- Segundo Rodrigo Wainberg, analista de investimentos da Suno Research, e Mauro Morelli, estrategista chefe da Davos Investimentos, a depreciação no preço das ações também pode ser determinante no fechamento de capital
- As ações da Cielo encerraram cotadas a R$ 2,78 nesta quarta-feira (1º), queda de 3,13%, renovando a mínima histórica, de R$ 2,85. Só neste ano, as ações da companhia já acumulam perdas de 29,3%
- Conforme divulgado pelo E-Investidor, as motivações da empresa estariam atreladas aos descontos observados em seus papéis, que deixaram de refletir o valor atual da companhia. Neste ano, as ações da companhia já acumulam perdas de -13,4%
Nas últimas semanas vieram à tona rumores sobre o fechamento de capital de duas grandes empresas: Minerva (BEEF3) e Cielo (CIEL3). As motivações para a saída da bolsa de valores são diversas, mas o investidor precisa estar atento a alguns sinais que ajudam a indicar quando a companhia vai adotar esta postura. Entre eles, vale observar o quanto é pago de dividendos aos acionistas e a depreciação no preço das ações.
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Os rumores, embora negados pelas duas empresas, movimentaram o mercado. No dia que as informações circularam, os papéis da Minerva dispararam 15%, cotados a R$ 9,94. Já os da Cielo foram cotados a R$ 2,85, o menor valor histórico da companhia.
Independentemente das razões que motivam as empresas a cancelar o registro de companhia aberta, é possível notar aspectos comuns entre elas, como um “maior fluxo de caixa, menor nível de distribuição de dividendos e menor retorno sobre ativos. Além disso, geralmente são empresas de menor porte e com menor nível de alavancagem financeira”, aponta o artigo de Marco Tulio Clivati Padilhade, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
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De acordo com a sócia da HCI Invest, Fernanda Melo, quando a empresa possui uma forte geração de caixa e baixa expectativa de crescimento, ela tende a reter os recursos e não distribuir aos acionistas. Por isso, eventualmente, a empresa pode decidir fechar o capital se entender que não faz mais sentido continuar com o capital aberto. Segundo ela, a distribuição dos dividendos é um fator importante a ser observado.
Em 2018, a Cielo, empresa de serviços financeiros controlada pelo Bradesco (BBDC4) e o Banco do Brasil (BBAS3), pagou R$ 3,5 bilhões em proventos. Desse total, R$ 2,8 bilhões eram de dividendos. De lá pra cá, os repasses em dividendos foram reduzidos drasticamente: em 2019, a empresa anunciou que reduziria o pagamento de proventos de 70% para 30% dos lucros.
Em 2019, a empresa pagou R$ 224,2 milhões em dividendos e o valor por ação foi de R$ 1,0572. Em 2020, o montante caiu para R$ 14,9 milhões e o valor por ação foi de R$ 0,0055. Neste ano, a empresa não realizou o pagamento de dividendos.
Segundo Rodrigo Wainberg, analista de investimentos da Suno Research, e Mauro Morelli, estrategista-chefe da Davos Investimentos, a depreciação no preço das ações também pode ser determinante nesse movimento. “Muitas vezes o acionista majoritário entende que a empresa vale mais do que está sendo negociada na Bolsa e então decidi fechar o capital”, diz Morelli.
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As ações da Cielo encerraram cotadas a R$ 2,78 nesta quarta-feira (1º), queda de 3,13%, renovando a mínima histórica, de R$ 2,85. Só neste ano, as ações da companhia já acumulam perdas de 29,3%.
A Minerva, no entanto, segue na contramão em relação aos dividendos. A empresa realizou sua maior distribuição neste ano com valor recorde de R$ 542 milhões, R$ 1,03 por ação. Conforme divulgado pelo E-Investidor, as motivações da empresa estariam atreladas aos descontos observados em seus papéis, que deixaram de refletir o valor atual da companhia. Neste ano, as ações da companhia já acumulam perdas de -13,4%.
As ações da Minerva encerraram a quarta-feira em queda de 1,67%, cotadas a R$ 8,22. No dia que os ruídos sobre o fechamento de capital circularam, as ações fecharam em alta de 15%, cotadas a R$ 9,94. A alta no preço estaria atrelada ao valor de recompra das ações, na faixa de R$ 12, cerca de 37% acima da faixa que a companhia vem desempenhando, o que garantiria um prêmio significativo aos acionistas.
Do começo de 2020 até agosto deste ano, quatro empresas fecharam o capital, segundo dados da B3. Estão nessa lista: Santher, Nadir Figueiredo, Elekeiroz e BV Leasing. Em 2019, esse número foi maior: dez empresas cancelaram seus registros de companhia aberta. Embora a busca pelos IPOs esteja aquecida e o número de entradas seja maior que o de saídas, os ruídos da Minerva e Cielo chamam atenção para o movimento.
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Segundo os especialistas consultados pelo E-Investidor, a decisão de fechar o capital também pode estar atrelada a aspectos de ordem societária, financeira, devido ao alto custo de manter a empresa listada, ou ainda, estratégica, no caso de negociações que envolva fusões e aquisições.
A boa notícia é que atualmente o anúncio de fechamento de capital não representa tantos prejuízos aos investidores. De acordo com o professor de Direito da FGV Rio, Márcio Guimarães, antes de fechar o capital, a companhia realiza a Oferta Pública de Ações (OPA), mecanismo no qual compra as ações dos acionistas minoritários após definição do preço justo.
A definição do preço é realizada por empresa independente e considera o preço médio das ações nos últimos doze meses, o valor da companhia e o valor do patrimônio líquido por ação. Devido a esses fatores, o preço pode ser maior ou menor do que a cotação na Bolsa.
Caso mais de 10% não concordem com o preço justo, os acionistas podem reivindicar uma nova avaliação. “É aconselhável que o acionista minoritário aceite o preço justo proposto na OPA porque na grande maioria das vezes o valor é superior ao preço negociado nos últimos pregões”, comenta Morelli.
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