

O dólar vem caindo desde o fim de janeiro deste ano e, em fevereiro, atingiu a mínima de R$ 5,68, oscilando entre R$ 5,70 e R$ 5,91, mas ainda longe dos R$ 6,22 registrados no início do ano. Nesta sexta-feira (28), último dia do mês, o dólar hoje fechou a R$ 5,9183, máxima do mês, em sessão conturbada com o mercado de olho nas tarifas de Donald Trump, além do bate-boca entre o o presidente dos EUA e o da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, sobre a guerra com a Rússia.
Foi o terceiro pregão seguido de valorização do dólar, que atingiu a maior cotação de fechamento desde 24 de janeiro (R$ 5,9186) e encerrou a semana com ganhos de 3,24%. Com isso, a divisa, que passou boa parte de fevereiro em queda, terminou o mês com valorização de 1,37%, após recuo de 5,56% em janeiro. No ano, o dólar recua 4,87% em relação ao real.
A alta da moeda em fevereiro foi impulsionada por fatores como o anúncio de tarifas sobre aço e alumínio pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que gerou incerteza no comércio global, e a valorização das commodities, em especial a soja e o minério de ferro que, junto com o petróleo, tiveram altas expressivas, beneficiada por dados positivos da economia chinesa. Além disso, a confiança do consumidor nos EUA caiu sete pontos, a maior queda desde agosto de 2021, para 98,3 em fevereiro, pressionada por projeções mais fracas da multinacional Walmart, levando investidores a reavaliarem suas apostas no dólar.
A política monetária americana segue no centro das atenções dos investidores, com a média das expectativas de inflação para daqui 12 meses saltando de 5,2% para 6% em fevereiro, ainda acima da meta do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), e sinais de desaceleração econômica aparecendo em dados recentes. Esse equilíbrio delicado dificulta a decisão sobre o momento ideal para um corte de juros, mantendo a expectativa de um dólar mais forte no curto prazo.
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A condução da política comercial dos Estados Unidos sob Donald Trump tem sido mais moderada do que o esperado, com acordos que suspenderam temporariamente aumentos de tarifas para México e Canadá. As taxas aplicadas à China também ficaram abaixo do prometido na campanha eleitoral em 2024, reduzindo parte das preocupações do mercado.
No cenário geopolítico, houve um alívio com o cessar-fogo entre Israel e Hamas e sinais de possíveis negociações para encerrar o conflito entre Rússia e Ucrânia. Esses fatores ajudaram a diminuir a percepção de risco global, influenciando o comportamento dos ativos financeiros.
Como fica o dólar no Brasil em março?
Embora o câmbio tenha registrado um alívio expressivo no ano, o comportamento da moeda americana em março segue incerto, segundo os analistas. A última ata do Comitê de Política Monetária (Copom) indicou uma postura mais firme contra a inflação em relação ao comunicado anterior, reforçando a possibilidade de manutenção da Selic em níveis elevados. A decisão reflete a preocupação com a ancoragem das expectativas inflacionárias, o que pode ter impactos sobre o dólar e o custo do crédito no País.
O Banco Central (BC) pode intervir no mercado caso a volatilidade aumente, mas atuações desse tipo costumam ser pontuais. Além disso, o dólar deve reagir a fatores externos, como novos dados sobre a economia americana e o desempenho das commodities, assim como ao fluxo de capital estrangeiro para mercados emergentes.
O papel do governo brasileiro na volatilidade do câmbio
Para os especialistas, o enfraquecimento da moeda americana pode ser interrompido caso a incerteza global volte a crescer, o que reverteria parte das perdas recentes. Por outro lado, um ambiente mais favorável a mercados emergentes pode sustentar a trajetória de desvalorização. Com um mês marcado por eventos econômicos relevantes, investidores devem acompanhar de perto os desdobramentos que podem influenciar o câmbio.
“Com o fim do carnaval, discussões sobre ajustes fiscais, reforma tributária e políticas econômicas tendem a voltar a ser o principal gatilho para o câmbio. O último movimento de derretimento do real ocorreu justamente quando os debates sobre o pacote de ajuste fiscal e a reforma do Imposto de Renda (IR) geraram volatilidade nos ativos domésticos, e essas conversas devem retornar no próximo mês”, diz Paula Zogbi, gerente de research da Nomad.
À época, o pacote aprovado no fim do ano passado pelo Congresso Nacional foi apontado pelo governo como uma medida fundamental para equilibrar as finanças e dar credibilidade à política fiscal do Brasil, mas desagradou a maioria do mercado financeiro após analistas considerarem que as medidas ficaram bastante aquém do esperado.
O pacote fiscal de Haddad
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou em 11 de fevereiro que a economia gerada pelo pacote fiscal pode superar as projeções iniciais para 2025. Segundo um novo cálculo do Ministério do Planejamento, a redução efetiva de gastos deve alcançar R$ 19 bilhões, enquanto a contenção de pressões adicionais nas despesas deve somar cerca de R$ 15 bilhões. Com isso, a estimativa de ajuste fiscal passaria de R$ 30 bilhões para R$ 34 bilhões.
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De acordo com o economista e analista financeiro, Paulo Godoi Filho, parte do montante inclui R$ 26 bilhões do pente-fino em benefícios sociais, que já havia sido anunciado anteriormente, mas não vinha sendo efetivamente implementado.
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“Em vez de apresentá-lo como uma medida separada, o governo incorporou esses valores dentro das ações relacionadas ao Bolsa Família e ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), por exemplo. Essa abordagem contrariou as expectativas do mercado, que esperava um pacote composto por medidas adicionais e não pela reapresentação de ajustes já previstos. Se nada for feito para melhorar ainda mais essas medidas, o dólar tende a estourar assim como foi em novembro e voltar ao patamar de R$ 6,70 ou até R$ 7 em março”, afirma Filho.
Popularidade do presidente Lula pode interferir no câmbio?
Somado a isso, há a possibilidade de nomeações de integrantes do núcleo mais ideológico do PT para cargos estratégicos do governo, que levanta preocupações sobre o rumo da política econômica. Essa linha de pensamento é de Oscar Frank, consultor econômico da RJI Investimentos, que observa que as medidas consideradas populistas ou fora do convencional costumam aumentar a incerteza sobre a trajetória do real, especialmente em um contexto de pressões sobre as contas públicas.
“Um dos principais riscos que permeiam o cenário hoje envolve a reação do governo às pesquisas que mostram que a avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem piorando consideravelmente. Nesse sentido, o noticiário aponta uma série de alternativas em discussão capazes de resultar em expansão fiscal ou parafiscal e, por conseguinte, afetar os preços do câmbio”, diz.
A queda na popularidade do presidente Lula, por sinal, pode acelerar a aprovação da isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil, avalia José Carlos de Souza Filho, professor da Fia Business School. A medida, caso implementada, teria impacto direto nas contas públicas, ampliando o déficit fiscal e elevando a preocupação dos agentes econômicos sobre a sustentabilidade das finanças do governo.
PIB vai influenciar o dólar?
Além disso, um aumento na demanda decorrente da injeção de recursos na economia poderia pressionar o Produto Interno Bruto (PIB) e influenciar o comportamento do câmbio. A relação entre crescimento e equilíbrio fiscal, segundo o professor, se torna ainda mais sensível nesse contexto, uma vez que qualquer sinal de descompasso pode gerar reações imediatas no mercado financeiro.
As projeções das instituições financeiras que participam do Relatório Focus, do Banco Central, indicam que o dólar deve encerrar março cotado a R$ 5,80. “Mas como se trata de futuro, devem ser considerados os fatores não previsíveis que podem modificar rapidamente para melhor ou para pior os cenários esperados”, lembra o professor.
(com informações do Broadcast)
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