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Barsi tem razão? O que analistas dizem sobre a renda fixa ser ‘perda fixa’

Megainvestidor acredita que aposentadoria segura exigiria uma reformulação do sistema previdenciário e que investir em ações é o melhor caminho

Barsi tem razão? O que analistas dizem sobre a renda fixa ser ‘perda fixa’
Luiz Barsi (Foto: Alex Silva/Estadão)

O maior investidor pessoa física do País, Luiz Barsi Filho, acredita que apostar em uma carteira de renda mensal é a melhor estratégia para aposentadoria. Durante a pré-estreia do documentário “INSS: Bomba-Relógio do Brasil”, realizada na terça-feira (4), o ‘Rei dos Dividendos’ declarou que esse tipo de investimento significa baixa remuneração e aumento de dívida pública.

Segundo o megainvestidor, diversos investidores escolhem investir em títulos públicos devido à tradição consolidada e à histórica rigorosidade das taxas de juros no território brasileiro. Contudo, o que muitos veem como uma forma de poupança pessoal, na realidade, acaba sendo um custo para o país, já que o governo emite esses títulos para financiar suas operações.

Nacionalmente, a ideia de renda fixa é desafiada pela sua natureza mais estática do que lucrativa. Uma aposentadoria segura exigiria uma reformulação do sistema previdenciário, levando em conta os investimentos ao longo do tempo. Nesse contexto, se dá a declaração de Barsi: ‘não existe renda fixa, só perda fixa’.

Entretanto, os analistas possuem uma tendência a discordar do megainvestidor. Para Fabrício Silvestre, analista de renda fixa da Levante Corp, os títulos públicos em geral, têm um papel importante na alocação do investidor quando se trata de proteger a renda da inflação e garantir um ganho real até o vencimento, especialmente para quem tem um prazo mais longo, pensando em se aposentar.

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“Concordo que o governo emite novas dívidas para financiar seu déficit público, mas a probabilidade de ocorrer um default (não cumprimento de obrigações financeiras por parte de um devedor) em títulos é muito menor do que a probabilidade de enfrentar problemas em créditos ou até mesmo falências de empresas”, argumenta o analista. “Os papéis do governo são excelentes investimentos para quem busca retornos seguros, principalmente para investidores com perfil de risco mais conservador.”

De acordo com Christopher Galvão, analista da Nord Research, é um equívoco afirmar que a renda fixa só resulta em perdas, pois nesse segmento também é viável obter retornos substanciais, desde que haja convicção e análise corretas. “É possível, durante a avaliação do panorama macroeconômico, adotar diferentes estratégias, como a alocação em juros, dependendo da interpretação sobre a atividade econômica e a inflação”, diz.

Existe uma gama de opções dentro desses investimentos para compor um portfólio diversificado e atraente, que contribui para o crescimento patrimonial a longo prazo, segundo o analista. A flexibilidade permite escolher entre juros pós-fixados, pré-fixados ou protegidos contra a inflação, enquanto explorar o crédito privado em momentos oportunos pode gerar vantagens, como observado no primeiro semestre de 2023.

Galvão destaca que há uma variedade de abordagens para a construção de uma carteira ativa. “A renda fixa não se resume apenas à compra de títulos mantidos até o vencimento. É possível negociá-los antes, aproveitando as flutuações de mercado para obter ganhos”, complementa.

Pedro Afonso Gomes, presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP), vai na contramão dos analistas e concorda com Luiz Barsi, seu antecessor no cargo. Para ele, o megainvestidor foi certeiro num aspecto estrutural: o Brasil não pode sustentar os gastos públicos nos níveis atuais.

“Quanto mais o governo investe no Tesouro Direto, mais aumentam as despesas financeiras, o que é problemático considerando os recursos limitados do país. Embora os investidores possam lucrar, o país sai perdendo”, salienta Gomes. “O ideal seria que os investidores pudessem aplicar em ações de empresas privadas lucrativas e, ao longo do tempo, prosperar e receber dividendos.”

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Historicamente, desde 1822, o estado brasileiro se endividou, resultando em uma colossal dívida pública. Segundo o presidente da Corecon, o Tesouro necessita de recursos para financiar suas operações e rolar sua dívida, o que implica no pagamento de juros aos investidores que adquirem títulos públicos.

Em contrapartida, o mercado de ações não tem prosperado nos últimos anos, em parte devido à falta de familiaridade dos investidores com as empresas listadas. Além disso, escândalos contábeis, como o ocorrido com as Lojas Americanas, têm contribuído para a desvalorização significativa de algumas ações. “É crucial analisar se as empresas são sólidas e têm capacidade para prosperar a longo prazo”, recomenda Gomes.

O que o investidor de renda fixa deve fazer?

Adriano Gomes, sócio-diretor da Methode Consultoria, realizou um estudo analisando o desempenho de diferentes investimentos ao longo dos anos, desde 2017 até abril de 2024, abrangendo os governos Michel Temer, Jair Bolsonaro e Lula da Silva. Segundo seus cálculos, um investimento inicial de R$ 100 no início de 2017 teria um retorno de R$ 144,35, apenas corrigido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice oficial de inflação. Se corrigido pela Selic (a taxa básica de juros), o retorno seria de R$ 174,96, enquanto na bolsa de valores nominal seria de R$ 205,18 e, ajustado pela inflação, seria de R$ 142,14.

A questão levantada é se, no final das contas, houve ganhos ou perdas definitivas. O sócio-diretor destaca a incerteza inerente aos investimentos, ressaltando que, se houvesse certeza, não haveria tantas opções disponíveis no mercado. Ele observa que, ao longo da série histórica desde 2017, os investidores enfrentaram períodos de perdas, especialmente em 2021 por conta da pandemia de Covid-19, e em 2024, devido a questões fiscais internas e preocupações com a desaceleração da economia chinesa, além das decisões do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) dos Estados Unidos em relação às taxas de juros.

Segundo Paloma Lopes, economista da Valor Investimentos, credenciada à XP Investimentos, a estratégia de investimento pode variar dependendo do objetivo de construção de patrimônio. “Você tem a opção de criar uma carteira exclusivamente composta por renda fixa, que gere dividendos mensais, ou uma carteira mista, combinando renda fixa e renda variável, como fundos imobiliários ou ações voltadas para dividendos, visando retornos mensais”, ressalta.

Por outro lado, a economista ressalta que para investidores mais agressivos, a preferência pode recair sobre uma maior exposição à renda variável em detrimento da renda fixa. Contudo, é importante salientar que a recomendação de Luiz, de investir na construção de uma carteira de renda mensal, é particularmente relevante quando se pensa em aposentadoria, priorizando a obtenção de uma renda estável e constante ao longo do tempo.

 

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