- O mercado de varejo acaba de ganhar um novo – e gigante – player com a fusão recém-anunciada entre a Arezzo (ARZZ3) e a Soma (SOMA3)
- A união das duas companhiascria a varejista com maior número de lojas no País, mas, em termos de valor de mercado e faturamento, no entanto, a Lojas Renner (LREN3) ainda sai na frente
- Apesar de tamanhos parecidos, as varejistas têm diferenças importantes entre si; analistas escolhem qual ação é a preferida
O mercado de varejo acaba de ganhar um novo – e gigante – player com a fusão recém-anunciada entre a Arezzo (ARZZ3) e a Grupo Soma (SOMA3). A união das duas companhias cria a varejista com maior número de lojas no País, um movimento que foi muito bem recebido, como mostramos aqui. Em termos de valor de mercado e faturamento, no entanto, tem uma concorrente na frente: a Lojas Renner (LREN3).
Um levantamento feito por Einar Rivero, CEO da Elos Ayta Consultoria, mostra que o valor de mercado da fusão entre a Arezzo e a Soma é de R$ 13 bilhões. A Renner, por sua vez, vale R$ 15 bilhões. O volume de vendas da Renner também é maior, mas o primeiro lugar em lucro líquido fica com a nova gigante do mercado.
Leia também
Os dados são de setembro de 2023, último resultado trimestral disponível das companhias.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Por serem empresas, agora, de tamanho semelhante dentro de um mesmo setor, o varejo, as comparações são “normais”, diz Rafael Ragazi, sócio e analista de ações da Nord Research. Mas, olhando com lupa, as gigantes varejistas têm diferenças significativas. “É normal que haja diversas comparações das duas companhias, porque têm porte similares. Mas em termos de competição não há um overlap (sobreposição) direto entre o que a nova companhia vai se tornar e o que a Renner é”, destaca Ragazi.
Renner e Arezzo têm públicos diferentes. Uma é mais voltada para as classes B e C, enquanto a outra tem foco na alta renda.
Sob esse ponto de vista, a fusão Arezzo com a Soma não “ameaça” o mercado da Renner, nem o contrário. “A maioria das marcas da Arezzo e da Soma estão acima da Renner, então não é uma competição direta como no caso da C&A ou da Marisa, por exemplo”, explica o analista da Nord.
Qual a ação preferida dos analistas, Arezzo, Soma ou Renner?
Com tamanhos semelhantes, mas diferenças importantes, agora investidores terão ações de duas gigantes do varejo para investir. E os analistas não têm uma preferência única.
Entre quem prefere as ações da Arezzo (ARZZ3) e da Soma (SOMA3), pondera um entendimento de que, por serem companhias mais ligadas à alta renda, esses nomes são mais resilientes às variações macroeconômicas do que companhias mais populares, como se encaixa a Renner. É o caso da Toro Investimentos. A casa tem recomendação de compra para os três papéis, mas a atuação com o público de alta renda faz a ARZZ3 ser considerada a "top pick" (preferida) no setor.
"É uma recomendação que já carregamos há algum tempo pela ampla entrega de resultados que vemos sendo realizada pelo management (direção), além do crescimento orgânico e de uma gestão eficiente de alocação de capital", destaca Gabriel Costa, analista da Toro. "A atuação no mercado varejista de roupas com foco maior nos públicos de alta renda também permite o desempenho resiliente da Arezzo em períodos adversos de baixo crescimento da atividade e de depreciação dos indicadores macroeconômicos."
A ARZZ3 também é o papel preferido para a Empiricus, que tem recomendação de compra para a ação e está revisando seu preço-alvo para incluir a sinergia com a Soma. "Do ponto de vista cíclico, sem dúvida preferimos a moda de alta renda, que tem uma demanda mais resiliente e menos sensível. Hoje, apesar de a ação da Renner ter um valuation (valor de mercado) mais barato, entendemos que ainda não está na hora de apostar nesse varejo massificado, cujo consumo ainda vai demorar alguns trimestres para se recuperar de forma mais forte", explica Larissa Quaresma, analista da Empiricus.
Alerta amarelo no varejo
A analista destaca que acompanha a LREN3 de perto e, para além da preocupação com o ciclo macroeconômico, há um alerta amarelo entre as varejistas mais ligadas à baixa renda em termos de competição. Desde que os players internacionais, especialmente as empresas chinesas como Shein, entraram de vez no mercado brasileiro, as companhias nacionais ficaram em uma posição mais delicada na luta pelo market share.
Publicidade
"Temos uma preocupação grande em relação às chinesas. Justamente por ela trabalhar nesse segmento massificado, a Renner fica muito vulnerável à competição dessas outras empresas, que chegam com um produto tão bom quanto, mas com um preço N vezes menor", explica Quaresma. "E para o consumidor de Renner, que é mais sensível a preço, isso faz muita diferença."
- Preços da Shein mudam e varejo brasileiro acirra competição. Quem ganha?
Mas essa visão não é unanimidade. Na Nord Research, por exemplo, a Renner segue como a preferência no setor de varejo. Um dos principais atrativos da LREN3, segundo Rafael Ragazi, é o preço mais descontado do papel. O EV/Ebitda, um indicador que relaciona o valor da companhia (EV) e o seu Ebitda (geração de caixa), é de oito vezes. Já a Arezzo, com a fusão com a Soma, deve ser negociada a um EV/Ebitda de dez vezes.
O preço da ação, no entanto, não diz tudo. O analista da Nord destaca que a companhia está passando por um momento de inflexão, focando em expandir seu parque de lojas, ajustar a operação para melhorar a competitividade e melhorar as margens. Um movimento visto com bons olhos e que, dado o desconto dos papéis, torna a LREN3 a preferência da corretora.
"É um desconto para a Renner, mas além dessa questão do preço, eu gosto mais do momento dos resultados da companhia", diz Ragazi. "A Renner está passando por um ponto de inflexão e isso está bem claro. Os resultados estão começando a melhorar agora e o mercado costuma dar mais valor para quem está passando por essa inflexão."