- Muitas pessoas físicas que entraram recentemente na B3 vêm de investimentos mais conservadores e não tem experiência em montar um portfólio balanceado, mesclando a renda fixa e renda variável
- Para facilitar essa distribuição, Felipe Miranda, estrategista-chefe da Empiricus, elencou 4 dicas que irão ajudar
- Para Miranda, 50% do capital deve ir para renda fixa e os 50% restantes para a Bolsa, fundos imobiliários e ativos de proteção
A migração de pessoas físicas para a Bolsa de Valores nunca foi tão intensa. Em janeiro de 2020, eram 1,8 milhões na B3. Já em dezembro do mesmo ano, o número aumentara 77%, para 3,2 milhões. Um dos fatores que motivaram o interesse pela renda variável foi a queda nas taxas de juros que acompanham a Selic, mantida desde agosto na mínima histórica, 2%.
Leia também
Com os juros no piso, muitas aplicações de renda fixa perderam rentabilidade e, por consequência, atratividade. Para entender essa questão, basta lembrar que até setembro de 2019 a Selic estava em 6%. Títulos públicos indexados ao juros básicos da economia ou ao CDI, como o Tesouro Selic, tiveram seus retornos esmagados em menos de um ano. A Poupança, então, que só rende 70% da taxa, ficou ainda mais prejudicada.
Muitas pessoas físicas que entraram recentemente na B3 vêm de investimentos mais conservadores e não tem experiência em montar um portfólio balanceado, mesclando a renda fixa e renda variável. Para facilitar essa distribuição, Felipe Miranda, estrategista-chefe da Empiricus, elencou 4 dicas que irão ajudar.
1 – Coloque 50% do capital disponível em renda fixa
Não é porque a renda fixa está longe dos tempos áureos que o investimento não seja importante. É essencial ter uma parcela do capital em aplicações mais conservadoras, para que você possa contar com aquele dinheiro em casos de emergência.
Publicidade
Conteúdos e análises exclusivas para ajudar você a investir. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Mesmo assim, o investidor não deve colocar tudo em uma mesma categoria de título. Diversificar também é importante para lucrar independentemente do momento econômico. Então, divida o montante separado para a renda fixa em três blocos:
- ½ em títulos pós-fixados, como o Tesouro Selic
- ½ em títulos indexados, como o Tesouro IPCA+: aqui o investidor precisa também fazer uma nova divisão, comprando um título mais curto e um mais longo, como o Tesouro IPCA+ 2035, 2045 ou 2050
- ½ em pré-fixados, que também podem ser quebrados em duas posições iguais: um curto e um mais longo
2 – Do capital restante, coloque 30% na Bolsa
Aqui é o ponto sensível: montar uma carteira diversificada de ações não é uma tarefa fácil. Exige muita análise das empresas, riscos, potencial de retorno e etc. Para o investidor iniciante, a dica é investir em ETFs, ou seja, fundos que buscam replicar o comportamento de determinado indicador e são comercializados na forma de papéis na B3.
De acordo com Miranda, o conselho é aplicar 70% do capital separado para a Bolsa em BOVV11, ETF que replica o comportamento do Ibovespa (principal índice de ações da Bolsa), e 30% em SMALL11, ETF que replica o comportamento da carteira composta por Small Caps (empresas de baixa capitalização, que não fazem parte do Ibov).
Dessa forma, você vai conseguir os mesmos retornos do Ibovespa e de empresas de fora do indicador, sem ter que comprar ação por ação.
3 – Invista 10% do capital em fundos imobiliários
É importante também sempre investir em ativos descorrelacionados à Bolsa, para diminuir os riscos do seu portfólio. Isso significa que você precisa ter uma parte do seu capital em aplicações que não vão necessariamente entrar em queda se as ações da B3 caírem. Para Miranda, uma das saídas é investir em fundos imobiliários, como VISC11 e BRCR11.
4 – Aplique 10% em ativos de proteção
Para fechar o combo de diminuição de riscos, Miranda aconselha investir os 10% restantes em ativos que iram te proteger caso ‘tudo dê errado’. Segundo o estrategista-chefe, desse montante restante, 6% deve ir para fundos cambiais de dólar e 4% para investimentos em ouro.
Em termos gerais, quando o País está em crise e a Bolsa está caindo, o dólar e o ouro disparam, com os investidores buscando proteção em moedas fortes. De certa forma, uma parte do seu portfólio estará protegido. Em 2020, por exemplo, o dólar disparou 23,36% por conta da pandemia do coronavírus, que derrubou as bolsas mundiais. O ouro também foi campeão de retorno no ano passado, com 49,19% de valorização.
Perspectivas para 2021
Além das dicas para montar um portfólio balanceado e diversificado, o investidor deve ter em mente as perspectivas para o esperado ano de 2021, que vem com a esperança de término da pandemia devido à vacinação.
Publicidade
No relatório ‘Ideias para 2021: uma fênix ressurgindo das cinzas’, da Empiricus, alguns pontos são levantados como importantes para os próximos 10 meses do ano. O primeiro deles é o ‘novo normal’ dos Bancos Centrais ao redor do mundo.
“O novo normal dos bancos centrais são as baixas taxas de juros, os programas de injeção de capital e o consequente alto endividamento, e isso deve continuar permeando a retomada em 2021, permitindo que o pós-crise seja menos doloroso do que foi 2020”, explica o relatório.
Em relação a setores da economia, o segmento de serviços deve se destacar com a diminuição das restrições à circulação por conta do avanço das vacinas. Com a retomada do setor, a criação de empregos também deve dar um salto, uma vez que esta categoria é responsável por 70% das vagas no País.
As commodities também devem se beneficiar em 2021 com as boas perspectivas para os países emergentes. “Os emergentes irão bem porque as commodities se valorizaram ou as commodities se valorizarão porque os emergentes foram bem? É quase como um paradoxo de Ouroboros, a serpente que devora a própria cauda infinitamente. De maneira similar, o movimento aqui também é cíclico”, afirma a Empiricus.
Publicidade
Entretanto, haverá desafios, principalmente no cenário doméstico. De acordo com a Empiricus, o resultado da Bolsa brasileira dependerá de seriedade e rapidez com que a agenda de reformas será tocada.
“As reformas são mandatórias para colocar a situação fiscal do Brasil em uma trajetória razoável aos olhos do mundo e dos investidores, contribuindo tanto para as posições em juro longo e inflação como para cases com duration [sensibilidade do preço de um título às oscilações da taxa de juros] mais extenso, como aqueles ligados à infraestrutura”, explica a Empiricus. “Neste sentido, podemos ter notícias que afetem positivamente empresas como Eneva e Cosan e posições em inflação de longo prazo (NTNs).”