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A visão de Wall Street sobre o choque criado pela inflação

Investidores e economistas precificam os dados da inflação dos EUA para o mercado financeiro; Veja as análises

A visão de Wall Street sobre o choque criado pela inflação
Os traders aumentaram as apostas para outro aumento de 0,75 ponto percentual da taxa de juros. Foto: Envato Elements
  • O índice S&P 500 chegou a cair 2,7%, enquanto o Nasdaq 100, recuou 3,6%
  • Traders aumentaram as apostas para outro aumento de 0,75 p.p. nos juros, semana que vem
  • "Os mercados estavam focados demais em si mesmos, sem prestar atenção ao cenário atual"

Investidores, analistas e economistas se depararam com um difícil choque de realidade na terça-feira(13) após os números da inflação para o mês de agosto superarem as expectativas e fazerem as ações dos Estados Unidos apresentarem sua maior queda em duas semanas.

O índice S&P 500 chegou a cair 2,7%, colocando-o no caminho para quebrar sua sequência mais longa de bons resultados em mais de dois meses, enquanto o índice Nasdaq 100, repleto de empresas da tecnologia, caiu 3,6%.

As ações subiram nos últimos dias à medida que os economistas previam que os dados do Departamento do Trabalho dos EUA mostrariam outra grande desaceleração no crescimento dos preços no país. Em vez disso, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) aumentou 0,1% em relação a julho e caiu menos que o esperado em comparação com o mesmo período no ano passado.

Em resposta à inflação surpreendente, os traders aumentaram as apostas em outro aumento de 0,75 ponto porcentual da taxa de juros na reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) da próxima semana. Embora alguns funcionários do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) tenham manifestado apoio a outro aumento grande, os mercados de swaps (de proteção) ainda não tinham precificado o valor total de tal mudança.

Aqui está o que Wall Street está dizendo a respeito dos dados da inflação de agosto e o que eles significam para os mercados de ações:

Matt Peron, diretor de pesquisa do grupo de gestão de ativos globais Janus Henderson Investors:

“O relatório do Índice de Preços ao Consumidor foi sem dúvidas negativo para o mercado de ações. Os números maiores que o esperado significam que teremos a pressão constante da política do Fed por meio do aumento da taxa de juros. Isso também adia qualquer ‘mudança do Fed’ esperada pelos mercados no curto prazo. Como advertimos nos últimos meses, ainda não estamos fora de perigo e vamos manter uma postura defensiva com as alocações de ativos.”

Quincy Krosby, estrategista-chefe global da corretora LPL Financial:

“Este relatório garante que o Fed se movimente para uma elevação de 0,75 ponto porcentual na taxa de juros em 21 de setembro. O mercado espera que a inflação, tanto o índice de preços ao consumidor como o indicador que exclui os itens com maior volatilidade a cada mês, diminua, mas apesar da redução dos preços da gasolina a inflação subiu em agosto.”

John Lynch, diretor de investimentos da divisão de gestão de patrimônio do Comerica Bank:

“A trajetória do Índice de Preços ao Consumidor Anual de 9% para 7% deve ser relativamente suave, levando em consideração os preços da gasolina e a oferta de moeda. No entanto, a redução de 7% para 5% pode se mostrar mais desafiadora, com o aperto do Fed e as taxas de juros do mercado mais altas provavelmente por mais tempo do que se prevê atualmente.

Como consequência, continuamos a questionar as movimentações do mercado como as de segunda-feira, quando o otimismo em relação ao ‘pico da inflação e o pico das taxas do Fed’ impulsionaram o crescimento e a tecnologia.”

Guillermo Hernandez Sampere, chefe de operações da gestora de ativos MPPM GmbH:

“Tem sido um choque de realidade. Os mercados estavam, mais uma vez, focados demais em si mesmos, sem prestar atenção ao cenário atual. O Federal Reserve não vai pisar no freio antes do final do ano, por isso podemos esperar mais aumentos das taxas de juros.”

James Athey, diretor de investimentos da empresa de investimento global Abrdn:

“O recente salto nas ações parecia incrivelmente imprudente e prematuro. Esse número do Índice de Preços ao Consumidor é muito forte em relação ao consenso e não é o que o Fed queria ver. A probabilidade de o ritmo das elevações [das taxas de juros] desacelerar após setembro diminuiu um pouco por causa desses dados, mas claro, a realidade do que vai acontecer no primeiro trimestre de 2023 ainda é uma questão aberta.”

Cliff Hodge, diretor de investimentos da gestora de patrimônios Cornerstone Wealth:

“Infelizmente para os mercados esse resultado reforçará a necessidade de o Fed permanecer agressivo e provavelmente continuar controlando os ativos de risco no futuro próximo.”

Sebastien Galy, estrategista macro sênior da gestora de ativos Nordea Asset Management:

“O mercado de ações dos EUA estava simplesmente otimista demais, enquanto os mercados de ações europeus estão bem mais limitados, o que lhes dá alguma resiliência diante desse tipo de baque.”

Mark Hamrick, analista económico sênior da empresa de serviços financeiros Bankrate:

“Os preços dos artigos de primeira necessidade continuam a piorar esses números, entre eles moradia, alimentos e cuidados médicos. A queda significativa dos preços da gasolina é digna de nota, mas não responde ao problema geral da inflação.”

Charlie Ripley, estrategista de investimentos sênior da gestora de riscos para investidores de varejo AllianzIM:

“Está se tornando mais evidente para os participantes do mercado que as medidas restritivas do Fed até agora não foram suficientes para esfriar a economia e diminuir a inflação. Por isso, o Fed provavelmente precisará elevar a taxa de juros para acima de 4% para cumprir a missão de estabilizar os preços.

Dada a sequência de dados que testemunhamos nas últimas semanas, esperamos uma mudança considerável no gráfico do Fed a partir da reunião de junho e os investidores devem se preparar para taxas mais altas durante um período de tempo maior.”

Ipek Ozkardeskaya, analista sênior do banco Swissquote:

“A boa notícia é que a inflação nos EUA dá sinais de abrandamento. A má notícia é que a inflação nos EUA não diminuiu tanto quanto os investidores gostariam e o indicador de inflação que exclui os itens com maior volatilidade a cada mês subiu mais do que o esperado.

Os números de hoje são lidos como uma garantia de um aumento de 0,75 ponto porcentual na próxima semana, e provavelmente 0,50 ou mais no mês seguinte.”

Danni Hewson, analista financeira da plataforma de investimentos AJ Bell:

“Os preços em alta demoram a esfriar e os mercados têm estado um pouco otimistas demais nos últimos dias com a perspectiva de os aumentos das taxas de juros do Fed serem menos agressivos no futuro próximo. A realidade é que, embora a maioria das coisas pareça estar no caminho certo, ainda existem ventos contrários significativos quando se trata de coisas como oferta de eletricidade e gasolina, ou simplesmente dar um teto para as pessoas ficarem debaixo dele.

Sendo realista, não há nada nos números de hoje para convencer os banqueiros centrais a mudar de tática e, levando em consideração a probabilidade de 86% da elevação da taxa de juros, ainda espero um aumento de 0,75 ponto porcentual nos próximos dias.”

Esty Dwek, CIO do banco Flowbank:

“Isso provavelmente tranquiliza o Fed em aumentar a taxa de juros em 0,75 ponto porcentual, mas ainda estamos nos aproximando do fim de seu ciclo de aperto. Entretanto, elas vão continuar mais altas por mais tempo, portanto, nenhuma mudança está a caminho. Para os mercados, isso não é tão bom quanto o esperado, mas, de qualquer forma, ainda há um longo caminho a se percorrer antes que os mercados e o Fed possam sentir que a inflação continuará a cair.”

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