O dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira, 22, em queda de 0,17%, cotado a R$ 5,2370, alinhado ao sinal de baixa da moeda americana no exterior, em dia marcado pela decisão de política monetária do Federal Reserve e falas do chairman Jerome Powell. Além de assegurar apoio aos bancos com problemas de liquidez e ressaltar que o sistema financeiro permanece sólido, o presidente do BC americano deu sinais de que o processo de alta de juros pode estar perto do fim, embora tenha alertado para a inflação ainda elevada.
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Apesar de ter se apreciado hoje, o real apresentou desempenho bem inferior a de seus pares emergentes, como peso mexicano, chileno e rand sul-africano. É de se ressaltar que, pela manhã e início da tarde, mesmo em baixa lá fora, o dólar subia por aqui, com máxima a R$ 5,2792 (+0,64%). Já a mínima (R$ 5,2060) foi registrada justamente quando o índice DXY – que mede o desempenho da moeda americana no frente a seis divisas fortes – ameaçou romper a linha dos 102,000 pontos, ao descer até 102,065 pontos. Quando o mercado local fechou, o DXY orbitava os 102,500 pontos.
O fôlego curto do real foi atribuído por analistas ao desconforto com o adiamento da divulgação do novo arcabouço fiscal para abril, após a visita presidencial à China, e a ataques da ala política do governo ao Banco Central. Ecoando falas recentes de Lula, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, presta um “desserviço à nação Brasileira” ao manter a taxa Selic em 13,75% ao ano e que não é necessário “o anúncio de novo marco fiscal para rever isso”.
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“O dólar subia no Brasil até o anúncio da decisão do Fed. O mercado de câmbio ainda está muito pressionado pela incerteza em relação ao novo arcabouço fiscal”, afirma o líder de renda variável da Manchester Investimentos, Marco Noernberg, acrescentando que a saída de capital externo da bolsa em março, já superior a R$ 2 bilhões, mostra que o investidor estrangeiro está receoso com o Brasil, o que prejudica o desempenho da moeda brasileira.
Nos Estados Unidos, como esperado por ala majoritária do mercado, o Fed elevou a taxa básica em 25 pontos-base, para a faixa entre 4,75% e 5%. Powell afirmou que o BC americano chegou a avaliar a possibilidade de pausar o processo de alta de juros já nesta reunião, em razão dos problemas de liquidez nos bancos americanos. Dados de inflação e do mercado de trabalho mais fortes que o esperado ampararam nova elevação dos Fed Funds.
Powell ressaltou que o BC americano avalia que haverá provavelmente aperto nas condições de crédito para famílias e empresas nas próximas semanas, o que respingará no mercado de trabalho e na inflação. “Tal aperto nas condições financeiras funcionaria na mesma direção que um aumento nas taxas, ou talvez mais do que isso”, disse Powell. “Portanto, nossa decisão foi seguir em frente com uma alta de 25 pontos-base e mudar nossa orientação de altas contínuas para algumas altas adicionais”.
Monitoramento da CME hoje à tarde mostrava chance de 53,1% de manutenção da taxa básica americana em maio, ante 46,4% de elevação em 25 pontos-base. A despeito de Powell ter refutado novamente a ideia de corte de juros ainda neste ano, a maioria do mercado segue apostando em tal possibilidade.
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Para o economista Eduardo Velho, da JF Trust, mais do que a interrupção iminente do processo de alta de juros, o que tende a pressionar o dólar para baixo lá fora é a perspectiva de uma deterioração da atividade econômica nos Estados Unidos, em razão do aperto do crédito provocado pelas dificuldades nos bancos médios do país. “Pode até haver mais um aumento de 25 pontos nos juros. Mas mesmo que o Fed resolva parar, isso não significa melhora da liquidez, porque tem os problemas nos bancos. Por isso, as bolsas em Nova York e o dólar caíram juntos hoje”, afirma.