Investidores posicionados nas ações da Via Varejo (VVAR3) não deverão ser penalizados, pelo menos diretamente, caso seja confirmada alguma irregularidade na divulgação de dados de vendas da varejista, que é dona da Casas Bahia e do Ponto Frio, na tarde de segunda-feira (21) em uma rede social. A opinião é de alguns analistas de mercado ouvidos pelo E-Investidor.
Para esses especialistas, ainda que a companhia tenha errado na escolha do Twitter como canal de repasse das informações, não teria havido, com o que se sabe até o momento, privilégio de informação para uma quantidade seleta de investidores.
“Acredito que não houve tentativa de manipular o mercado porque isso seria um pensamento de curtíssimo prazo”, avalia Bruno Komura, analista de renda variável da Ouro Preto Investimentos. Para ele, o risco dessa atitude seria muito alto para pouco upside, ou seja, pouco potencial de valorização do ativo dela, e que o ganho através da “volta por cima” da empresa, que está vem de um processo de reestruturação, seria “muito maior”.
No dia 15 de junho, a companhia conseguiu captarR$ 4,45 bilhões na sua oferta de 297 milhões de ações, precificadas em R$ 15. O follow on foi considerado um sucesso e faz parte do processo de renovação da empresa, que tem entre os seus objetivos o fortalecimento do e-commerce.
“Um ponto negativo que pode impactar o valor das ações e a percepção do mercado é a credibilidade dos executivos. Se a governança é ruim ou se os gestores tem a credibilidade posta em dúvida, como confiar que eles vão conseguir fazer o turnaround da Via Varejo?”, reflete Komura.
O estrategista-chefe da Levante Investimentos, Rafael Bevilacqua, acredita que a empresa errou por ter apagado a postagem, e defende que o uso de redes sociais como canal oficial de divulgação tem sido cada vez mais comum entre empresas e governos. Além disso, Bevilacqua argumenta que informações operacionais já costumam ser divulgadas, por exemplo, em reuniões instituições com investidores, o que também acaba resultado em movimentações de mercado sobre os papéis, como a alta de 7,35% verificada nesta segunda nas ações da varejista brasileira.
“Seria problemático alguém ter uma informação privilegiada e utilizar isso para ter ganho financeiro. Se tivessem contado para dois acionistas, e eles tivessem tomado a ação, por exemplo. Mas o que fizeram foi público”, analisa Bevilacqua. “Se alguém dentro da empresa comprou ação um dia antes e divulgou, aí sim teria problema.”
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No entanto, o maior problema pode estar no fato da divulgação ter acontecido em um dia de vencimento de opções.
“[A Via Varejo] Não é das maiores liquidez em opções, mas mesmo assim uma notícia dessa em dia de vencimento de opções pode atrapalhar ou ajudar bastante, dependendo da posição que você estiver. A CVM vai avaliar isso, principalmente se dentro da empresa tinha alguém, de diretoria ou área de comunicação, que tinham posição em opções e fez isso em benefício próprio”, diz Victor Hasegawa, gestor da Infinity Asset.
A divulgação em si, para Hasegawa, poderia representar mais um problema de organização da companhia. “Isso mostra talvez um pouco de desorganização da empresa neste sentido, caso a área de comunicação tenha soltado as informações sem autorização da área de RI (Relações com Investidores).”
Empresa reconheceu o erro na divulgação
Ao final da noite de segunda-feira (20), a Via Varejo esclareceu que os dados operacionais publicados em um sequência de posts (thread) no Twitter foram indevidamente divulgados pela área de comunicação da empresa, contrariando sua prática e política de divulgação, e por isso foram apagados. Ao lamentar o ocorrido, a companhia afirmou que está aumentando seus controles internos para que situações como esta não voltem a ocorrer.
A resposta da empresa atendeu a um pedido de esclarecimento da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que abriu um processo administrativo no fim do dia para analisar a divulgação dos resultados via rede social. Para o órgão, a maneira como a Via Varejo divulgou as informações pode não estar de acordo com as regras estabelecidas pelo mercado.
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“Esclarecemos que aplicam-se às divulgações realizadas em mídias sociais as mesmas regras previstas nas normas que tratam da divulgação de informações, notadamente as que disciplinam a divulgação de informações relevantes e estabelecem regras gerais sobre conteúdo e forma das informações que os emissores devem observar”, disse a CVM, em comunicado enviado à imprensa.
Na terça-feira 21, a VVAR3 recuou 2,6% e fechou cotada a R$ 20,62. No dia anterior, os papéis foram negociados a R$ 21,71, na máxima histórica da ação da varejista.