Entenda as projeções do Bank of America sobre Banco do Brasil (Foto: Adobe Stock)
O segundo trimestre deste ano (2T25) do Banco do Brasil (BBAS3) levantou dúvidas sobre a rentabilidade e a qualidade da carteira de crédito da estatal que o investidor vai levar até o balanço do terceiro trimestre deste ano (3T25), a ser divulgado em novembro. Com indicadores financeiros considerados problemáticos, a questão que fica é se o banco conseguirá dar a volta por cima nos próximos meses diante do aumento da inadimplência, das provisões elevadas e do crescimento das despesas administrativas.
O lucro líquido ajustado do Banco do Brasil no 2T25 caiu para R$ 3,8 bilhões, uma retração de 60% em relação ao mesmo trimestre de 2024. O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE), indicador que mede quanto do capital dos acionistas está sendo convertido em lucro, atingiu 8,4%, o menor nível desde 2000. Um ano antes, o indicador marcou 21,6%. No trimestre passado, porém, foi para 16,7%.
Apesar da queda nos lucros, as ações do Banco do Brasil mantêm forte relevância na B3, com grande volume de negociações diárias. Em maio deste ano, o BBAS3 superou o Itaú Unibanco (ITUB3; ITUB4) e a mineradora Vale (VALE3) em negociações, ficando atrás apenas da Petrobras (PETR3; PETR4), segundo dados de mercado.
No fechamento de sexta-feira (15), o dia seguinte à divulgação do balanço do 2T25, os ativos registraram alta de 4,03%, a R$ 20,65; na segunda-feira (18), as ações subiram 1,31%, a R$ 20,91.
O que está acontecendo com o Banco do Brasil?
Analistas consultados pela reportagem apontam que o principal fator que pressionou o lucro foi o aumento das provisões para devedores duvidosos (PDD), destinadas a cobrir empréstimos com risco de inadimplência.
A deterioração da carteira de crédito, especialmente no agronegócio, e a Resolução 4.966 do Conselho Monetário Nacional (CMN), que antecipou perdas futuras, elevaram as provisões do Banco do Brasil em cerca de 80% em relação ao mesmo período de 2024, retirando quase R$ 14 bilhões do resultado do banco.
O agronegócio representa cerca de 30% da carteira de crédito do banco e enfrenta níveis recordes de inadimplência. Dados do Banco Central (BC) mostram que atrasos superiores a 90 dias atingiram 3,5%, enquanto pagamentos em atraso entre 15 e 90 dias chegaram a 2,9%. A carteira de crédito para pessoas físicas teve crescimento de aproximadamente 8%, conferindo maior diversificação em relação ao perfil histórico do banco, que concentra maior risco em empresas.
Além disso, as despesas administrativas tiveram aumento, com 70% representando gastos com pessoal, o que também pressionou os resultados. Em função desses fatores, o banco revisou suas projeções de lucro líquido ajustado para este ano, agora estimadas entre R$ 21 bilhões e R$ 25 bilhões, abaixo das previsões anteriores de R$ 37 bilhões a R$ 41 bilhões.
Trator faz pulverização em plantação; agronegócio sofre com queda dos preços das commodities e alta dos custos dos insumos. (Imagem: Dusan Kostic em Adobe Stock)
Pontos de atenção para o investidor de BBAS3
Para Felipe Manara, economista e CEO da Stoic Capital, a grande dúvida que fica para o investidor depois da divulgação dos resultados é como o Banco do Brasil vai reverter o cenário.
“Por mais que o guidance (projeções) tenha sido revisado, não há clareza de como o banco vai conseguir sair dessa. Isso se torna ainda mais relevante por se tratar de um banco estatal, em que o custo com pessoal é menos flexível, ou seja, não é possível reduzir despesas e expandir a operação na mesma velocidade de um banco privado. Tivemos um dos maiores aumentos nas despesas de pessoal”, diz.
“A principal questão, então, é como o banco vai operacionalizar um turnaround (reorganização) nesse contexto e se vai alterar sua política de crédito, apertando ou não as condições para clientes”, completa o CEO da Stoic Capital.
O guidance atualizado apresentado com o balanço indica metas de lucro menores – entre R$ 21 bilhões e R$ 25 bilhões para 2025 – ante a projeção anterior e crescimento de carteira reduzido, por exemplo, expansão de 3% a 6% no agronegócio.
Os investidores vão observar se o banco manterá esse tom conservador ou se sinalizará ajustes adicionais, especialmente na política de dividendos, após o banco anunciar a redução da projeção de payout de 40% para 30% neste ano. Investidores também devem acompanhar de perto como a redução do payout pode afetar a atratividade da ação, se o banco manterá essa política nos próximos trimestres ou retomará os prêmios de risco caso o mercado se estabilize.
Na mesma linha, Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, diz que o lucro ajustado abaixo do consenso, as provisões elevadas mantidas e o recuo na política de dividendos do BB indicam que o banco enfrenta pressão sobre os resultados e busca preservar capital.
“Será preciso que o banco esclareça, nos próximos meses, se há espaço para reverter a deterioração da carteira rural, aliviar o custo de crédito e recuperar margens sem comprometer o cumprimento das metas revisadas”, afirma.
No próximo balanço, do terceiro trimestre de 2025 (3T25), o foco dos investidores deve recair sobre a qualidade da carteira de crédito e as novas projeções da administração do Banco do Brasil, segundo Leonardo Andreoli, analista da Hike Capital. O acompanhamento da evolução da inadimplência em julho e agosto, diz ele, será fundamental para avaliar se há melhora nos calotes após o pico da safra 2024 e 2025.
Ele lembra que a inadimplência no agro já atingiu níveis recordes, como 3,5% em empréstimos acima de 90 dias no setor agro, e projeta que seguirá elevada, o que exigirá provisões ainda altas.
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Além disso, fatores macroeconômicos e a concorrência privada terão papel relevante. Com juros elevados, a performance das carteiras de pessoas jurídicas, incluindo pequenas e médias empresas, e de pessoas físicas, assim como o ritmo de expansão do setor, vão influenciar os resultados de curto prazo.
Recomendação, riscos e projeções
Bruna Centeno, economista na Blue3 Investimentos, afirma que a deterioração da carteira do agronegócio, somada ao crescimento dos pedidos de recuperação judicial no setor, contribuiu para cortes nas estimativas de lucro feitos por corretoras e casas de análise. Esse movimento é especialmente preocupante em um contexto de incertezas comerciais, tarifas internacionais e pressão sobre as exportações brasileiras.
O Goldman Sachs revisou para baixo suas estimativas de lucro líquido recorrente para o Banco do Brasil (BBAS3), projetando R$ 19,7 bilhões neste ano, queda de 42% seguida de recuperação gradual em 2026 e 2027. (Foto: Goldman Sachs/Divulgação)
É o caso do Goldman Sachs, que mantém recomendação neutra e reduziu o preço-alvo para R$ 20 em 12 meses, ante R$ 23, com base no Dividend Discount Model (DDM), que calcula o valor da ação considerando dividendos futuros descontados pelo custo sobre patrimônio (COE) de 15,9%.
A instituição revisou para baixo suas estimativas de lucro líquido recorrente, projetando R$ 19,7 bilhões neste ano, uma queda de 42% seguida de recuperação gradual em 2026 e 2027, com ROE de 11,9% e 12,8%, respectivamente.
Entre os riscos para baixa, o Goldman Sachs aponta deterioração maior que o esperado nos empréstimos rurais, juros mais altos e cenário macroeconômico com mais entraves, enquanto a alta dependeria de recomposição da carteira de crédito a taxas elevadas, preços melhores de commodities e safra favorável.
O Bradesco BBI também revisou projeções, estimando lucro líquido de R$ 21 bilhões em 2025 e R$ 26 bilhões em 2026, após incorporar resultados do 2T25. O banco manteve classificação neutra e preço-alvo inalterado de R$ 21 para 2026. Os analistas do BBI observam recuperação da Margem Financeira Bruta (MFB), mas mantém a recomendação cautelosa diante da ausência de sinais claros de melhora operacional.
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O Morgan Stanley adota postura mais otimista, classificando Banco do Brasil (BBAS3) como overweight, ou seja, com exposição acima da média em relação ao índice, e fixando preço-alvo em R$ 39. Resta ao investidor, agora, aguardar os números do balanço do 3T25.