- O maior investidor do mundo, Warren Buffet, nunca esteve tão conservador nos investimentos
- A Nu Holding não foi a única empresa do setor financeiro em que Buffet reduziu posição
- Buffett é conhecido por ser guiado pelos fundamentos das empresas e pela avaliação de valor, evitando previsões sobre o mercado ou economia
O maior investidor do mundo, Warren Buffett, nunca esteve tão conservador nos investimentos. No terceiro trimestre deste ano, sua holding, a Berkshire Hathaway (BERK34), vendeu mais ações do que comprou pelo oitavo trimestre consecutivo, em negócios de mais de US$ 34 bilhões.
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O conglomerado liderado pelo lendário investidor nunca esteve tão líquido. Após as vendas, o caixa passou a representar 28% dos ativos totais da empresa, nível mais elevado desde a década de 1990, totalizando US$ 325,2 bilhões. Toda essa movimentação gera especulações no mercado. Estaria o Oráculo de Omaha prevendo uma nova tendência de baixa? Alguns acreditam que ele está apenas se mantendo fiel à sua filosofia de investimento, afinal, Buffet não especula. Ele compra quando está barato e vende quando está caro. É bom lembrar que a bolsa dos EUA dita tendências globais, influenciando diretamente mercados ao redor do mundo, inclusive o brasileiro.
Paula Zogbi, gerente de Research e head de conteúdo da Nomad, avalia que as mudanças de Buffett refletem uma maior cautela em relação à precificação dos ativos e não significaria, necessariamente, recessão ou mercado em baixa. “Em algumas declarações ele já deixou claro que tem achado mais difícil encontrar oportunidades na bolsa, especialmente em um momento de juros altos, em que sua posição em caixa traz algum rendimento”, diz. O movimento poderia indicar, ainda, a realização de bons lucros acumulados.
Nubank rendeu alguns milhões a Buffet
Um exemplo disso é o negócio com o Nubank (ROXO34). A Berkshire (BRK.B; NYSE) investiu no IPO do banco brasileiro em Nova York no 4º trimestre de 2021. Na época, adquiriu 107.118.784 ações a um custo médio estimado pelo mercado entre US$ 8,36 e US$ 9,38 por ação, um investimento avaliado em mais de US$ 1 bilhão.
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Já no 3º trimestre deste ano, a Berkshire reduziu sua participação em 19,31%, vendendo 20.679.787 ações a um preço estimado pelo mercado em US$ 13,65, gerando aproximadamente US$ 282 milhões de caixa. Essa realização parcial teria representado um lucro entre 45% a 63%.
A Nu Holding não foi a única empresa do setor financeiro em que Buffet reduziu posição. O Bank of America (BOAC34) foi uma das principais vendas da carteira, com uma redução de 22,77% na participação do bancão americano, num percentual (-25%) muito parecido com o corte em Apple (AAPL34).
Em relatório para clientes, o estrategista chefe da XP, Paulo Gitz, reforçou que o movimento de venda da Apple foi totalmente pragmático. “Em maio, ele (Bufffet) deu a entender que a venda foi por razões fiscais, devido risco de aumento de impostos em ganhos de capital por um governo que deseja cobrir um déficit fiscal crescente”, lembrou. Na prática, ele teria se antecipado para pagar menos tributos, uma discissão que ganhava força entre os democratas em relação às grandes companhias.
A Apple e o BofA ainda continuam entre as maiores participações da Berkshire. Buffett mantém mais de 26% de seu portfólio nas ações da fabricante do iPhone e quase 12% no BAC.
O que diz a carteira de Warren Buffet
O acompanhamento da carteira de Buffet trimestre a trimestre é possível de ser feito através do Formulário 13F-HR da Berkshire Hathaway. O documento é uma exigência da comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos (SEC) para dar transparência às participações acionárias dos grandes gestores de investimentos.
“Não acreditamos que Buffett esteja prevendo uma recessão. Esse não é o seu perfil”, diz Daniel Heizer, analista de Ações Internacionais da Suno. O especialista lembra que o megainvestidor é conhecido por ser guiado pelos fundamentos das empresas e pela avaliação de valor, evitando previsões sobre o mercado ou economia. “Quando ele vende, isso geralmente se deve a três motivos principais: perda de fundamento, preço excessivamente alto e custo de oportunidade.”
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Heizer reconhece, no entanto, que as vendas recentes levantam questionamentos e que o fato de o maior investidor do mundo não achar tantas oportunidades (de compra) quer dizer que tem bastante ativo caro por aí. “O mercado pode estar caro e prestes a entrar em uma recessão, mas com certeza o maior investidor de todos os tempos não está realizando especulações a respeito disso. Se ele acha caro, ele vende. E se acha barato, ele compra. Simples assim”, diz Heizer.
Entre as bagatelas do trimestre, a BRK.B entrou com pequenas participações em Domino’s Pizza (D2PZ34) e Pool Corporation (0,2%, e 0,5%, respectivamente), e ampliou posições em Heico Corporation (H1EI34) e Sirius Holdings (SRXM34) em 0,5% e 0,93%.
O que os gráficos mostram
Ao colocar uma lupa nos gráficos, o prêmio de risco de ações (Equity Risk Premium – ERP) – dado que apresenta o retorno que os investidores esperam ganhar de um investimento em ações em comparação com uma taxa livre de risco – é possível identificar que o mercado está um nível historicamente baixo.
William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue reforça que Buffet não faz projeções macroeconômicas e reitera esse posicionamento de forma contundente nos tradicionais encontros anuais da Berkshire, em Omaha. “O que ele sempre fala, tem a ver com o comportamento do que ele chama de humor do senhor mercado”, diz Castro Alves. Ou seja, na visão do estrategista, o Buffet está se aproveitando dos exageros de precificação do mercado seguindo a sua filosofia de realizar na alta.
Ou seja, há um entendimento de que os investidores não estariam sendo suficientemente recompensados pelo risco de comprar ações, uma leitura que Buffet parece fazer há pelo menos oito trimestres.
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