- Estes títulos são certificados emitidos no Brasil, que funcionam como um “espelho” de valores mobiliários estrangeiros, como ações ou fundos de índices (ETFs)
- A partir das plataformas das corretoras, os clientes poderão escolher quais BDRs irão comprar, por exemplo, da Apple, Amazon, entre outras. O que os investidores precisam ter em mente é que o BDR não é a própria ação, mas um espelho dela
- Além das ações, outra possibilidade serão os ETFs, que são fundos que acompanham índices de bolsas, como o norte-americano S&P 500. Considerados “febre” nos Estados Unidos, os ETFs devem ampliar o leque de opções para investidores brasileiros, dada a sua grande variedade no mercado externo
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) deu um passo importante, nesta terça-feira (12), a uma maior democratização de investimentos para pessoas físicas, com a flexibilização das regras que versam sobre os BDRs, iniciais de Brazilian Depositary Receipts. Estes títulos são certificados emitidos no Brasil, que funcionam como um “espelho” de valores mobiliários estrangeiros, como ações ou fundos de índices (ETFs).
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A mudança facilita aos pequenos investidores a exposição ao mercado de capitais estrangeiro por meio dos BDRs, antes restritos para investidores qualificados, ou seja, aqueles que possuem patrimônio mínimo de R$ 1 milhão investido ou alguma certificação.
Com isso, as pessoas físicas que tiverem interesse de investir em empresas e setores de sucesso, como saúde e tecnologia, não precisarão, obrigatoriamente, ter que abrir conta em corretoras no exterior. Isso evita a barreira da legislação e da língua de outros países, e possibilita um arcabouço maior de opções de investimentos, garantindo a tão recomendada diversificação.
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Do ponto de vista de mercado, ganha também o varejo de investimentos brasileiro, uma vez que será necessária oferta para atender a demanda dos possíveis novos investidores. E isso tem a ver com a disponibilização de uma gama maior de produtos.
O estrategista-chefe da Clear Corretora, Roberto Indech, vê como positiva a oferta desses produtos internacionais para um público mais abrangente, uma vez que considera o mercado de capital aberto bem restrito no Brasil.
“Abre-se um leque muito grande de opções, com uma liquidez enorme de mercado. O investidor brasileiro não vai precisar aplicar seus recursos em empresas só aqui no Brasil, tendo também a possibilidade de aplicar em empresas globais”, avalia Indech.
Como investir em BDRs?
A B3 já está trabalhando na regulamentação da operação desses produtos, com base nas novas regras da CVM, que passam a valer a partir de 1º de setembro. Contudo, a expectativa e – conforme a própria B3 já sinalizou – a intenção é que a operação seja simples, similar a como já ocorre com a negociação de ações.
A partir das plataformas das corretoras, os clientes poderão escolher quais BDRs irão comprar, por exemplo, da Apple, da Amazon, entre outras. O que os investidores precisam ter em mente é que o BDR não é a própria ação, mas um espelho dela.
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Alan Gandelman, CEO da Planner Corretora, explica que os BDRs fazem parte de um programa de instituições financeiras, normalmente bancos, que trazem para o Brasil os espelhos de valores mobiliários estrangeiros.
Além das ações, outra possibilidade serão os ETFs, que são fundos que acompanham índices de bolsas, como o norte-americano S&P 500. Considerados “febre” nos Estados Unidos, os ETFs devem ampliar o leque de opções para investidores brasileiros, dada a sua grande variedade no mercado externo.
“Assim como tem o BOVA11 no Brasil, nos Estados Unidos tem ETF para absolutamente todos os setores da economia. Tem ETF de renda fixa, de títulos de dívida, de vários setores, como financeiro, tecnológico, e de países. Por exemplo, nos Estados Unidos você negocia ETFs de ações chinesas, coreanas. Então o espectro se abre bastante”, aprofunda Gandelman.
O investidor, todavia, precisará aguardar quais produtos serão disponibilizados no Brasil. Pode levar algum tempo para esse mercado se expandir, já que depende de adesão dos clientes do varejo.
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Além disso, é necessário também ter ciência de que os BDRs carregam consigo o mesmo risco da renda variável, já que eles são um lastro das ações e dos ETFs negociados nas bolsas de outros países. Mesmo que eles estejam disponíveis para todo perfil de investidor, é preciso ter compreensão e orientação antes de se posicionar neste tipo de produto.
“Quando tomar a escolha de fazer um investimento em BDR, o investidor tem que estar atento ao fundamento da empresa que ele está comprando, assim como qualquer outro ativo, e à expectativa de câmbio”, recomenda Fábio Galdino, head de renda variável da Vero Investimentos.
Como esses ativos são negociados em dólar, os investidores precisam prestar atenção ao risco de oscilação da moeda norte-americana. “Se o preço da ação for estático lá fora, e a gente tiver uma apreciação do real, o preço em reais daquela ação cai aqui no Brasil. Se o dólar subir, o preço da ação aqui no Brasil sobe”, facilita Galdino.
Como é a rentabilidade e liquidez de um BDR?
Ainda que os BDRs “imitem” uma ação, eles possuem alguns custos que, ainda que pequenos, não trazem a mesma rentabilidade de uma ação negociada lá fora. O CEO da Planner explica que há um desconto, embora pequeno, que o investidor terá de considerar no final das contas, decorrente da emissão pelo patrocinador.
“Tem o custo de criação, de conversão e o câmbio. Custo de criação é que alguém vai estar comprando [ações da] Netflix, por exemplo, e transformando em BDR de Netflix. Esse custo é dado pelo agente promotor que tiver listando esse BDR no País, por exemplo, esses bancos estrangeiros (o patrocinador)”, diz Gandelman.
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Já o custo de conversão é o contrário. Quando o BDR é vendido, em determinado momento o patrocinador terá de “transformar” esse certificado de volta em ação, para que ela seja liquidada no país de origem. Isso também gera uma pequeno custo.
Como já foi dito, há também efeito do câmbio, que tanto pode proporcionar um ganho bem maior ao investidor, como uma rentabilidade bem menor. Vai depender da oscilação da moeda.
Sobre a liquidez, Gandelman considera que esse tipo de produto terá uma forte adesão do público, sobretudo pela alta expectativa por papéis de renome internacional. E, assim como funciona atualmente com as ações, espera-se que os BDRs sejam facilmente negociados na Bolsa.
“Não vai ter falta de liquidez porque tem a figura do arbitrador, que é quem está vendo as empresas lá fora, está jogando os custos, está vendo como está o câmbio, e aí coloca uma oferta de compra ou de venda aqui no Brasil, podendo ficar convertendo [em venda ou compra] o tempo todo”, frisa o CEO da Planner.
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