- Analistas indicaram ações que custam menos de R$ 50 e têm potencial de ter um retorno em dividendos (dividend yield) entre 6% e 12% nos próximos 12 meses
- Todos os papéis citados fazem parte de setores resilientes como bancos, energia, seguros, saneamento e telecomunicações
- Segundo especialistas, as empresas destes segmentos têm alta capacidade de repassar custos acima da inflação, baixa dependência dos ciclos econômicos, maior previsibilidade de receitas, e, em consequência, um histórico positivo de remuneração aos acionistas
Comprar boas ações, a bons preços e que paguem bons dividendos. Esse é o objetivo de muitos investidores que aportam na Bolsa de valores com foco em renda passiva. Mas é possível encontrar boas oportunidades no mercado com apenas R$ 50?
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Levantamento do E-investidor com analistas prova que sim. Foram indicadas oito ações, que custam menos de R$ 50 e têm potencial de ter um retorno em dividendos (dividend yield) entre 6% e 12% nos próximos 12 meses. Todos os papéis citados fazem parte de setores resilientes como bancos, energia, seguros, saneamento e telecomunicações (veja abaixo).
O fato destas ações integrarem estes setores pode ser considerada uma vantagem, avalia Rafael Ratto, analista do AGF. Conhecidos pelo acrônimo BESST (Bancos, Energia, Seguros, Saneamento e Telecomunicações), estes setores possuem barreiras significativas de entrada para novos concorrentes, sólida geração de caixa e baixa volatilidade.
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Além disso, as empresas destes segmentos têm alta capacidade de repassar custos acima da inflação, baixa dependência dos ciclos econômicos, maior previsibilidade de receitas, e, em consequência, um histórico positivo de remuneração aos seus acionistas.
Em geral, qualquer investidor pessoa física poderia encontrar bons investimentos nestes setores sem a necessidade de ser especialista nessas áreas, aponta Bruno Oliveira, analista CNPI do Projeto Vida de Acionista.
Já em relação ao retorno mínimo de 6%, Oliveira explica que a métrica surgiu com Décio Bazin, conhecido investidor de ações na década de 1990 e autor do livro “Faça fortuna com Ações, Antes que seja tarde”. No livro, Bazin estabelecia como meta que as ações deveriam ter no mínimo o mesmo retorno que os títulos públicos rendiam na época, ou seja, de 6%. Esta métrica é atualmente utilizada por muitos investidores com foco em dividendos e serviu como base para nossa seleção de ações.
Ação | Preço 08/10 | Dividend yield próximos 12 meses | Quem recomenda? |
Banco do Brasil (BBAS3) | R$ 26,98 | 9,5% a 12% | Vida de Acionista, GuiaInvest, Terra, AGF, MSX Invest, Blue3 Research, VG Research |
BB Seguridade (BBSE3) | R$ 34,30 | 8,2% a 9,5% | Vida de Acionista, GuiaInvest, AGF, VG Research, Nord Research |
Isa Cteep (TRPL4) | R$ 24,07 | 7% a 8,20% | AGF, Nord Research |
Itaú (ITUB4) | R$ 35,32 | 7% | Empiricus |
Porto Seguro (PSSA3) | R$ 37,34 | 6% | Empiricus |
Sanepar (SAPR11) | R$ 28,36 | 7,5% a 8% | MSX Invest |
ABC Brasil (ABCB4) | R$ 21,39 | 7,50% | Blue3 Research |
Itaú (ITUB3) | R$ 30,74 | 8% | Nord Research |
Fonte: Levantamento E-investidor com analistas
Banco do Brasil (BBAS3): a ação mais recomendada
O Banco do Brasil (BBAS3) possui mais de 200 anos de história, o que prova a sua fortaleza ao superar todas as crises do período, aponta Ratto.
Inclusive, o banco segue crescendo em rentabilidade e eficiência. Ao final do primeiro semestre, o BB tinha um ROE (Retorno sobre Patrimônio Líquido) de 21,7% e um Índice de Eficiência de 25,5%, o menor da sua história, reflexo de uma geração consistente de receitas e um eficiente controle de despesas, avalia o analista do AGF.
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Além disso, o Banco do Brasil possui uma política de dividendos muito transparente, remunerando os investidores oito vezes ao ano.
Entre as vantagens de investir no Banco do Brasil, Renato Reis, analista da Blue3 Research, cita o desconto da ação frente a pares privados. Essa defasagem no preço das ações ocorre porque é um banco estatal, mesmo entregando rentabilidades elevadas tanto quanto os bancos privados. Reis exemplifica que o Banco Itaú (ITUB4) negocia a 1,79 vezes preço sobre valor patrimonial (P/VP), enquanto o Banco do Brasil (BBAS3), que entrega uma rentabilidade muito próxima, negocia a 0,86 vezes.
Por conta desse desconto, o investidor pode ter um dividend yield (retorno em dividendos) maior nas ações BBAS3. Reis também destaca a carteira de crédito do banco, que tem uma parcela importante de crédito consignado para funcionários públicos, com inadimplência baixa. O analista cita também a carteira do agronegócio, que apesar das dificuldades do setor, teve uma rentabilidade elevada no ano passado e é um diferencial interessante da instituição.
Mesmo sendo um banco estatal, o Banco do Brasil tem uma boa previsibilidade de resultados sólidos. Milton Rabelo, analista da VG Research, afirma que independentemente da matriz ideológica do governo, as gestões do Banco do Brasil apresentaram disciplina de execução, preocupação com a rentabilidade e bons resultados operacionais.
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Já entre os riscos, Rabelo comenta que embora seja um fator controlado, não pode ser excluída a possibilidade de a instituição por pressão do governo vir a aumentar o crédito subsidiado e direcionar a carteira para produtos com menores spreads (ganhos com juros), o que poderia deteriorar o ROE do banco.
Outro ponto de atenção que tem preocupado o mercado é a taxa de inadimplência. Apesar de possuir uma inadimplência abaixo do Sistema Financeiro Nacional, esta vem aumentando enquanto os demais bancos têm apresentado uma trajetória de queda.
A inadimplência seria uma desvantagem para o investidor, considerando que o banco pode precisar aumentar as Provisões com Devedores Duvidosos (PDDs), que pressionariam parcialmente os lucros do banco e, em consequência, os dividendos.
Um outro risco ainda é a dependência da economia brasileira, aponta Marco Saravalle, analista CNPI-P e sócio-fundador da MSX Invest. Em uma recessão, por exemplo, seria natural que o banco diminua sua carteira de crédito e sua rentabilidade, enquanto há aumento da inadimplência e menos lucro.
BB Seguridade (BBSE3): dividendos previsíveis
A BB Seguridade (BBSE3) trabalha com o sistema bancassurance, pelo qual consegue oferecer seus produtos por meio dos canais online e físicos do Banco do Brasil, o que se traduz em um forte propulsor na geração de negócios.
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Graças a capilaridade do Banco do Brasil, a BB Seguridade tem liderança no segmento rural e é favorecida pela dinâmica no setor. Segundo Ratto, um mesmo produtor rural pode contratar inúmeras operações com certa recorrência, que por sua vez precisam da emissão de novas apólices de seguros, retroalimentando assim a base de emissões e fortalecendo a credibilidade da seguradora no mercado.
Mas não é a única aliança estratégica. Apesar de ter essa relação com o Banco do Brasil, a BB Seguridade também trabalha em parceria com grandes empresas privadas do mercado segurador como Mapfre e Principal Financial Group, que possuem grande expertise na área, lembra Rabelo, da VG Research. “Acreditamos que a BB Seguridade tem um modelo de negócios defensivo, resiliente e que não precisa de grandes investimentos para se manter extremamente rentável”, avalia ele.
Segundo Rabelo, o portfólio diversificado da seguradora faz com que haja um potencial de crescimento sustentável no médio e longo prazo.
A seguradora vem entregando resultados operacionais sólidos nos últimos trimestres, mas nos próximos meses deve ter uma melhoria no resultado financeiro por conta da alta dos juros, aponta Sergio Biz, analista focado em dividendos e sócio do GuiaInvest.
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“A empresa possui um bom histórico de gestão, apresenta baixa volatilidade por conta dos resultados operacionais resilientes e oferece uma elevada previsibilidade na distribuição de proventos”, diz Biz. Vale lembrar que a BB Seguridade remunera os seus acionistas duas vezes ao ano, em fevereiro e agosto.
Ratto, do AGF, destaca ainda o saldo expressivo em reservas de Previdência Privada na BB Seguridade em setembro, no montante de R$ 416 bilhões. “É um reflexo da credibilidade, solidez e confiança dos clientes na companhia”, observa.
Já entre os riscos, existem dois no radar. O primeiro é o fim da parceria com o Banco do Brasil que dura até 2033. O mercado está na expectativa se esta será renovada ou não, por impulsionar fortemente os negócios da seguradora.
Mas a gestão da empresa já tem se manifestado de que “há uma intenção de ambas as partes para olhar esse contrato e de que o entendimento é que a BB Seguridade é uma empresa do Banco do Brasil e continuará sendo”.
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Outro risco é o cenário desafiador para o segmento rural, que enfrentou algumas quebras de safra e clima desfavorável em 2024, com fortes secas e queimadas. Segundo Biz, essa situação poderia aumentar a sinistralidade, que pode prejudicar os resultados e a rentabilidade dessa linha de negócios.
Por estar mais exposta ao agro, a BB Seguridade sempre acaba tendo no radar eventuais impactos negativos com fenômenos climáticos como El Niño ou o La Niña.
Isa Cteep (TRPL4): o filé mignon da transmissão
Ainda falando em previsibilidade de receita e dividendos, a transmissora Isa Cteep (TRPL4) se destaca.
A companhia é remunerada por levar energia do ponto A ao ponto B e não pela quantidade de energia transportada. Segundo Victor Bueno, sócio e analista da Nord Research, transmissoras costumam trabalhar com contratos de longo prazo, em torno de 30 anos, que são corrigidos por índices de inflação, o que traz resiliência e previsibilidade para a empresa.
Isso porque independentemente do que aconteça com a economia, as receitas vão ser perenes e continuar sendo corrigidas pela inflação. “Basicamente as receitas vão crescer seus 4% pelo menos. Então é uma empresa muito sólida”, opina Bueno.
A Isa Cteep paga proventos uma vez ao ano. E tem como prática remunerar os acionistas com 75% do lucro líquido regulatório.
Entre os riscos, está o fim das receitas vindas da Rede Básica Sistema Existente (RBSE), uma indenização paga pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a algumas transmissoras que tem duração até 2028. A partir deste período, a Isa Cteep não contará com esse ingresso e terá uma redução nas suas receitas.
Contudo, a companhia já trabalha para compensar essa perda de receita, com participação em leilões, investindo em novos projetos e linhas de transmissão. Ratto destaca que os investimentos para os próximos cinco anos estão na casa dos R$ 15 bilhões, sendo R$ 5 bilhões em reforços e melhorias e R$ 10 bilhões em projetos greenfield (do zero).
O analista do AGF aponta também para a transparência da Isa Cteep, que sempre que divulga seus resultados traz um recorte das receitas sem a RBSE.
Para Bueno, embora os dividendos possam ser menores no curto prazo por conta dos investimentos, a tendência é que a Isa Cteep consiga compensar a perda da RBSE e continue entregando bons resultados e dividendos robustos no longo prazo.