- Conheci uma comunidade chamada Cuia, a 18 horas de Manaus de barco, pelos rios Negro e Solimões
- No local, a internet é muito ruim e os estabelecimentos que existem só aceitam dinheiro em espécie como pagamento
- Quase ninguém utiliza Pix ou tem cartões de crédito e débito – muitos sequer possuem conta bancária
Em São Paulo, o Pix já virou assunto velho. Estamos habituados a escutar sobre o uso de cartão de crédito com pontuação, investimentos via bancos e corretoras, entre outros recursos financeiros tecnológicos que parecem cada vez mais acessíveis. Mas quando saímos de grandes centros, a realidade muda.
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No mês passado, viajei para a Amazônia a convite do Instituto Presbiteriano Mackenzie, que tem incentivado ações de descentralização da educação financeira no Brasil. E o que mais me surpreendeu foi que algumas regiões estão muito menos aceleradas, no sentido da digitalização financeira, do que eu imaginava.
Eu sempre tive o sonho de conhecer a Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, da qual tanto falam. Poder conhecê-la não só em sua imensidão visual e de riquezas naturais, como também sobre o ponto de vista do seu povo, por meio do comportamento financeiro e empreendedor, foi enriquecedor.
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Conheci uma comunidade chamada Cuia, a 18 horas de Manaus de barco, pelos rios Negro e Solimões. Fiquei imerso por alguns dias em uma região bem afastada de centros urbanos com o objetivo de observar a relação deles com o dinheiro e dar aulas de educação financeira em escolas.
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O que percebi? Que quase nunca falam sobre dinheiro.
A internet é muito ruim e os estabelecimentos que existem só aceitam dinheiro em espécie como pagamento. Quase ninguém utiliza Pix ou tem cartões de crédito e débito – muitos sequer possuem conta bancária. “Só falamos sobre dinheiro quando ele falta”, me disse um morador. Ou então, quando é necessário “ir à cidade grande (Manaus)”.
Nas escolas, conversando com jovens, mais da metade não sabia ao que diz respeito educação financeira e finanças pessoais. Muitos nunca sequer tinham escutado os termos e nenhum respondeu com convicção o que significam.
Como levar educação financeira para locais afastados de grandes centros?
O que tive na Amazônia foi a confirmação de algo que, na teoria, eu já sabia: a educação financeira precisa levar em consideração os cenários regionais. No caso de Cuia, cerca de 95% das famílias vivem da agricultura ou da pesca. E a produção é massivamente de subsistência.
Quando perguntados sobre seus sonhos, pouco mais da metade disse que deseja mudar a condição financeira da família e, para isso, entende que é preciso ir para outros lugares, viver outras realidades. Outros preferem continuar levando a mesma vida, mais simples, pois valorizam demais o contato com a natureza para deixar o local.
Mas quase nenhum tinha a percepção de que é possível melhorar a condição financeira sem abandonar suas raízes, permanecendo em Cuia e realizando apenas algumas viagens à capital amazonense ou outras comunidades locais, como já fazem.
Para mostrar isso a eles, utilizei exercícios de planejamento financeiro e percepção comportamental. Também mostrei que existem diversas formas de empreendedorismo e que muito do que plantam, pescam e produzem ali pode ser vendido, se desejarem mais renda. Tudo de forma personalizada, de acordo com o cenário em que vivem.
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Se em São Paulo, por exemplo, o custo com transporte público, por carro de aplicativo e/ou a gasolina precisa ser considerado no planejamento mensal das finanças. Lá em Cuia, é o custo da gasolina para o barco que deve ser planejado.
E apesar de não haver possibilidade de venda online ou grandes exportações, dá para profissionalizar e aprimorar o método de venda da farinha de mandioca, um de seus produtos, para a região e a capital Manaus. Técnicas de precificação e padronização de produção e entrega, por exemplo, são conhecimentos que valem para o contexto local.
Educação financeira e o combate às desigualdades
Por fim, posso dizer com certeza que nunca serei o mesmo após essa experiência na Amazônia. E que, mais do que nunca, acredito que a educação financeira, atrelada ao empreendedorismo, é o instrumento mais potente que temos para o combate às desigualdades sociais e econômicas.
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Ao mesmo tempo, estando lá, pude sentir na pele o quanto ainda temos desafios em falar para todos – e, principalmente, sermos ouvidos e compreendidos – sobre economia e educação financeira. Sem políticas públicas e incentivos reais de organizações sociais e empresas, não vejo caminho possível para isso. Assim, reforço que temos e devemos trabalhar em conjunto para diminuir as desigualdades e construir o Brasil que tanto queremos, o futuro começa hoje!
Quer apoiar projetos de educação financeira por todo o País? Então conheça a Multiplicando Sonhos.