- Neste domingo (8),apoiadores do presidente Jair Bolsonaro invadiram o Congresso para reivindicar uma "intervenção militar” no país
- Os atos golpistas somam a outros eventos políticos que trazem alerta para os investidores sobre a percepção de risco do mercado brasileiro
- O cenário, além da cautela, exige dos investidores mudanças no portfólio para proteger o patrimônio da volatilidade do mercado doméstico
As movimentações em Brasília têm repercutido na negociação dos ativos na Bolsa de valores. Nos dois primeiros pregões do ano, o Ibovespa sofreu um tombo de 3% e de 2%, respectivamente, em virtude das primeiras medidas adotadas pelo governo. As de maior peso foram a renovação do fim da isenção dos impostos federais em cima do preço dos combustíveis e retirada de algumas empresas estatais, como a Petrobras, do processo de privatização.
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Na semana seguinte, o investidor também não teve “sossego”. Manifestantes golpistas invadiram as sedes do Supremo Tribunal Federal (STF), do Congresso e do Palácio do Planalto neste domingo (8) na tentativa de interromper o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os atos violentos que reivindicavam uma intervenção militar no País resultaram em um prejuízo aos cofres públicos na casa de R$ 8 milhões após a depredação dos prédios dos três poderes. Veja os detalhes nesta reportagem.
A sequência dos eventos eleva a percepção de risco dos investidores locais e internacionais para o mercado doméstico. Segundo Alexandre Sabanai, gestor da Perfin, os ataques em Brasília não afetam apenas a precificação dos ativos na Bolsa. Os efeitos também atingem os juros futuros e o mercado de câmbio, o que prejudica o desempenho operacional das companhias.
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“Se olharmos para o período de pré-eleição, a curva dos juros futuros para 10 anos estava em um patamar de 11%”, afirma. “Após as eleições e com os comunicados desorganizados dos ministros, a curva de juros voltou a subir e chegou ao patamar de 13,6%”, acrescenta o gestor da Perfin. As razões para o aumento se devem, especialmente, às incertezas no âmbito fiscal com a aprovação da PEC da Transição e também com a indefinição do novo arcabouço fiscal que deve substituir o teto de gasto do governo ainda no primeiro semestre deste ano.
“Em um cenário em que os juros são muito altos, os investidores ficam muito receosos no curto prazo”, diz Sabanai. Já no caso da invasão à sede dos Três Poderes, o impacto foi menor porque, na ótica do mercado, o episódio é um caso isolado e não oferece riscos de uma ruptura institucional. Veja os detalhes nesta reportagem.
Para os próximos meses, novos eventos políticos devem surgir e trazer volatilidade para o mercado financeiro. A perspectiva exige do investidor mudanças no portfólio para proteger o patrimônio dos estresses de mercado. Diante da necessidade de cautela, Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, sugere evitar posições em ações que fazem parte de setores mais voláteis e dependentes do ciclo econômico local. São os casos do varejo, tecnologia, educação e construção em que os seus desempenhos operacionais sofrem drasticamente com as mudanças na taxa de juros.
“Isso significa muitas vezes variações de 5% no mesmo dia, sendo realmente um teste para ‘cardíacos’ pensando nos investidores mais desavisados”, diz. “São setores que dependem do crescimento do emprego e da renda do País”, afirma. Apesar da percepção de risco, há ações que fazem parte desse setor e que são mais resistentes às volatilidades do mercado.
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No entanto, isso não quer dizer que todas as companhias desses setores não ofereçam boas oportunidades de investimentos. Há exceções. Segundo Sabanai, as açõess do Iguatemi (IGTI3), embora estejam ligados ao varejo, podem ser uma opção interessante para o investidor. A justificativa se baseia no público para o qual a empresa está direcionada.
“É um ativo que tem muita exposição à população de classe A e que sofre menos nesses momentos de desaquecimento econômico. Por isso, os shoppings conseguem ter um poder de barganha maior para repassar a inflação nos seus contratos”, explica.
Os melhores setores
Já outros setores da bolsa conseguem ser mais resilientes em momentos de crise econômica e política. Segundo Felipe Ruiz, sócio da Ações Garantem Futuro (AGF), esse grupo, embora seja pequeno, possui características em comum. São ativos que possuem altas margens de lucro, fluxo de caixa previsível (ou seja, pouco cíclico), demanda constante ou crescente. Além disso, são responsáveis pela oferta de produtos ou serviços essenciais para a sociedade.
Os bancos e as empresas de energia, saneamento, seguros e de telecomunicações são exemplos de setores com um perfil mais defensivo para os períodos de estresse no mercado. “Como as empresas desses setores costumam ser boas pagadoras de dividendos também acabam funcionando como um “colchão” para o investidor, amortecendo as quedas nas cotações e gerando caixa para a compra de novos papéis”, afirma Ruiz.
As ações das empresas Comgás (CGAS5), Gerdau (GGBR4) e CPFL Energia (CPFE3) fazem parte desses grupos, citados por Ruiz , e que, ao longo das suas trajetória, conseguiram sobressair aos diversos ciclos econômicos e crises políticas da história do país. “Já passaram por: trocas de moedas, processos de impeachment, hiperinflação, guerras, confiscos, escândalos de corrupção, pandemias entre outros eventos catastróficos”, destaca.
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