A Petrobras (PETR3; PETR4) decepcionou após não pagar os dividendos extraordinários, disseram analistas de seis casas diferentes em relatórios enviados aos clientes nesta sexta-feira (8). O mercado também penaliza a empresa no pregão. Por volta das 15h, as ações preferencias da Petrobras recuavam 8,76%, a R$ 36,85, e as ordinárias (PETR3) recuavam 8,94%, a R$ 37,57. Ambas, porém, chegaram a despencar mais de 10% ao longo do dia.
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Todo esse mal-estar acontece após a Petrobras comunicar que não vai pagar os dividendos extraordinários. Em comunicado enviado ao mercado, a Petrobras informou que a distribuição proposta está alinhada à Política de Remuneração aos Acionistas aprovada em 28 de julho de 2023. “Em caso de endividamento bruto igual ou inferior a US$ 65 bilhões, a Petrobras deverá distribuir aos seus acionistas 45% do fluxo de caixa livre”, informou a empresa.
A decisão final sobre esse pagamento mínimo será tomada durante a próxima assembleia geral ordinária, que reúne todos os acionistas da empresa e está programada para ocorrer em 25 de abril. Vale lembrar que a União detém a maioria das ações votantes.
A palavra decepção foi a mais utilizada nos relatórios que resultaram em corte de recomendação de compra para neutra. Esse foi o caso dos analistas de Santander, Bradesco BBI e Ágora. Os analistas do grupo do Bradesco comentaram que a decisão da Petrobras traz incerteza à atual política, que era muito clara anteriormente.
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“Estamos reduzindo nossa premissa de US$ 5 bilhões por ano de dividendos extraordinários para US$ 2 bilhões por ano, além dos pagamentos mínimos de US$ 9,6 bilhões para o restante de 2024 e US$ 7,8 bilhões para 2025”, estimaram Vicente Falanga, Gustavo Sadka e Ricardo França, que assinam o relatório do BBI e da Ágora.
Eles relataram também que essa redução traria o rendimento de dividendos (dividend yield) restante esperado da Petrobras para 9% nos anos de 2024 e 2025. “Ação também pode cair fortemente, por volta de 12% em nossa opinião”, concluem os analistas.
Mercado reduz preço-alvo para a Petrobras
Além da recomendação, os analistas do Bradesco BBI cortaram o preço-alvo de Petrobras de R$ 48 para R$ 41. O novo valor apresenta uma potencial alta de 2% na comparação com o fechamento de quinta-feira (7), quando o papel encerrou o pregão a R$ 40,39.
Já o Santander reduziu o preço-alvo da ação ordinária da Petrobras de R$ 52 para R$ 47. O novo patamar representa uma alta de 16,36% em relação ao fechamento de quinta-feira. Segundo os analistas, a falta de dividendos extraordinários envia sinais confusos em relação à estratégia de alocação de capital de curto prazo.
“Isso porque vemos a Petrobras detendo cerca de US$ 18 bilhões em dinheiro no final de 2023 (contra uma posição de caixa de referência de aproximadamente US$ 8 bilhões, que assumimos ser suficiente para cobrir planos de Opex/Capex). Isto sugere uma posição de caixa excedente de aproximadamente US$ 10 bilhões”, afirmaram Rodrigo Almeida, e Eduardo Muniz, que assinam o relatório do Santander.
Os analistas esperam que a Petrobras gere um fluxo de caixa operacional de aproximadamente US$ 40 bilhões em 2024, “o que é mais que suficiente para financiar investimentos”. No entanto, o banco espanhol não descarta que a estatal pode acelerar a atividade de fusões e aquisições em 2024, limitando o potencial de pagamento de dividendos extraordinários e aproximando o rendimento de dividendos da Petrobras ao de seus pares.
Riscos para a ação da Petrobras
Essa tese também é levantada pela XP Investimentos. A corretora comentou que os investidores devem repensar sua visão sobre os riscos da Petrobras. Os analistas alegaram que a tese de investimentos é uma questão de avaliar a probabilidade de grandes fusões ou aquisições aconteçam no curto prazo.
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“Se isso foi o que levou à decisão do Conselho de Administração, as ações provavelmente cairão ainda mais, devido a uma combinação de má alocação de capital com dividendos mais baixos (já que a fórmula mínima leva em conta M&A como Capex)”, argumentaram André Vidal e Helena Kelm, que assinam o relatório da XP.
Todavia, eles disseram também que se o governo decidiu diminuir o pagamento de dividendos com o objetivo de manter um “plano de reserva” para o caso de uma deterioração das contas públicas, esse dinheiro deve ser distribuído em dividendos em breve.
“Esse dinheiro estocado acabará sendo pago de volta aos investidores e as ações poderão apresentar um bom desempenho de retorno total no futuro”, argumentaram Vidal e Kelm. Os analistas não revelaram sua recomendação para ação. No site da corretora a recomendação continua de compra com um preço-alvo de R$ 36,70, uma potencial queda de 9,13% em relação ao fechamento de quinta.
A Genial disse acreditar que mesmo com os cortes na distribuição de dividendos, o papel até pode parecer atrativo para o investidor, visto que o dividend yield anualizado de 10,8% , porcentual do valor da ação pago em dividendos, pode ser interessante para o investidor.
“Ainda que a empresa tenha esse dividend yield interessante, acreditamos que não é o suficiente para justificar um posicionamento mais agressivo no papel”, argumentou Vitor Souza, que assina o relatório da Genial. A corretora tem preço-alvo de R$ 47, uma potencial alta de 16,4% na comparação com o fechamento de quinta-feira.
Preço do petróleo também pode pesar no papel
Já os analistas do Citi não enxergaram apenas a política de dividendos como algo que o investidor deve temer na empresa. Eles comentaram que o preço do petróleo mais baixo também afeta a empresa, que inclusive teve um lucro menor em 2023 em relação ao ano passado.
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A Petrobras divulgou o balanço do seu quarto trimestre de 2023 com um líquido de R$ 31,04 bilhões, queda de 28,4% na comparação com o mesmo período de 2022. Os especialistas do Citi comentaram também que o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) de R$ 262,3 bilhões ficou abaixo do esperado.
“Contudo, a dívida líquida por Ebitda permaneceu em um nível confortável de 0,85 vez (versus 0,83 vez no terceiro trimestre de 2023 e 0,63 vez no quarto trimestre de 2022)”, concluíram Gabriel Barra e Andrés Cardona, que assinam o relatório do Citi. O banco possui recomendação neutra para as ações da Petrobras cotadas em Nova York, que são conhecidas como American Depositary Receipt (ADR). O preço-alvo é de US$ 15,00, uma provável queda de 8,3% em relação ao fechamento de quinta-feira.
* A matéria foi atualizada com uma correção: O Ebitda anunciado pela Petrobras foi de R$ 262,3 bilhões, e não R$ 262,3 milhões, como constava anteriormente.