- As contratações de consórcios têm crescido nos últimos anos, com destaque para o crédito imobiliário que se tornou alternativa devido à alta da taxa Selic
- Especialista em consórcio destaca que instrumento pode ser usado para quitar financiamentos, com um menor custo, mas alerta para características do produto
- Thais Jordão contratou um consórcio com o objetivo de quitar um financiamento e acabou com um imóvel três vezes maior
Thaís Jordão, 46 anos, trabalhava em um banco quando obteve o seu primeiro crédito para conquistar a casa própria. No meio do caminho, e com um financiamento de quase 20 anos para quitar pela frente, divorciou-se e decidiu mudar de cidade. Foi então que ela aderiu à cota de um consórcio imobiliário e terminou com um imóvel maior do que havia planejado.
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Ao E-Investidor, a analista de gerenciamento de risco conta que a ideia de ter um financiamento imobiliário vinha da própria família, por ser uma modalidade de crédito mais antiga e popular. “Eu só não percebi de cara que pagaria três vezes o valor financiado ao longo dos anos por conta dos juros”, aponta Jordão. Mas sua vida financeira mudou completamente ao encerrar o casamento e mudar de trabalho. “Comecei a refletir mais sobre minhas decisões financeiras. Casada, elas eram compartilhadas, mas, sozinha, as coisas mudaram”, revela.
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Em 2018, quando faltavam pouco mais de R$ 200 mil para quitar o financiamento de seu apartamento na Zona Sul da capital paulista, ela conta que vislumbrou a possibilidade de obter crédito com juros mais baixos por meio do consórcio. “Se desse certo, ótimo, caso não, eu poderia usar o crédito para outra coisa. A ideia era essa.”
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O consórcio é uma modalidade de compra em grupo na qual várias pessoas se unem para formar uma espécie de “poupança coletiva” com um objetivo em comum. No grupo de Jordão, o intuito dos cotistas é comprar um imóvel. Mas as possibilidades vão além: há crédito para automóveis, maquinários e equipamentos, produção agrícola e até serviços como formaturas e viagens.
Com uma carta de pouco mais de R$ 200 mil, ela demorou dois anos para ser contemplada no sorteio do consórcio do qual participava. Mas no ano anterior, em 2019, a analista já havia conseguido vender o seu imóvel financiado junto o com ex-marido por aproximadamente R$ 1 milhão. Usando a sua parte da venda, proporcional à metade do valor do apartamento, ela comprou um terreno e começou a construir uma casa no interior paulista. “Como em toda obra, o que eu achei que custaria R$ 300 mil só para a construção acabou virando R$ 500 mil, por causa dos aumentos de preço dos materiais e imprevistos. O consórcio veio em uma boa hora, cobrindo essa diferença”, conta.
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Ela diz que a aplicação se tornou uma ferramenta que ajudou a acelerar o crescimento do seu patrimônio. Isso porque, enquanto o apartamento financiado em São Paulo tinha perfil quitinete, com pouco mais de 50 metros quadrados (m2), enquanto hoje sua casa no interior do Estado tem 150 m², com piscina e área de lazer.
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As parcelas iniciais do consórcio imobiliário contratado por Jordão começaram na casa dos R$ 1 mil. Atualmente, o valor corrigido pelo INCC a faz pagar R$ 1,2 mil. Já o valor contratado da carta passou de R$ 250 mil para R$ 309 mil, correção que visa garantir o mesmo poder de compra do primeiro e último consorciado contemplado. No financiamento imobiliário, ela conta que pagava por mês R$ 1,9 mil.
No caso de Jordão, a experiência positiva fez o consórcio imobiliário se tornar parte do planejamento financeiro para o longo prazo. “Fiz um para o meu filho comprar um carro, estamos estudando o momento ideal de fazer um lance. E ainda pretendo fazer mais, porque vejo como uma oportunidade de investir na compra de imóveis comerciais para alugar depois”, conta.
Vale a pena contratar um consórcio para pagar um financiamento imobiliário?
Com apenas a cobrança de taxas administrativas, que no caso do consórcio imobiliário alcançam uma média de 1,2% ao ano, conforme dados da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac), a modalidade tem sido alternativa para quem está fugindo de uma taxa básica de juros (Selic), acima de 10% ao ano desde 2022. Não à toa, a entidade mostra que o crédito para imóveis encerrou 2023 com o maior volume de participantes da história do segmento: 1,7 milhão. Frente ao ano anterior (1,4 milhão de consorciados), foi quase 20% a mais.
Mas existem características próprias do consórcio que devem ser levadas em conta — e que podem influenciar na decisão dos interessados. Embora as parcelas não sejam muito impactadas pelos juros, existe a imprevisibilidade de quando o consorciado vai obter a sua carta de crédito. Em média, os grupos formados para a compra da casa própria podem durar entre 10 e 20 anos, com aproximadamente 500 pessoas, com um número limitado de participantes contemplados anualmente.
Cada administradora tem as suas regras de consórcio, mas o mais comum no mercado costuma ser um consorciado contemplado por pelo menos um sorteio por ano. Outra opção observada são os lances, cuja periodicidade pode ser mensal, bimestral ou trimestral, a depender do regramento da administradora, no qual os participantes podem tentar oferecer valores para antecipar a contemplação, numa espécie de leilão. Os valores costumam variar entre 30% e 50% do valor contratado.
Mesmo assim, independentemente do tempo em que a carta foi obtida, todos os participantes devem pagar as parcelas mensais até o fim do contrato. Por isso, contratar uma carta de crédito de um consórcio para pagar um financiamento imobiliário pode soar fora do comum. No entanto, não deixa de ser um caminho mais econômico de quitar a dívida, ao evitar pagar os juros remanescentes, avalia Victor Sampaio Arrojo, especialista em Consórcios da Terra Investimentos.
Só que ele alerta: os interessados devem fazer uma análise cuidadosa das condições do consórcio, como as taxas de administração e as regras de contemplação. “Também é essencial ler o contrato e entender todos os termos para evitar surpresas no futuro. O consórcio pode ser uma excelente alternativa para quem busca uma forma mais econômica e planejada”, diz Arrojo.
Para quem encontrou um consórcio do qual as regras estão de acordo com as expectativas, o especialista da Terra Investimentos aponta as vantagens de antecipadamente quitar o financiamento imobiliário com a carta de crédito do consórcio:
- Menor custo total: devido à isenção de juros e a taxa administrativa ser diluída pelo prazo do consórcio;
- Planejamento financeiro: parcelas fixas com reajuste anual pelo Índice Nacional de Custo da Construção Civil (INCC);
- Flexibilidade de uso: liberdade para usar no interveniente quitante (operação de operação de venda de um imóvel financiado), documentação do imóvel e reforma;
- Menor risco de endividamento: por não estar atrelado aos juros do mercado, evita o superendividamento;
- Possibilidade de abatimento: caso não queira utilizar todo o valor contratado é possível abater o valor não pretendido no prazo ou no valor das parcelas;
- Socialização de recursos: cooperação entre participantes que facilita a captação de mais recursos;
- Sem entrada e análise de crédito: ao contrário de um financiamento, existe maior facilidade em obter o imóvel com menor burocracia e sem a necessidade de pagamento de entrada.
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