- O CEO da Braza acredita que a Lei 14.286/21 facilitará o acesso de brasileiros a um vasto portfólio global de produtos financeiros
- No entanto, os benefícios do novo Marco Cambial levarão ainda um tempo para serem amplamente notados
- Cardoso espera que a desburocratização do câmbio inicie um movimento de inovação que transformará o mercado em uma década
O ano de 2023 começou com o novo Marco Cambial em vigor, mas ainda com muitas dúvidas na cabeça de investidores, gestores e técnicos que lidam nas operações com moeda estrangeira. Para solucioná-las, nada melhor do que ouvir profissionais que atuam diariamente com pagamentos, conversão e custódia em dólar e com outras divisas pelo mundo.
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Heber Cardoso, de 43 anos, é um deles. O empresário é CEO do Braza, grupo especializado em soluções financeiras cross-border e possui uma carteira de 5,7 milhões de clientes pessoa física e empresas. Nos últimos quatro anos. a companhia transacionou mais de R$ 300 bilhões.
Cardoso é um grande entusiasta das novas regras cambiais da Lei 14.286/21 porque facilitam, segundo ele, o acesso de brasileiros a um vasto portfólio de produtos financeiros pelo mundo, a organização de viagens internacionais e a busca por crédito pelas empresas domésticas.
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Mas, acima de tudo, dá liberdade para o cidadão participar da economia global, rápida, inovadora e tecnológica. “Por que ele não pode investir onde quiser, com a moeda que quiser, num mundo em que ele pode comandar toda a sua vida pelo smartphone?”, questiona o empresário, a respeito da situação que imperou até o novo Marco Cambial passar a valer, em 31 de dezembro último.
Cardoso, no entanto, alerta que os benefícios levarão ainda um tempo para serem amplamente notados: “Precisamos entender que todo grande marco gera um processo de mudança gradual.” Por isso, ele espera que a desburocratização do câmbio inicie um movimento virtuoso de inovação que deve transformar completamente o mercado em uma década.
Confira os principais trechos da entrevista com o CEO do Braza:
E-Investidor – Como o novo Marco Cambial vai impactar o investidor pessoa física?
Cardoso – Primeiro de tudo, precisamos entender que todo grande marco gera um processo de mudança gradual. As leis cambiais do Brasil eram muito antigas e o contexto mundial mudou. A lei não conversava com a tecnologia financeira existente hoje. Por exemplo, comprar ativos no exterior pode soar como algo comum, só que o investidor ainda encontra muitas dificuldades. E por que ele não pode investir onde quiser, com a moeda que quiser, num mundo em que ele pode comandar toda a sua vida pelo smartphone?
O novo Marco Cambial dá mobilidade aos recursos. É possível dolarizar a carteira fazendo a conversão facilmente e o investidor pode manter o dinheiro aqui ou no exterior. Isso sem falar do aumento na velocidade das trocas de ativos, uma tendência. De largada, o novo marco elimina o risco cambial e o investidor pode se concentrar no risco do ativo em que ele deseja investir.
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Por que o estímulo à abertura de contas em real no exterior é importante?
Cardoso – Por que facilita para que o cidadão participe da economia global ativamente. O investidor brasileiro poderá ter acesso à vasta gama de produtos disponíveis no exterior.
Antigamente, conta internacional era destinada somente para cliente do tipo private, pois o custo de abertura e de operação era alto. Hoje, o serviço desceu um pouco do private, mas permanece difícil. A simplificação na abertura de contas em outros países vai permitir o surgimento de um mercado de empresas, nacionais e estrangeiras, que oferecem serviços para brasileiros no exterior, como é o caso do Braza.
Além disso, o mercado brasileiro é gigante e sua abertura vai atrair empresas estrangeiras para atuar no nosso País.
A desburocratização do mercado cambial brasileiro vai impactar a cotação do real?
Cardoso – O primeiro ponto a analisar vem do custo. Competição diminui custos das operações. Logo, instiga a inovação no mercado. Podemos vislumbrar o Brasil mais inserido dentro de uma economia global podendo, inclusive, aproximar o País de um livre comércio da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
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O marco traz um fato motivador não apenas para o brasileiro possuir conta no exterior, mas também para o estrangeiro ter conta no mercado doméstico. Hoje, para abrir conta no Brasil o investidor estrangeiro tem um custo de carrego que o afasta daqui. As regras que entraram em vigor facilitarão tanto a entrada e a saída de recursos como a permanência de moeda estrangeira no Brasil.
E se olharmos a fundo, tudo está interligado. O novo marco dá liquidez ao mercado e o aumento da liquidez pode gerar impactos cambiais. Acredito que teremos um fluxo cambial que conheceremos mais profundamente com o tempo, mas podemos, sim, ter surpresas quanto a impactos na cotação do real.
Quais empresas da Bolsa podem ser impactadas com as mudanças?
Cardoso – O mercado como um todo vai se beneficiar porque o marco simplifica as transações. Rumamos para uma contabilidade globalizada com praticidade de movimentação de ativos, o que vai dar dinâmica às tesourarias das empresas, que poderão manter recursos em moedas distintas, tomando dívidas em qualquer lugar do mundo onde ela encontrar crédito mais barato.
Que futuro você vislumbra para o mercado de câmbio no Brasil?
Cardoso – O blockchain (sistema de registro de transações que está por trás das criptomoedas) vai pegar de vez e as moedas serão digitais, derrubando o custo transacional e dos ativos transacionados no mundo inteiro. Reter, custodiar, pagar, converter será muito mais rápido e barato para todos os produtos financeiros.
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Tudo isso abre um caminho gigantesco para a inovação, um campo mundial incrível onde o Brasil precisa estar. A boa notícia é que o País já está fazendo isso. O Banco Central conduz com maestria um movimento de inovação com ferramentas que serão copiadas por outros países, como o Pix, e o real digital (CBDC, sigla para Moeda Digital do Banco Central, em tradução livre).
É muito bacana ver o BC tomando uma posição de protagonista mundial. Daqui uma década veremos uma diferença assustadora do mercado para o que havia antes.