- Colocando de uma forma bem simples, o que os gestores desses fundos fazem é, ao escolher as empresas nas quais irão investir, prestigiar aquelas que têm bons níveis de governança corporativa
- Empresas que se atentam às questões ESG estão mais bem preparadas para lidar com as mudanças nos padrões de produção e consumo
Um dos efeitos positivos da crise causada pela pandemia do coronavírus foi despertar a consciência de parcelas maiores da sociedade para questões ligadas à sustentabilidade. Embora as primeiras repercussões mais comumente associadas a essa palavra tão em voga digam respeito ao meio-ambiente, o assunto também tem tudo a ver com investimentos.
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As melhores práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) vem sendo cada vez mais valorizadas nas empresas. Além de contribuir para um mundo mais ético, saudável e justo, elas estão associadas a benefícios como redução de custos, solidez e resiliência, benefícios mais que bem-vindos em um contexto de pandemia.
Essas preocupações passaram a habitar o mundo dos investimentos na medida em que foram criados novos produtos guiados pelos tais valores ESG. Esses produtos, os chamados fundos de sustentabilidade, vêm apresentando resultados cada vez mais animadores.
ESG: do conteúdo da carteira às decisões da gestora
Colocando de uma forma bem simples, o que os gestores desses fundos fazem é, ao escolher as empresas nas quais irão investir, prestigiar aquelas que têm bons níveis de governança corporativa, que se destacam pela responsabilidade social e que buscam a sustentabilidade empresarial no longo prazo.
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“Quando o gestor avalia se aquela é uma boa empresa ou não, ele usa métricas financeiras tradicionais, como o lucro. No processo ESG, existem outras dimensões que também são importantes: a ambiental, a social e a de governança. Então ele somente irá selecionar para a carteira empresas que efetivamente sigam esses critérios”, explica Rubens Henriques, CEO da Itaú Asset Management, que tem dois fundos ESG em seu portfólio e prepara o lançamento de um terceiro dentro de algumas semanas.
Enquanto essa é a expressão mais literal dos valores ESG no mundo dos investimentos, o de produtos de investimentos que contenham esse viés, existe um sentido mais amplo, que Henriques chama de “integração ESG”. Nesse contexto, ao invés de simplesmente criar produtos específicos com esse selo, a asset incorpora as questões ESG no processo de tomada de decisões sobre todos os produtos.
“Nós partimos de um prisma ESG nas votações de assembleias de empresas de que participamos, em assuntos como política de remuneração de executivos, questões ambientais, transparência, na compra e venda de ações, nos ativos de crédito que selecionamos. Hoje, 95% do volume sob nossa gestão já está integrado nessa dimensão ESG”, diz o CEO da Itaú Asset.
Por que os resultados são melhores?
Relatório elaborado pela própria Itaú Asset, com base em estudos de consultorias como a McKinsey, concluiu que um portfólio que adota estratégias ESG entrega resultados melhores que outro que não segue essa estratégia.
“Empresas que se atentam às questões ESG estão mais bem preparadas para lidar com as mudanças nos padrões de produção e consumo, utilizando de maneira mais eficiente os recursos naturais e amenizando os impactos negativos de seus produtos e serviços no meio ambiente”, escreve o documento.
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O próprio mercado tende a prestigiar essas empresas, por uma questão de alinhamento de valores. Os investidores estão mais conscientes, engajados e socialmente responsáveis e passam a questionar as empresas em geral, exigindo posicionamentos claros e mudanças de postura, e privilegiando as que adotam melhores práticas.
Além disso, há um aspecto de maior eficiência de gestão. “Critérios ESG podem criar valor no fluxo de caixa das empresas de cinco maneiras: facilitando o crescimento da receita, reduzindo custos, minimizando intervenções regulatórias e legais, aumentando a produtividade dos funcionários e otimizando investimentos em bens de capital”, diz o relatório.
Com a queda na taxa de juros, os horizontes de tempo de investimento tendem a se alongar. E, no longo prazo, as empresas mais sustentáveis e perenes são as que sobrevivem às crises. “As mais sintonizadas com questões ESG são mais resilientes e acabam tendo até maior valor na Bolsa”, afirma o CEO.
Os gestores dos fundos usam o poder de influência que possuem nas empresas em que investem, para pressioná-las a melhorar nesses temas ESG, seja nas votações, seja em reuniões diretas. “Eles acabam sendo protagonistas em uma transformação da própria sociedade por meio dos investimentos”, diz Henriques.
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Europa lidera, EUA vão atrás e Brasil engatinha
A Europa está na dianteira quando o assunto são investimentos sustentáveis. Os primeiros estudos nasceram lá e, hoje, o mercado está tão maduro e engajado que os gestores que não olham para o tema acabam sendo preteridos. Estados Unidos, Canadá e Japão têm seguido esse mesmo caminho.
“Nos EUA, os produtos ESG tiveram um salto de captação de US$ 5 bilhões/ano para mais de US$ 20 bilhões em 2019”, conta Henriques. “Isso foi tão rápido que chamou a atenção do órgão regulador, que agora quer investigar se esse crescimento está 100% calcado nos valores ESG, ou se há gestoras fazendo o chamado greenwashing (colocar um selo ESG em produtos que não comungam desses valores, apenas para inflar os resultados).”
No Brasil, o mercado ainda engatinha. Há poucas gestoras que usam integração ESG em suas tomadas de decisões e os poucos produtos temáticos do tipo não somam nem R$ 500 milhões em patrimônio, de acordo com dados da Anbima.
O portfólio do Itaú Asset tem hoje dois ETFs de sustentabilidade. O ISUS11 segue o ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) e o GOVE11 segue o IGC (Índice de Governança Corporativa). Nos últimos 12 meses, ambos entregaram resultados superiores ao Ibovespa. Enquanto o índice da B3 recuou 5,85% no período, o GOVE11 caiu apenas 2,78% e o ISUS11 registrou crescimento de 8,64%.
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Dentro de menos de dois meses, a casa lançará um fundo de gestão ativa em Bolsa. Nele, o gestor vai selecionar ações de empresas brasileiras levando em consideração valores ESG, sem perseguir um benchmark.
O CEO do Itaú acredita que a crise atual está sensibilizando os investidores sobre diversos temas ESG, sobretudo com o lado “S” da sigla, como a relação da empresa com os colaboradores e fornecedores, questões de salubridade, perda de renda. Isso deve favorecer a ampliação do mercado de fundos sustentáveis.
“É natural que eles comecem a questionar os gestores e perguntem se o uso do dinheiro deles está levando em conta essas questões”, diz Henriques.
O head de estratégia beta e integração ESG da asset, Renato Eid, destaca que, nos EUA, a expansão dos investimentos com viés ESG começou de baixo para cima, por pressão dos próprios consumidores.
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“Ali, foi muito mais uma demanda dos e investidores do que um movimento dos gestores. Vários gestores tiveram que correr para aprender o que significava isso, para não perder os clientes”, conta. “Aqui no Brasil, temos que tomar cuidado para não achar que tudo o que não era ESG virou ESG da noite para o dia.”
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