- O jejum de quase 10 anos sem novos players do segmento de petróleo foi quebrado justamente pela 3R Petroleum, que realizou o IPO em novembro de 2020
- Os planos da empresa envolviam a compra e revitalização de campos maduros, aqueles próximos ao fim da vida útil, postos à venda pela Petrobras
- Logo de cara, o novo player levantou certa desconfiança em parte do mercado. A 3R Petroleum é fruto da junção da 3R com a Ouro Preto, que só foi consumada após a abertura de capital
A OGX, atual Dommo Energia (DMMO3), ainda é uma lembrança vívida na mente do mercado financeiro. A petroleira de Eike Batista entrou na Bolsa em meados de 2008, sem histórico de atividade, mas com grandes promessas que não se realizaram. Uma delas era ser uma consolidadora no setor de petróleo no Brasil, tal qual a Petrobras. No final, o conglomerado do ex-bilionário afundou e lesou milhares de investidores.
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Após o trauma com a OGX, a companhia do setor de petróleo e gás Queiroz Galvão, atual Enauta, entrou na B3 em 2011. O jejum de quase 10 anos sem novos players do segmento foi quebrado justamente pela 3R Petroleum (RRRP3), que realizou o IPO em novembro de 2020 e captou R$ 690 milhões.
Os planos da empresa envolviam a compra e revitalização de campos maduros, aqueles próximos ao fim da vida útil, postos à venda pela Petrobras (que segue uma estratégia de desinvestimentos).
Cautela e perspectivas
O novo player levantou certa desconfiança em parte do mercado. A 3R Petroleum é fruto da junção da 3R com a Ouro Preto, que só foi consumada após a abertura de capital. “A criação da 3R foi condicionada à realização do IPO. Foi criada para ser vendida ao mercado”, afirmou Bruce Barbosa, sócio-fundador da Nord Research, em artigo escrito em março deste ano.
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Barbosa lembrou que o modelo de revitalização de campos maduros é o caminho de sucesso adotado pela PetroRio, empresa que nasceu em 2008 sob o nome de HRT Petróleo. Contudo, até o IPO, a 3R ainda não tinha resultados efetivos, já que contava com apenas quatro campos no portfólio. “Um projeto de PowerPoint foi criado para ser vendido ao mercado. Você se lembra disso?”, ressaltou, fazendo alusão ao modo que Eike Batista apresentava as metas das empresas do grupo EBX.
Apesar das metas ambiciosas e um planejamento bem traçado, a falta de histórico consistente seria, até então, um risco muito grande aos investidores interessados na 3R Petroleum. Em março deste ano, a avaliação de Barbosa foi de cautela em relação ao ativo. “3R quer sair de uma produção total de 5 mil barris em 2020 para uma produção de mais de 35 mil barris em 2026. Tudo isso com margens altas e saudáveis, custo de extração reduzido e Ebitda crescente. Pode dar certo? Pode”, afirma. “Mas ainda precisa de um pouco de arroz com feijão. Nós, zelosos que somos pelo seu rico dinheirinho, preferimos pecar pelo conservadorismo (e pelo preço baixo).”
O olhar mais cético, entretanto, não foi unanimidade. A XP por exemplo, iniciou a cobertura do papel em janeiro deste ano, com recomendação de compra. A instituição financeira frisou ainda que a 3R Petroleum estava longe de ter uma tese de investimentos parecida com outras companhias de petróleo e gás que foram ‘mal-sucedidas’ no passado.
“O motivo é que a companhia já possuí campos de petróleo em operação e proporcionando geração de caixa desde já, sendo seu foco elevar a produtividade destes ativos por meio de técnicas de recuperação de produção. Tal escopo é totalmente distinto de outras histórias de empresas de óleo e gás do passado que incorriam em riscos exploratórios – ou seja, de identificar reservatórios de petróleo que sejam economicamente viáveis de serem explorados, sendo que no meio tempo em que tais reservas não eram encontradas havia queima de caixa”, afirmaram os analistas da XP em relatório.
Crescimento rápido
Com poucos meses de Bolsa, muita água rolou em relação à 3R Petroleum. Em abril, menos de seis meses após a abertura de capital, a companhia captou R$ 820 milhões em follow on (oferta pública de ações subsequente) e viu o valor de mercado saltar para mais de R$ 5 bilhões. Desde o IPO até o fechamento da última quarta-feira (7), os papéis estão em alta de 120%, passando do patamar de R$ 20 para os atuais R$ 47,01.
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“A gradativa valorização da Companhia desde o IPO, aliada à conclusão do follow-on, impulsionou o aumento na liquidez das ações da 3R nos primeiros meses de 2021, colocando a Companhia no foco de investidores com maior capacidade financeira. A oferta atraiu o interesse de relevantes fundos de investimento e gestoras de patrimônios familiares (family offices), com estrangeiros respondendo por mais de 30% da demanda”, explica a 3R em relatório de resultados.
A empresa também fez aquisições importantes, como os polos de exploração Recôncavo e Peroá, anteriormente pertencentes a Petrobras, além da aquisição da Duna Energia, detentora e operadora dos campos de produção onshore de Ponta do Mel e Redonda, e a parceria com a DBO na busca por ‘oportunidades de aquisição de ativos offshore em fase de desenvolvimento de produção no Brasil.’
No primeiro trimestre de 2021, os ativos adquiridos pela petroleira, inclusive aqueles em fase de transição, produziram juntos uma média diária total de 19,2 mil barris de óleo equivalente, sendo 17 mil barris referentes a participação da 3R nos ativos. “Macau, o único ativo (100%) operado pela Companhia até o fechamento do 1T21, foi responsável por aproximadamente 29,4% da produção total dos 6 ativos ou 5.777 barris de óleo equivalente por dia em março de 2021”, explica a empresa.
É importante ressaltar que, em maio de 2020, quando a 3R assumiu o Polo Macau, a produção era bem menor, de 3.795 barris por dia. A evolução foi o suficiente para o BTG Pactual reafirmar a recomendação de compra e elevar o preço-alvo para R$ 80, o que representa uma alta de 70% em relação à cotação atual.
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“Estamos elevando nossas estimativas, refletindo agora as aquisições de Duna e Peroá”, diz o banco, em relatório. “E com três clusters adicionais a serem operados em breve pela 3R, a possibilidade de novas fusões e aquisições e bons fundamentos do petróleo oferecem um ponto de entrada muito atraente.”
A Eleven também tem recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 51, em um upside de 8,5% em relação ao preço atual. A casa ressalta o bom resultado operacional apresentado no 1º trimestre de 2021, com destaque para a eficiência do Polo Macau.
Nem OGX, nem PetroRio
De fato, a 3R Petroleum está longe de ser a OGX, que demorou anos para extrair petróleo e quando conseguiu o fez em níveis incipientes. Entretanto, também não se trataria de uma nova PetroRio, que já tem um histórico consistente de produção. Segundo Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, as diferenças são muito claras. “A 3R foi formada para se aproveitar do movimento de desinvestimentos da Petrobras, com um time experiente, que é da indústria e tem o objetivo de prolongar a vida útil de campos maduros não mais aproveitados pela estatal”, afirma. “Eles têm um foco muito claro.”
De acordo com Arbetman, a exploração de campos de pré-sal feita pela Petrobras e iniciado pela PetroRio, com a aquisição do campo de Wahoo, é uma atividade de maior risco, mas que também possui um potencial muito grande.“No caso da 3R a estrutura é bem mais simples, formada por campos mais velhos, maduros, com previsibilidade maior, em que a função da companhia é prolongar a produção.”
Procurada, a 3R Petroleum informou que está em período de silêncio e não iria se manifestar.
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