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O que o estrago da Americanas (AMER3) causou no mercado de debêntures 1 ano depois

Mercado de crédito se recupera com oportunidades ao investidor

O que o estrago da Americanas (AMER3) causou no mercado de debêntures 1 ano depois
Fraude na Americanas completa 1 ano nesta quinta-feira (11). Crédito: Felipe Rau/Estadão

O escândalo com o rombo contábil de R$ 25 bilhões da Americanas (AMER3) completa um ano nesta quinta-feira (11). Naquela noite, o ex-CEO Sergio Rial, que havia deixado a presidência do Santander para gerir a varejista, anunciou que encontrou as inconsistências contábeis na companhia. Um dia depois, as ações da Americanas derreteram 77% na Bolsa.

No entanto, não foi só os ativos da Bolsa que foram impactados. O mercado de crédito sofreu duras baixas com o anúncio da companhia. Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), as emissões de debêntures recuaram 34,6% na comparação do primeiro trimestre de 2023 com o primeiro trimestre de 2022. O volume financeiro emitido recuou de R$ 56 bilhões em 2022 para R$ 36,6 bilhões em 2023.

Para Márcio Paiva, diretor-gerente da Bloxs Capital Partners, essa queda está totalmente relacionada com o caso Americanas, que espalhou uma crise sobre o mercado de crédito. “O rombo contábil sobre a empresa chocou o mercado, visto que a companhia tinha todas as exigências que os analistas de crédito pediam. Isso causou um temor exacerbado nos investidores, que penalizaram os ativos de crédito privado”, afirma.

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Já Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos, comenta que uma das consequências para esse temor foi a exigência para as novas captações, visto que o mercado passou a exigir uma taxa de juros muito maior para as empresas que queriam emitir dívida, o que resultou um menor volume emissões. “Além disso, o investidor pessoa física viu suas debêntures se desvalorizarem na marcação a mercado, o que gerou prejuízo para quem se desfez do título na época”, explica Meira.

A marcação a mercado é um mecanismo utilizado para visualizar o valor de venda de títulos da renda fixa antes do vencimento. Por exemplo, caso o investidor tenha comprado uma debênture com vencimento para 2030, mas deseja resgatar esse dinheiro antes do prazo, ele deve vende-lo no mercado. A marcação a mercado mostra o valor que esse título está sendo negociado naquele momento. O valor pode ser inclusive menor do que o investido incialmente.

“Foi o que aconteceu na época da Americanas. Muitos títulos se desvalorizaram e as debêntures da própria Americanas passaram a ser negociadas a valor zero”, diz Meira.

O que esperar das debêntures em 2024?

Um ano após o escândalo da Americanas, os analistas apontam que houve uma melhora significativa no mercado de crédito. De acordo com Tatiana Guedes, Head de Fundos de Investimento e Previdência da InvestSmart XP,  houve uma recuperação desse mercado com o aumento das emissões no segundo semestre de 2023.

“Ao final de 2023 e início de 2024, começamos a observar sinais de recuperação. Com a redução da taxa Selic e mudanças na política monetária dos EUA, houve um aumento na confiança dos investidores. Novas emissões de dívida privada começaram a ser bem recebidas, indicando uma retomada gradual do mercado de crédito privado”, explica Guedes.

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Os próprios dados da Anbima confirmam a tese da especialista. As emissões do mercado de capitais tiveram seu pior momento em abril, totalizando R$ 16 bilhões. A melhora foi gradual e atingiu o pico de 2023 em setembro, quando as emissões somaram R$ 61,5 bilhões.

Em meio a essa recuperação, a analista explica que o mercado de debêntures pode ver uma maior diversidade de setores participando das emissões em 2024.  Segundo Guedes, os emissores de debêntures costumavam ser empresas com fluxo de caixa mais previsível. No entanto, recentemente, o escopo de emissores expandiu para incluir setores mais cíclicos. “Isso significa que poderemos ver uma variedade maior de empresas de diferentes setores emitindo debêntures, o que pode oferecer mais oportunidades para os investidores”, comenta.

Mesmo com a recuperação e o aumento de oportunidades, a analista alerta que o caso Americanas evidenciou que a renda fixa, incluindo debêntures, pode apresentar riscos substanciais, como o não pagamento dos juros ao investidor ou do montante aportado. “É crucial que os investidores compreendam que mesmo investimentos em renda fixa, tradicionalmente vistos como mais seguros, não são isentos de riscos”, reforça a head da XP.

Ou seja, segundo os analistas, mesmo que o mercado de debêntures em reaquecimento, o ideal é ver com muita cautela as finanças das empresas antes de comprar um título de dívida dela em 2024. Essa também é a recomendação de Márcio Paiva, da Bloxs Capital Partners. “Para o investidor evitar qualquer calote, o melhor é sempre olhar o balanço da companhia, ver as notas de classificação das agências rating, como S&P e Fitch. Ainda assim, ele vai estar correndo um risco médio e moderado; o próprio caso da Americanas é um exemplo imprevisível”, detalha Paiva.

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De modo geral, o consenso é que o investidor deve aportar em debêntures do setor de infraestrutura e saneamento, que tendem a ser beneficiados ao longo desse ano. “As debêntures de infraestrutura muitas vezes vêm com incentivos fiscais para o investidor pessoa física, o que pode aumentar sua atratividade”, diz Paiva.

O CEO da Melver, Raony Rossetti, afirma que o melhor para o investidor é saber o seu perfil. Caso ele não tenha apetite aos ativos de renda fixa de alto risco, como as debêntures, o ideal é ir para o Tesouro Direto. “Para os mais conservadores, vale lembrar da existência de títulos de renda fixa protegidos pelo FGC, sem contar os títulos do Tesouro Direto”, conclui Rossetti.

Lula sanciona nova lei sobre debêntures de infraestrutura

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sancionou na quarta-feira a nova lei que cria as debêntures de infraestrutura, títulos de dívida que as empresas podem lançar no mercado com o objetivo captar recursos para financiar seus projetos de investimento.

A proposta do governo é criar um instrumento no mercado de capitais que prevê incentivos tributários para alavancar o investimento em obras públicas. Segundo o governo, a medida deve acelerar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Além do PAC, outras empresas que prestam serviços públicos, como saneamento e energia elétrica, também poderão emitir esses títulos para fazerem melhorias ou ampliar o atendimento do seu serviço. Esses títulos podem ser adquiridos por pessoas físicas e jurídicas, que passam a receber juros de forma periódica até o pagamento integral.

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Tanto as debêntures incentivadas quanto as de infraestrutura funcionam com base em incentivos tributários. A diferença é que, no primeiro caso, esse benefício é para os compradores dos títulos.

Já na modalidade criada pelo Congresso, a vantagem é para as empresas emissoras das debêntures, que podem ser prestadoras de serviços públicos em busca de recursos privados, como concessionárias de energia e saneamento ou suas controladoras diretas e indiretas.

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