A Gol (GOLL4) entrou com pedido de reestruturação de dívida nos Estados Unidos da América (EUA), chamada de “Chapter 11”, nesta quinta-feira (25). A medida é equivalente a uma recuperação judicial no Brasil.
Leia também
O valor estimado para a dívida total da aérea é de R$ 20 bilhões. A empresa também comunicou que conseguiu US$ 950 milhões em financiamento para continuar com as suas operações ativas. De acordo com a companhia, o dinheiro foi conquistado com a ajuda do Abra Group, seu controlador.
O CEO da Gol, Celso Ferrer, disse em entrevista coletiva nesta quinta-feira que toda a operação da empresa está garantida. Ele também negou que o processo seja uma recuperação judicial. “Essa não é uma recuperação judicial, é uma reestruturação de dívida feita pela companhia usando o capítulo 11 nos Estados Unidos. Esse artifício já foi utilizado por outras empresas aéreas lá fora e deu certo”, ressaltou.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Sendo recuperação judicial ou apenas reestruturação de dívida, o que interessa para o investidor é o que fazer com os papéis. E a reação do mercado não foi nada positiva. As ações da companhia fecharam o pregão desta quinta em queda de 3,16%, cotadas a R$ 6,44, na mínima do dia.
Ainda assim, o consenso dos analistas ouvidos pelo E-Investidor apontam que o anúncio foi melhor que o esperado. Para João Lucas Tonello, analista da Benndorf Research, o mercado queria ter certeza de que a companhia manteria as suas operações, o que foi confirmado com o financiamento de US$ 950 milhões.
“O principal era justamente isso, continuar operando normalmente sem que haja cancelamentos de voos, mudanças repentinas na rotina dos consumidores. Se isso ocorrer, há uma total quebra de confiança e as pessoas param de comprar as passagens pela Gol”, afirma Tonello.
Ele comenta que está otimista com a empresa por causa dos resultados recentes que a Gol apresentou para o mercado, relacionados ao terceiro trimestre de 2023. “Foi um dos melhores resultados operacionais do segmento na América Latina, com margem operacional boa, até um pouco à frente da Azul. A empresa tem tudo para se recuperar”, destaca.
Publicidade
Acilio Marinello, professor da Trevisan Escola de Negócios, comenta que a solicitação de reestruturação da dívida nos EUA foi positiva, visto que o capítulo 11 é muito mais flexível para a renegociação. “A dívida de curto prazo pode ser paga em um período maior que em uma recuperação judicial no Brasil, dando mais fôlego para a empresa”, avalia.
Com esses fatores em vista, Enrico Cozzolino, head de analise e sócio da Levante, comenta que o papel da companhia está atrativo para o investidor. “Esse notícia faz a empresa ter um prêmio de risco interessante para o investidor, mas vale lembrar que há muitas incertezas que podem vir dessa recuperação”, explica o analista.
Essa incerteza sobre o processo é vista principalmente pelo tempo que ele pode demorar. O próprio CEO da Gol não soube dizer quando essa reestruturação deve chegar ao fim. “No nosso caso é difícil precisar quanto tempo deve demorar esse processo, mas deve durar substancialmente menos. A Gol tem um modelo simples, então esse processo deve ser mais rápido”, afirma Ferrer.
Segundo Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o investidor que comprar o papel visando o lucro com uma reestruturação bem sucedida deve ter em mente que o papel será pressionado até o fim do processo. “Acredito que o desfecho agora é ela tentar renegociar suas dívidas e isso deve colocar uma pressão grande em cima das ações Gol até o término das tratativas”, comenta.
Publicidade
Por isso, Marinello conclui que para os investidores que estão com a ação, o melhor é continuar com ela para evitar perdas. “Já para quem não possui o papel, o ideal é saber que no curto prazo o ativo deve passar por muita volatilidade e que os lucros só virão no médio e longo prazo. Por isso, não vejo o papel atrativo para o investidor que é mais conservador, somente para o perfil mais arrojado”, recomenda o professor da Trevisan Escola de Negócios./COLABOROU LUÍZA LANZA