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Bancos revelam balanços sob pressão de inadimplência. O que esperar deles?

Temporada de resultados começa nesta quarta com o Santander; Itaú, Banco do Brasil e Bradesco divulgam na sequência

Bancos revelam balanços sob pressão de inadimplência. O que esperar deles?
Fachada de agência do banco Itaú. (Foto: Pilar Olivares/REUTERS)

Os quarto grandes bancos começam a temporada de balanços nesta quarta-feira (31) com o resultado do quarto trimestre de 2023 do Santander (SANB11). Os outros três, Itaú (ITUB4), Banco do Brasil (BBAS3) e Bradesco (BBDC4) devem divulgar os números até o dia 8 de fevereiro. Os balanços fecham o ano de 2023, que teve a disparada da inadimplência como principal tema nos três trimestres anteriores.

O não pagamento das dívidas por parte dos clientes obrigaram as instituições financeiras a elevarem as suas Provisões para Devedores Duvidosos (PDD). Esse dinheiro é utilizado para cobrir os calotes dos clientes. “Aconteceu por causa dos juros elevados no ano passado e por conta do resquício da forte inflação de 2022. Esses dois fatores fizeram todos os bancos apresentarem uma alta da inadimplência”, afirma Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research.

Com a alta nas provisões, alguns bancos viram o lucro e a sua rentabilidade, que é medida pelo Retorno sobre Patrimônio Líquido (ROE), caírem. Quaresma explica que os mais afetados foram o Santander e o Bradesco. “O Bradesco está mais exposto aos clientes das classes C, D e E. Esse segmento foi muito impactado pela inflação e viu seu poder de compra diminuir, o que acabou gerando o atraso no pagamento das dívidas”, explica.

No trimestre passado, o então CEO do Bradesco, Octavio Larazi, disse que a companhia atingiu o pico da inadimplência. O banco registrou o indicador, incluindo o efeito Americanas (AMER3), em 6,1%. O número ficou acima da média dos pares, como Itaú e Santander com o índice em 3% ou como no Banco do Brasil com a taxa em 2,81%. Sem o efeito Americanas, a inadimplência no Bradesco teria ficado em 5,6%.

Perspectivas para o Bradesco

Para o quarto trimestre de 2023 há uma expectativa de melhora sobre o Bradesco. Segundo os analistas da Ativa Investimentos, o banco terá uma queda nas provisões por causa do recuo da taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic. “Entendemos haver espaço para uma surpresa positiva no provisionamento e na melhora da margem com o mercado após o início de ciclo de queda da Selic”, comenta a equipe de Research.

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Além disso, eles ainda elogiaram a mudança do CEO feita em novembro, com a saída de Octávio Lazari para a entrada de Fernando Noronha. Os especialistas disseram que a instituição não deve mudar totalmente a rota, mas isso pode deixar a empresa mais competitiva no segmento de cartões, visto que Noronha possui um histórico de atuação no segmento.

“Projetamos que o banco vai na direção correta de tentar se adequar à nova realidade do varejo. Também esperamos um Bradesco menos “doador de share” (fatia do mercado) para as fintechs nos próximos anos e aceleração do processo de fechamento de agências para melhorar a rentabilidade no varejo”, afirmam os analistas da Ativa.

Mesmo com esse otimismo para 2024, os especialistas enxergam que o Bradesco ainda terá suas margens pressionadas no quarto trimestre de 2023 por uma redução no juros obtidos nos empréstimos, que é conhecido como spread – diferença entre o preço de compra e o de venda. “Com uma mudança de ritmo mais acelerada em prol de ‘limpar’ a carteira e diminuir o índice de atraso, esperamos spreads e concessões piores, o que deve impactar negativamente a margem financeira com clientes”, detalha a equipe da Ativa.

Ainda assim, todos os especialistas ouvidos pelo E-Investidor, recomendam compra para o Bradesco. De acordo com Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos, o investidor que comprar esse ativo deve ter paciência para depois obter bons lucros. Ele comenta que o balanço do quarto trimestre de 2023 vai mostrar que a alta da inadimplência foi controlada, mas que agora o banco precisa baixa-la.

“Esse processo pode demorar para acontecer pelo fato do indicador estar muito acima dos pares, mas o ativo está barato e não deve cair mais. A tendência é de alta, mas esse crescimento do valor do papel não será da noite para o dia, por isso, o investidor deve ter paciência com a ação”, explica Chinchila.

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A Terra possui recomendação de compra para o Bradesco com preço-alvo de R$ 18, a Genial Investimentos tem a mesma recomendação com preço-alvo de R$ 20,30 e a Ativa Investimentos também recomenda compra com alvo de R$ 21. Os números apresentam potencias altas, respectivamente, de 17%, 31,9% e 36,5% na comparação com o fechamento desta segunda-feira (29).

Santander tem recomendação neutra

No trimestre anterior, o Santander conseguiu mostrar para o mercado que os problemas com a inadimplência foram solucionados. O CEO do banco, Mário Leão, anunciou com otimismo que a empresa passaria a atuar com com maior apetite para elevar a concessão de crédito, mas de forma cuidadosa. “Queremos ampliar a concessão de crédito via cartões, crédito pessoal e até cheque especial, mas isso ocorrerá para aqueles clientes que conhecemos bem a renda”, afirmou Leão, em coletiva de imprensa no dia 25 de outubro.

Essa promessa de retomada feita pelo CEO deixou os analistas da Genial Investimentos levemente otimistas com balanço do banco para o quarto trimestre de 2023. “A retomada de estratégias mais agressivas, como o segmento de cartões, deve contribuir para o aumento das receitas provenientes da margem financeira com os clientes e tarifas, mas de forma bem gradual até as novas carteiras começarem a ganhar relevância”, explica Eduardo Nisho e sua equipe.

Na visão do analista da Ágora Investimentos Renato Chanes, o banco deve ser pressionado pela queda da Selic, que tende a reduzir o spread pelo lado da captação. “Outro ponto que deve piorar são as despesas com funcionários, visto que os salários aumentam por questão da sazonalidade”, explica.

O especialista tem recomendação de venda por acreditar que o papel do Santander está caro. “O valuation (valor do ativo) não é atrativo e o investidor pode encontrar melhores oportunidades entre os pares”, explica. O Santander viu sua rentabilidade, medida pelo ROE, cair dos 22,4% no terceiro trimestre de 2021 para 13,1% no terceiro trimestre de 2023. O patamar mais atual do ROE não agrada o analista, que estima o indicador em 12,7% para o terceiro trimestre com a ação muito valorizada para o que o banco entrega.

Já as demais casas de análises são um pouco menos duras com a instituição financeira espanhola, a Genial Investimentos e a Terra Investimentos possuem recomendação neutra.  “A ação do Santander não está tão atrativa quanto a do Bradesco e não oferece todos os pontos positivos que Banco do Brasil e Itaú têm. Para o ativo ficar atrativo, ele teria que cair ser negociado a um patamar próximo ao do Bradesco”, respondeu Régis Chinchila, da Terra.

Itaú pode virar uma mina de dividendos

Enquanto as questões de inadimplência e rentabilidade preocupam Bradesco e Santander, o Itaú nada de braçada e é a ação favorita da maioria dos analistas. Segundo Larissa Quaresma, da Empiricus, a preferência pelo Itaú decorre do fato do banco ter sido o primeiro a controlar a inadimplência e estar prestes a anunciar mais dividendos aos acionistas.

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Na coletiva de imprensa do trimestre anterior, o presidente do Itaú, Milton Maluhy Filho, prometeu que anunciaria o aumento do porcentual do lucro que é destinado ao pagamento de dividendos após o Banco Central (BC) definir as questões regulatórias do Índice de Basiléia. Esse indicador mede quanto dos empréstimos disponibilizados pela empresa está coberto pelo próprio dinheiro da instituição financeira. No terceiro trimestre de 2023, o Índice de Capital Basiléia nível 3 do Itaú estava em 13,1%. Quanto maior o indicador, maior o nível de capital que o banco possui.

Esse dinheiro pode virar dividendos, novos investimentos ou ficar parado no caixa, mas a última opção não foi a prometida pela gestão de banco. “O investidor pode esperar um aumento de dividendos ou uma eventual recompra de ações. Não queremos acumular capital, a ideia é distribuir para o acionista de qualquer forma”, afirmou Maluhy Filho a jornalistas no dia 7 de novembro.

Segundo Quaresma, o mercado aguarda essa definição ansiosamente e com boas perspectivas, visto que as regras de Basiléia 3 para mudança no cálculo do risco operacional foram mais brandas do que o esperado, o que abre espaço para o Itaú distribuir mais proventos aos acionistas – e isso deve ser dito nesse próximo balanço.

“A questão até pode jogar um certa pressão para o anúncio dos novos dividendos, mas se o banco não fizer isso nesse trimestre o mercado não deve ficar decepcionado, visto que o Itaú já conquistou a confiança dos investidores com sua ótima gestão. Então, se o banco não anunciar o pagamento agora, ele deve sair no próximo trimestre”, diz Quaresma.

A analista não é única ansiosa com o anúncio de dividendos. O especialista da Terra Investimentos Régis Chinchila comenta que se a mudança ocorrer o banco pode elevar o porcentual do lucro destinado ao pagamento de dividendos (payout) para 67,9%. “Se isso se concretizar, o Itaú pode elevar o payout do ano de atuais 30% para 67,9%, considerando estimativa de lucro de R$ 35,171 bilhões. Já o dividend yield (retorno com proventos) mais que dobraria: de cerca de 4% para 9%”, argumenta Chinchila.

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Fora do assunto dividendos, as linhas do balanço também devem agradar. A Ativa Investimentos acredita que a empresa deve apresentar o melhor resultado entre os bancos. “Estamos otimistas com um menor provisionamento e um aumento de concessões de crédito, dado o seu melhor posicionamento, no momento, para ‘surfar’ esse início de ciclo de melhora no crédito”, afirma a corretora.

Seguindo as estimativas de melhor resultado e chances de bons dividendos, os analistas de Terra Investimentos, Empiricus Research e Ágora Investimentos declaram, em consenso, a preferência pela ação do Itaú no setor. Com recomendação de compra de todos, exceto por parte da Ativa, o papel tem preços-alvos de R$ 41 da Ágora, R$ 38 da Terra Investimentos e R$ 40,60 da Genial Investimentos. As cifras equivalem a potenciais altas, respectivamente, de 25,61%, 16,4% e 24,3% na comparação com o último fechamento, desta segunda-feira.

Banco do Brasil manterá bom ritmo, mas não é o preferido por causa de Brasília

O último entre os quatro grandes bancos avaliados é o estatal. Os analistas estão otimistas com o balanço e reconhecem a rentabilidade que a companhia entrega para o investidor. Segundo Régis Chinchila, o Banco do Brasil deve ser impulsionado pelo crédito rural. “A expectativa é de um crescimento de lucro e de receita, mas será algo pequeno. O número deve vir em linha com a expectativa do mercado, com o ROE acima da casa dos 20%”, estima o analista.

Já a Ativa Investimentos comenta que a concessão de crédito maior por parte do agronegócio deve ajudar a empresa a convergir para o guidance (previsões da diretoria) – até o último balanço, do segundo trimestre de 2023, o ritmo estava abaixo do projetado para o ano. “Do lado negativo, estimamos um provisionamento terminando acima do guidance e um crescimento das despesas administrativas mais forte, em parte explicado pelo reajuste dos bancários e outra parte explicado por uma menor eficiência na adequação do quadro de funcionários e agências”, ressalta a equipe da Ativa.

O analista da Ágora Investimentos está neutro com o BB, enquanto a Terra e a Ativa recomendam compra com preço-alvo de R$ 61,50 e R$ 75, respectivamente. O maior valor está sendo esperado pela Ativa, a única que tem o Banco do Brasil como a ação favorita. As duas estimativas de preço representam uma alta de 8,8% e 32,6% em relação ao fechamento do pregão desta segunda-feira.

A Ativa tem o BB como favorita por acreditar que o Itaú está caro. Além disso, o BB oferece desconto ao investidor decorrente do temor do mercado com interferências políticas no banco estatal. Na visão da corretora, a gestão da companhia se mostrou blindada desse risco político em dois eventos.

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O primeiro foi o período em que o governo quis reduzir o teto de juros do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para 1,7% ao mês e o BB se recusou a reduzir os juros nesse patamar, pois não era rentável para a companhia. “Fora isso, a própria montagem dos diretores da nova presidente foi mais benigna do que o estimado previamente”, afirma a corretora.

De acordo com a Ativa, o desconto obtido por conta da ação ser de empresa estatal continua existindo, mesmo que o banco tenha um ROE de 21%.  “Existe uma expectativa do mercado que essa rentabilidade irá cair a um ritmo acelerado nos próximos anos, o que não concordamos, e por isso ainda entendemos que essas ações representam oportunidade para o investidor”, conclui a corretora.

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