- O cenário é de bastante volatilidade nesta semana
- Até terça-feira, o mercado deverá ter respostas sobre o fim da desoneração sobre a gasolina e o etanol
- Outra agenda importante é a indicação do governo para a Diretoria de Política Monetária do Banco Central (BC)
O clima de ressaca do carnaval deve se dissipar nas próximas horas com o calor das movimentações no mercado financeiro. Sim, o cenário é de bastante volatilidade nesta semana.
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Ao longo desta segunda-feira (27) e da terça-feira dois temas vão estar no radar dos investidores: 1) o fim da desoneração sobre a gasolina e o etanol e 2) a indicação para a Diretoria de Política Monetária do Banco Central (BC). Ambas as peças devem ter como prazo final a terça-feira.
O que está em jogo?
Vamos por partes. Depois de várias reuniões na sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reúne novamente hoje com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e com o ministro da Casa Civil, Rui Costa. Fique atento.
O desfecho da reunião deve ocorrer no início da tarde desta segunda-feira e vai mexer com o mercado. Deste encontro deve sair um “comunicado do governo” sobre o que será feito em relação ao fim da desoneração dos impostos federais, que incidem sobre a gasolina e o etanol. Nosso cenário base: o governo deve decidir pelo fim da desoneração.
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Essa também é a posição de Haddad, que busca, por meio do aumento dos impostos, arrecadar cerca de R$ 28 bilhões para ajudar a pagar o rombo de R$ 230 bilhões das contas públicas deste ano. A posição do ministro não é, no entanto, unanimidade dentro da ala política do governo nem dentro do PT.
Na sexta-feira, a presidente do partido, deputada Gleisi Hoffmann, deixou o clima tenso quando veio à público dizer que não é o momento para aumentar impostos. É verdade que Gleisi não fala pelo governo, mas suas declarações se chocam frontalmente com o que Haddad tem pregado e pode colocá-lo numa situação constrangedora perante setores do partido e congressistas aliados, caso a tese do ministro não prevaleça.
Um possível revés de Haddad também deve ser entendido por representantes do mercado da seguinte forma: ele até tem boas ideias e propostas, mas não se vive apenas de boas intenções.
Peça intermediária
Um meio termo que foi colocado nas conversas é a possibilidade de se adotar a regra da noventena, caso o governo decida pelo fim da desoneração. Ou seja, o aumento do imposto só ocorreria de fato daqui a 90 dias. Na sexta-feira, representantes do governo nos informaram, entretanto, que o tema estava em discussão e que não havia nenhuma decisão sobre esse caminho, visto como uma cambalhota jurídica por alguns tributaristas.
Vale destacar que várias outras possibilidades estão em análise, inclusive o escalonamento do retorno da cobrança do imposto. Sob a ótica do mercado, é justamente a falta de um sinal mais claro sobre o desfecho das negociações que tem deixado os investidores ansiosos e agitados.
Curto prazo
Olhando para frente, um desfecho desfavorável a Haddad na questão da desoneração dos combustíveis pode criar um ambiente de desconfiança no mercado em torno de outra agenda importante: a nova âncora fiscal.
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Em outras palavras, podemos ver Haddad apresentar nos próximos dias uma proposta de arcabouço fiscal condizente com as expectativas dos investidores, mas que não tenha aceitação da ala política do governo, em especial de Lula, e seja desfigurada ao longo do processo de discussão. Esse cenário levantaria mais dúvidas sobre a direção da agenda econômica.
Juntando as peças
Neste mês de março, veremos o novo governo tomar difíceis decisões em torno da desoneração dos combustíveis e da nova âncora fiscal. Nas próximas semanas, essas duas peças nos dará uma melhor noção de como a agenda econômica do governo será conduzida. Dentro desse contexto, ficará mais claro qual é o papel do presidente Lula, do ministro Haddad, da área técnica, da cúpula do PT e do Congresso.
Banco Central
Por fim, sobre a mudança na Diretoria de Política Monetária do Banco Central, o mandato de Bruno Serra se encerra amanhã. Ele, porém, já sinalizou que pretende ficar até a próxima reunião do Comitê de Política Econômica (Copom), prevista para os dias 21 e 22 de março. A tendência é de termos novas idas e vindas sobre o tema nos próximos dias.
Vamos acompanhando.