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Brasil em 2021 terá retomada e PIB próximo a 3,5%, diz ARX

Para Rogério Poppe, CEO da gestora, o pior da pandemia já passou e os poderes Executivo e Legislativo estão mais afinados

Brasil em 2021 terá retomada e PIB próximo a 3,5%, diz ARX
Rogério Poppe, CEO da ARX Investimentos (Crédito: ARX/Divulgação)
  • Apenas a redução da aversão global ao risco já ajudará o real a se valorizar, com a cotação do dólar voltando para uma zona entre R$ 4,50 e R$ 5, mas isso depende das questões fiscais
  • Diversificação entre tecnologia, comércio eletrônico, commodities e empresas geradoras de caixa traz uma boa composição para qualquer carteira enfrentar os desafios do pós-pandemia
  • Na escolha de uma gestora, opte por quem tem maior histórico, o que permite observar como gestor e estratégia se comportaram em momentos de maior estresse

Os dias atuais são de alta volatilidade para a economia, mas pelo binóculo dá para ver um horizonte animador. Ao que tudo indica, o pior da pandemia já passou e, ainda com uma segunda onda de covid-19, a humanidade está mais preparada a lidar com o novo coronavírus. No Brasil, 2021 chega com um melhor entrosamento entre os poderes Executivo e Legislativo, o que pode favorecer a retomada da atividade econômica e culminar em um PIB próximo a 3,5%.

Essas leituras foram feitas por Rogério Poppe, CEO da ARX Investimentos. Com 20 anos de experiência e quase R$ 25 bilhões sob custódia, a gestora é controlada pelo gigante global BNY Mellon e tem expertise em renda variável, além de fundos multimercado, de crédito e de previdência.

Poppe dividiu com o E-Investidor suas previsões para aspectos como juros e câmbio e ensinou o que uma boa carteira de ações deve conter para se sair bem no pós-pandemia. Confira.

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E-Investidor – O mercado financeiro estava otimista quanto ao pós-covid e agora uma segunda onda atinge a Europa. O coronavírus voltou a fazer preço no Brasil?

Rogério Poppe – No exterior houve algum impacto. Mas aqui no Brasil, como a gente já vinha com uma maior volatilidade em relação ao fiscal, esse assunto foi atropelado pela recuperação mais recente da Bolsa. Hoje vejo uma preponderância das questões internas, ligadas à política fiscal, sobre o preço dos ativos, bem mais que o coronavírus. A segunda onda de covid-19 tem sido percebida como menos letal. Embora ela possa produzir algum efeito econômico de curto prazo, com a volta das restrições, nós temos mais conhecimento e estamos mais próximos de uma vacina do que no início do ano. Por isso, o impacto do coronavírus é minimizado. Ele não vai trazer grande dano no longo prazo, porque a vacina será uma realidade ano que vem.

Qual é o seu horizonte de Bolsa para 2021? Quais são as variáveis que pesam no cenário?

Desde o início do terceiro trimestre, tivemos uma boa surpresa em relação à recuperação da atividade. Para 2021, a dúvida é sobre qual o impacto que a retirada dos estímulos fiscais terá sobre esse crescimento. O lado positivo é que a política monetária está bastante frouxa, com juro baixo, o que favorece a recuperação econômica. Por mais que o juro tenha que subir no segundo semestre do ano que vem, o impacto da política monetária será muito positivo. Combinando um fiscal um pouco mais restritivo ao que temos hoje com uma política monetária ainda expansionista, é um cenário positivo para a Bolsa e a atividade econômica. É claro que a retomada em 2021 vai apresentar as sequelas deste ano. Com a recuperação forte que estamos tendo, o PIB do ano que vem pode ser próximo de 3,5%.

Na sua opinião, como será alinhada a questão fiscal será no pós-covid?

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A questão política, o relacionamento entre o Executivo e o Congresso, é sempre importante, porque envolve a possibilidade da aprovação de reformas favoráveis ao crescimento econômico. Mas a leitura deste segundo ano de mandato do presidente tem sido mais positiva em termos de relacionamento com o Congresso. Ele tem se aproximado mais, e hoje a discussão tem acontecido de uma forma bem mais saudável para a recuperação econômica. Estamos terminando o ano bem neste sentido, com um Congresso mais alinhado com o Executivo e preocupado com a retomada, o que é ótimo.

O ano de 2021 será bom por isso. Se olharmos para 2019, o início do mandato ainda tinha muito desentendimento entre Executivo e Congresso sobre a direção a ser tomada. Este ano está terminando com um Congresso mais alinhado ao governo.

E o fato de de estarmos chegando ao final do processo eleitoral norte-americano é outro fator positivo para investimento em países emergentes. Com o fato de haver uma definição e um novo governante para os próximos quatro anos, o investidor global vai sair de um horizonte muito focado no curto prazo e traçar expectativas, o que pode favorecer mercados como o Brasil.

O entusiasmo da pessoa física com a Bolsa vai evoluir para uma relação consistente e duradoura, ou é algo mais circunstancial, baseado neste momento de juros baixos?

Acho que é algo que veio para ficar. Os juros tendem a subir nos próximos meses, mas ficarão em um patamar muito abaixo em relação ao nosso histórico, de 20 a 30 anos. Culturalmente, a poupança do cidadão brasileiro terá um componente maior de renda variável, o que é muito positivo.

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Você acha que os novos investidores da Bolsa são muito sensíveis a recomendações de influenciadores em redes sociais e ações da moda?

Existe uma influência desses meios, mas acho que, na média, ela acaba sendo positiva. A educação financeira é algo que o brasileiro vai aprimorando. Da forma como eu vejo, isso não se limita a recomendar a ação A, B ou C, mas também a fazer gestão de risco. Entender que a variação de preço existe e o investidor não deve se apavorar com um revés, com uma Bolsa em queda. O comportamento das pessoas físicas investidas em Bolsa foi exemplar nesta crise da pandemia. Com a queda de março e abril, elas foram as primeiras a aumentar a exposição em tiveram um retorno bem expressivo.

Já que estamos falando de Bolsa, quais são as empresas e setores que a ARX está olhando com mais simpatia?

Vivemos um cenário que não é trivial. A pandemia, esse impulso fiscal no mundo, que está criando uma demanda, com matérias-primas faltando aqui, a produção de aço que voltou de repente… Tudo isso é um fenômeno pouco comum e que não vimos em outras crises, como a de 2008, em que o componente fiscal não teve esse alcance global.

Hoje nossa orientação é pela diversificação da carteira. Há vários setores interessantes. Em tecnologia, o e-commerce é um ganhador de longo prazo da crise que vivemos. O comportamento do consumidor em relação ao uso de tecnologia e a compras on-line deu um salto de alguns anos.

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Ao mesmo tempo, dada a questão de como sairemos deste momento pós-pandemia, com a redução dos estímulos fiscais, é interessante ter uma carteira com foco em commodities. O Brasil se beneficia muito, a balança comercial melhora rápido e ajuda a equilibrar o fundamento da economia. É preciso ter exposição a empresas do setor de minério, siderurgia, petróleo, celulose, commodities agrícolas. É cedo para entender qual será o impacto das políticas fiscais mundo afora, pode haver o retorno da inflação e as commodities podem representar um bom hedge para uma carteira.

E, por fim, eu colocaria as empresas geradoras de caixa. O setor elétrico historicamente sempre foi um bom gerador de caixa, mas não acompanhou o movimento de alta da Bolsa, em que tecnologia teve mais peso. Em setores mais regulados, com crescimento menos expressivo, o valor das ações traz hoje algumas oportunidades bastante interessantes.

A diversificação entre tecnologia, comércio eletrônico, commodities e empresas geradoras de caixa traz uma composição bem positiva para a carteira enfrentar os desafios do pós-pandemia.

O que você vê de mais interessante hoje na indústria de fundos para quem está vindo da renda fixa? O que o investidor deve olhar ao escolher seu gestor?

Nos últimos anos, surgiram novas gestoras e produtos com mais diversificação. Cada investidor tem seu perfil de risco, há ativos com menor e maior volatilidade e ele precisa entender isso. O primeiro movimento de um perfil mais conservador seria buscar um fundo de crédito privado. Subindo um pouco mais o nível de risco, os fundos multimercado são excelentes opções. E, por fim, a renda variável. Mas a melhor forma de o investidor abordá-la, dada a volatilidade que existe na Bolsa, é olhando para a fatia do patrimônio que ele se sente confortável em alocar, sejam 10%, 15% ou 20%. Quando era mais jovem, de 70% a 80% do meu patrimônio estava na Bolsa.

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Há excelentes opções de gestores no mercado para se escolher. É um bom aprendizado para as pessoas se acostumarem com a volatilidade. A longo prazo – e agora falo do fundo que eu toco -, quando se olha a performance, há períodos de três, seis ou 12 meses em que se teve maior perda. Há períodos assim, mas no longo prazo o retorno é bastante expressivo, de 20% ao ano ou mais. A renda variável tem que ter este horizonte de longo prazo para investir.

A melhor forma de investir em fundos é procurar um assessor com expertise para analisar as opções do mercado e ajudar o investidor a escolher. Quanto maior for o histórico da gestora, melhor. Isso permite ver como gestor e estratégia se comportaram em momentos cruciais, de estresse maior, como a crise de 2008 e agora a pandemia. Um histórico mais longo permite avaliar a performance do gestor e dá um conforto maior para o investidor em momentos mais difíceis.

O IPCA-15 acima do esperado mudou as expectativas do mercado em relação à taxa de juros. Você acha que a pressão inflacionária vai persistir em 2021? A Selic vai subir o suficiente para o juro real deixar de ser negativo?

A inflação tem um componente de curto prazo. Por causa do impulso fiscal, a demanda do consumidor surpreendeu positivamente e as empresas de forma geral não estavam preparadas, o que gerou pressão inflacionária em alguns setores. A construção civil é um bom exemplo, está tendo um aquecimento impressionante, que tem afetado o preço e causado até a falta de alguns produtos.

É uma questão estrutural do momento, assim como estamos vendo a pressão sobre alimentos, como o arroz. Mas são questões que devem ceder ao longo dos meses. Com a retomada das atividades, é esperada uma normalização da taxa de juros, para um patamar considerado neutro. O juro real deve voltar a ficar positivo no final do ano que vem. Ainda é cedo para falar algo mais sobre a inflação. Teremos que aguardar alguns meses ou trimestres para ter uma convicção maior, mas por enquanto a inflação parece bem comportada, o BC está acompanhando isto.

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O juro real negativo tem sido visto no mundo inteiro. Estamos em meio a uma política monetária expansionista, com o objetivo de trazer o investimento de volta e recuperar a atividade econômica. Isso deve continuar até meados de 2021, quando os juros voltarão a subir. Ainda não temos dados suficientes para dizer se a inflação vai mover os juros, isso ainda está em aberto. O estresse que vivemos durante a pandemia desvalorizou o real e isso acaba trazendo inflação a alguns produtos que são dolarizados, o que tende a arrefecer no início ano que vem, mas precisamos acompanhar de perto.

Como você vê o câmbio para 2021? O dólar pode cair se a aversão internacional ao risco diminuir? Ou, no caso do Brasil, a incerteza quanto à questão fiscal é mais forte e o dólar continuará pressionado?

Se imaginarmos que o câmbio anda em uma determinada linha, as questões internas nossas, como a fiscal, fazem o nosso câmbio ficar um pouco acima ou um pouco abaixo dessa linha. Mas a direção  será definida por eventos de fora. Estamos vivendo um ano de aversão a risco, nosso câmbio desvalorizou bastante. A expectativa é que, após a eleição americana, essa aversão a risco se reduza e essa linha venha na direção de o dólar arrefecer, em favor de outras moedas, o que vai beneficiar o real. Mas se vamos acompanhar essa linha acima dela ou abaixo, isso dependerá da questão fiscal.

O estresse que vimos nos últimos meses em relação ao teto de gastos pode voltar a acontecer. Nesse caso, o real vai se posicionar mais abaixo dessa linha. Mas a trajetória que enxergamos para essa linha é no sentido da apreciação da moeda, à medida em que a aversão a risco diminui. Quem define o movimento da moeda é o global, mas o real pode se apreciar menos se questão fiscal voltar a ter um impacto mais negativo sobre o Brasil.

De qualquer forma, apenas com a redução da aversão global ao risco, o real já se favorecerá. Aí poderemos ver o câmbio voltando para a zona entre R$ 4,50 e R$ 5. Mas esse intervalo será mais ou menos elástico dependendo das questões fiscais. Se o Brasil entrar em 2021 aprovando reformas que são relevantes para o ambiente da dívida pública, a apreciação do real pode ser ainda maior do que este intervalo. Por outro lado, se essa discussão sobre tirar ou não o teto perdurar, ficaremos mais próximos do teto dessa banda.

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