Quase metade dos estudantes do ensino médio já apostou bets online. Foto: AdobeStock
Quase metade dos estudantes do ensino médio já apostou em plataformas de bets online e o resultado disso vai além do dinheiro perdido em jogos. É o que revela o relatório “Impactos Simulados do Comportamento Financeiro dos Estudantes”, desenvolvido pela Tindin Educação em parceria com o Tesouro Direto, a B3 e a aceleradora Artemisia.
Com base em um simulador de vida financeira (https://ojogodoinvestidor.com.br/index.html), aplicado em forma de torneio com mais de 2 mil estudantes de todo o país, a pesquisa mostrou que jovens com propensão a apostar acumularam até 7,6 vezes menos patrimônio e tiveram desempenho 3,5 vezes inferior nas simulações financeiras do joguinho, mesmo em um ambiente virtual em que não era possível efetuar apostas.
Segundo Eduardo Schröder, CEO e fundador da Tindin, o objetivo foi testar se os efeitos das apostas ultrapassam os prejuízos imediatos e os resultados são alarmantes, na opinião dele. “Os apostadores tiveram maior dificuldade em tomar boas decisões financeiras, mesmo em um mundo sem a tentação do jogo de azar. De alguma forma, o vício em si altera o mindset do individuo de forma a perpetuar um ciclo de pobreza”, comenta.
Para o fundador da Tindin, o maior problema é que família e escola ainda não sabem como lidar com esse fenômeno, mas ele defende a educação financeira como ferramenta preventiva. “Essa é uma das poucas formas de combater este problema, no entanto, ela funciona mais como uma espécie de vacina do que remédio”.
Tesouro Direto é pouco conhecido
O relatório também revelou que apenas 31% dos estudantes sabiam o que é o Tesouro Direto, um dos instrumentos mais seguros e acessíveis de investimento no Brasil. Não por acaso, esse grupo teve desempenho até 5,5 vezes superior nas simulações de acumulação de patrimônio, demonstrando ainda mais resiliência e realização pessoal.
A grande maioria, no entanto, 64%, não sabia dizer o que era a ferramenta de investimentos. Schröder destaca que o desconhecimento está longe de ser casual. Para ele, isso é reflexo de um problema estrutural no país, identificado há mais de uma década pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
São quatro impactos causados pela ausência de educação financeira desde a infância: incapacidade de lidar com riscos, propensão ao endividamento descontrolado, falta de cuidados com a própria saúde e ausência de planejamento com a velhice. “Qualquer semelhança com o cenário que estamos enfrentando hoje, no Brasil, não é mera coincidência. Infelizmente é resultado histórico da falta ou insuficiência das políticas públicas de educação financeira.”
O executivo aponta que houve avanços nos últimos anos, mas alerta para a subutilização dessas iniciativas nas escolas. “A própria inclusão do Educação Financeira de forma transversal na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi uma grande conquista. No entanto, como tema transversal, o assunto tem sido sistematicamente negligenciado por escolas públicas e privadas”, diz.
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Na sua visão, o fato de a Educação Financeira não ser uma disciplina obrigatória – e, por isso, não contar com um currículo capaz de aprofundar conceitos práticos como poupança e investimentos – é uma das principais razões para que tão poucos estudantes conheçam o Tesouro Direto.
Pequenos passos
O estudo também mostrou que jovens que compreendem a diferença entre poupar e investir têm desempenho até 3,5 vezes melhor na acumulação de patrimônio, além de tomar decisões mais assertivas. “É um erro comum pensar que crianças não podem compreender conceitos como poupar e investir”, diz Schröder.
Várias iniciativas buscam popularizar os investimentos entre os jovens. As fintechs têm democratizado o acesso e iniciativas como a conversão de títulos do Tesouro em gift cards, também ajudam, além das experiências gamificadas e exemplo do próprio “O Jogo do Investidor” cujas inscrições gratuitas ainda estão abertas até final de junho, e vão distribuir gift cards para mais de 1000 estudantes, e nas Olimpíadas do Tesouro Direto de Educação Financeira (Olitef). “Essas experiências mostram na prática que é possível começar a investir com pequenos valores e, com disciplina e bons hábitos, esses valores vão alimentar um ciclo de riqueza”, diz. .