente se questionando sobre o porquê da saída. A notícia impacta o mercado negativamente e a imagem do Brasil.”
Damont Carvalho, gestor de fundos multimercado macro da Claritas Investimentos
“O Mansueto é um dos maiores conhecedores das contas públicas e deu excelentes contribuições ao governo. Sem dúvida, quando alguém muito bom sai, não é o melhor dos mundos. Temos que aguardar para ver quem o substituirá e se as práticas da equipe atual vão se manter, em especial o compromisso fiscal.
O importante é dar sequência ao trabalho realizado pelo Mansueto e pela Ana Paula Vescovi (ex-secretária do Tesouro Nacional), que saiu há algum tempo e foi para o Santander. O Paulo Guedes, o Rodrigo Maia (presidente da Câmara dos Deputados) e o David Alcolumbre (presidente do Senado) precisam seguir firmes para que o propósito fiscalista do governo não se esvazie”.
Michael Viriato, professor do Insper
“O que agente tem que acompanhar para poder dizer se houve perda ou não é quem vai substituir ele. E ninguém é insubstituível, mas é necessário que seja substituído por uma pessoa que tenha o mesmo alinhamento de controle de controle de gastos.
Se olhar, relativamente, a bolsa lá fora cai 2% o índice futuro. O índice futuro daqui cai 2,80%. A princípio, a saída dele, olhando os preços de variação agora, do momento, não está causando nada excepcional. A queda está alinhada com a queda internacional. É sempre bom lembrar que como o Brasil é um país emergente, quando lá fora sofre, a gente aqui acaba sofrendo mais. As quedas relativas de 2% e 2,80% estão bem alinhadas”.
Cristina Helena Pinto de Mello, economista da ESPM-SP
“A motivação que o Mansueto está apresentando para sair é um pouco melhor. Se ele apresentasse discordâncias com relação à forma como está sendo conduzida a política econômica, isso seria absolutamente desastroso. Ele já está conversando com o ministro da Economia sobre sucessores dele. Alguns nomes já foram ventilados. Tudo isso ameniza um pouco o impacto dessa saída, mas com certeza vai ter um impacto faseado.
O que causa uma certa turbulência no mercado é porque ele não anunciou para qual banco privado ele vai. Muito embora ele vá cumprir uma quarentena, a gente sabe que esse banco vai se beneficiar desse profissional, do conhecimento que ele tem não só tecnicamente, mas agora politicamente, porque ele tem acesso a informações que antes ele talvez não tivesse. Isso implica em um aumento de concentração bancária, uma menor competição, em um favorecimento de um dos grandes bancos, em detrimento dos outros. Os bancos que não estão sendo agraciados com a possibilidade de ter um técnico do governo, com informações importantes, são bancos que vão reagir. E são tesourarias com papel importante na bolsa.”
Thiago de Aragão, diretor da Arko Advice e assessor de fundos estrangeiros
“O mercado financeiro fora do Brasil reage com um pouco de preocupação mas também sem ser algo exagerado, porque sempre percebeu o Mansueto como um dos pontos centrais de estabilidade para uma eventual sequência no Ministério da Economia, caso o (Paulo) Guedes saísse por qualquer razão.
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O investidor sentia uma segurança porque tinha alguém lá dentro que trazia uma filosofia muito similar de pensamento (ao do Guedes), e uma experiência muito grande dentro da máquina pública. Então a saída do Mansueto cria esse vácuo. Agora as atenções vão estar voltadas para quem vai ser o substituto dele.”
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos
“A saída futura do secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, gera algum receio na leitura de investidores. O risco de uma piora na condução da sua pasta pode, ou não, se concretizar. De qualquer maneira, nenhuma instituição gostaria de perder um nome tão qualificado. Independente de seu sucessor, ele é considerado um dos melhores do ramo.
Dos nomes que estão sendo cogitados, vemos que a tendência é manter um perfil bastante técnico e que dará continuidade ao bom trabalho realizado até agora. Confirmando alguém, que passe essa impressão, a preocupação de investidores diminui.
Ele já tinha dados sinais anteriormente, de que seu tempo no governo estava mais próximo do final. Um ponto importante é sua postura ao sair. Diferentemente de ministros que deram entrevistas polêmicas ao deixar o governo, Mansueto fala de um legado positivo, no qual acredita que será mantido.”
Alan Gandelman, CEO da Planner Corretora
“O mercado hoje está caindo por causa da história de uma segunda onda do coronavírus, mas também não está caindo tanto. Eu não vejo isso (a saída de Mansueto) como um fato relevante para acentuar uma queda que já está acontecendo ou, se o dia estivesse tranquilo, o mercado caísse.
A minha avaliação é que ele já estava razoavelmente cansado. Ele já vem trabalhando no governo há algum tempo. Em relação para onde ele vai, ninguém sabe mas com certeza é uma proposta bacana e em relação a conflito de interesses, é muito normal pessoas saírem do governo e irem trabalhar em instituições financeiras, montar fundos de investimentos.”
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* Contribuíram Isaac de Oliveira e Jenne Andrade