As ações da São Martinho (SMTO3) caíram quase 20% em outubro, liderando as perdas do Ibovespa após rebaixamento de recomendação e pressão nos preços do açúcar e do etanol. (Imagem: Adobe Stock)
Outubro não foi gentil com a São Martinho (SMTO3). Pressionada pela queda nos preços do açúcar e do etanol, a companhia encerrou o período com desvalorização próxima de 20%, o pior desempenho entre os 82 papéis que compõem o Ibovespa. Nesta sexta-feira (31), por volta das 15h40, as ações subiam 0,21% a R$ 14,05.
A derrocada do papel é resultado de uma convergência de riscos que atingiu em cheio o setor sucroenergético. No início do mês, o Bank of America (BofA) rebaixou a recomendação da ação de compra para neutra e reduziu o preço-alvo de R$ 27 para R$ 20,50 — corte de 24% — citando falta de catalisadores e risco de continuidade na queda dos preços do açúcar. O Citi seguiu na mesma direção, ajustando seu preço-alvo também para R$ 20,50.
No mercado global, o açúcar bruto negociado na Bolsa de Nova York atingiu o menor nível em quase cinco anos, em meio à reversão das expectativas de déficit para superávit global. A consultoria Datagro prevê um excedente de 1,98 milhão de toneladas na safra 2025/26, contra déficit de 5 milhões na anterior. A pressão é agravada por temores de que medicamentos à base de GLP-1, usados para perda de peso, reduzam a demanda por açúcar no longo prazo.
No Brasil, o quadro também piorou com a intervenção do governo nos preços dos combustíveis, que reduziu a gasolina e, por consequência, derrubou o preço do etanol — limitando a margem de manobra da companhia. Além disso, o avanço do etanol de milho, cuja produção deve crescer 11% na safra 2026/27, aumenta a concorrência estrutural no mercado doméstico.
Mesmo com a queda expressiva, algumas casas, como a XP Investimentos, mantêm recomendação de compra, enxergando desconto relevante no papel após o tombo. A corretora, porém, projeta um lucro líquido 52% menor no 2T26, sinalizando que o impacto da crise já se reflete nos resultados.
A São Martinho (SMTO3) ainda é vista como uma das produtoras mais eficientes do setor e mantém alavancagem sob controle, com Dívida Líquida/EBITDA de 1,4x. Mas, em meio à “falta de gentileza” de outubro, a leitura do mercado é: o curto prazo segue desafiador, e a recuperação vai depender da estabilização dos preços das commodities e da dissipação dos riscos regulatórios.